Something About Ocean 2: Coração Ferido

3 - Dentro dos Teus Olhos

Os sapatos pretos lustrados bateram contra a poeira do chão, elevando alguns grão de areia que por algum motivo, não se atreveram a sujar o calçado. Sky desceu do seu Maybach Exelero era um carro de estilo único, uma mistura de clássico e esportivo, com duas portas para os quatro assentos, e um design comprido a combinar com a cor preta e brilhante. Parecia tirado de algum filme de super-heróis, pelo modelo distinto e chamativo. Certo para quem exalava um poder monetário exorbitante.

Arranjou o casaco fazendo um movimento circular com os ombros, e caminhou pela entrada que revelava a estrada de pedras batidas e bem organizadas, passando pela cancela principal da área 31. Ao longe guindastes enormes se moviam pelos céus de um lado para o outro, confirmando o trabalho incessável daquele lugar.

— Hum! Hum! — Uma voz irritante tossicou ao lado dele, correndo para acompanhar os passos. O cabelo afro em evidência e a altura um pouco elevada chamavam a atenção da jornalista. — Posso acompanha-lo?

— O que faz aqui? — Ocean a encarou de lado, se sentindo tenso por dentro mas sem demonstrar. Era impossível ver aquela mulher e não demonstrar um incómodo.

— O mesmo que o senhor, eu acho. Trabalhar? — Janine trazia uma mala de ombro, e um longo microfone e gravador na mão. Exibiu o crachá de autorização de entrada e esboçou um sorrisinho irritante.

— E posso saber quem a chamou? — A voz saía quase monocórdica, sem muitos sinais que indicassem alguma fúria iminente. Mas os olhos adquiriam um estranho tom esverdeado musgo, porque era dentro deles que moravam as expressões.

— Creio que não vai demorar muito a saber. — Apontou para o edifício do município, composto pela maior parte de organizações do estado necessárias para o funcionamento da futura vila.

Ocean colocou a mão dentro dos bolsos, observando as nuvens brancas que corriam pelo céu azul, fugindo de um passado verão não mais bem-vindo naquela época do ano, se despedindo dos dias ensolarados e dando lugar aos prenunciados meses de um intenso inverno.

— Me diga, senhor Sky. — Keating voltou a cortar o ambiente que o presidente da GaSky tanto apreciava. — Como é chegar dentro de um dos cinco carros mais caros do mundo? Sendo que adentra num projeto que já foi medíocre?

A jornalista aguardou para ver alguma das reações costumeiras de Sky, uma resposta rude ou mesmo as linhas faciais se contraírem em indignação, mas foi surpreendida por um estranho mover dos lábios numa curvatura para cima, ao de leve, declarando um suave sorriso escárnio.

— Algo que pessoas como você, certamente jamais irão saber. — Continuou a caminhada em passos cadenciados, num ritmo quase coreografado, sendo escoltado ao de longe pelos guarda-costas que sabiam o quanto o presidente da GaSky detestava ser seguido de perto como moscas perseguem o lixo. — Mas se quiser um dia, lhe empresto as chaves.

Janine arqueou as sobrancelhas, o batom vermelho dos lábios carnudos se destacavam na pele negra bastante clara. Se limitando ao silêncio até atingirem os degraus de mármore cinzento, e adentrarem no saguão principal da edificação. Era todo ele sóbrio, com várias portas e sectores. As mobílias amadeiradas lustrosas ajudavam num falso requinte, ao mesmo tempo em que os ar-condicionado gelavam cada corredor por onde seguiam, a maioria de aspeto impessoal, com paredes brancas e nenhum enfeite a não ser um grande quadro do presidente da república do país.

— [...] Estamos priorizando nesta fase, o centro de saúde optando pela avançada técnica de trabalho e especialistas das demais áreas, escolas, água potável, energia e aquecimentos, assim como postos de trabalhos. — Mikael estava diante dos colaboradores, e dos representantes do sindicato do bairro da área 31. A camisa azul dobrada até ao cotovelo, uns óculos de vista que lhe conferiam certo charme e a forma única como mexia as mãos ao falar, passando veracidade primeiro pelos gestos e só depois pelas palavras.