Something About Ocean 2: Coração Ferido

14 - Liberdade

Ocean andou as rodas dentro do banheiro, levando as mãos para o cabelo dourado e a sentir a raiva dentro de si mesmo. Não queria ter brigado com Amelie, não naquele dia que estavam tão felizes. Não depois de tudo o que tinha feito para tê-la plenamente sua, a tinha despido como quando o céu nublado se desfaz das nuvens carregadas, libertando o lindo Sol.

Entrou no chuveiro, e sentiu a água quente passear por sua pele feia, que gargalhava em silêncio por tamanha imperfeição. Era assim que sentia suas marcas, quando passava o gel de banho, e sentia a textura incongruente que manchava cada pedaço seu. Como queria poder rasgar aquela pele, e poder se vestir de outra. Algo que nem todo o dinheiro do mundo ainda tinha conseguido regenerar. Não tinha nenhuma volta a dar, não enquanto a medicina não descobrisse outra forma de o livrar de tamanho tormento.

Bateu com o punho nos azulejos da box, e depois repousou a testa quente neles, sentindo o contraste do pedaço frio. E se deixou ficar ali, em silêncio, sentindo a impotência envergonhar seu peito. Amelie o amava de cima a baixo, sem excepções. E quando os corpos se uniam, era da pele escura que ele se vestia, tão perfeita, com traços de mulher que sabia que o tempo a perseguiria, mas que o amor a iria manter. Era brilho o que via naqueles olhos castanhos, como raios de Sol a perfurarem as nuvens cinzentas. Ela era o seu Sol.

Quando encontrou o fato de banho dentro do guarda-roupa da suite do Iate, soube que estaria a engaiolar a última coisa que lhe faltava libertar. Tinha vencido o seu preconceito, e aceitado que podia ser feliz. Respirou fundo, e começou a procurar na sua gaveta até encontrar uma sunga, algo que foi difícil pois fazia anos que não usava uma, e estranhou quando percebeu que só cobria um pouco do seu corpo. Encarou seu corpo diante do espelho, forte e emoldurado pelas horas que passava no ginásio, e pela alimentação restrita e saudável. Quantas foram as vezes que recebeu propostas de revistas para pousar nu? Riu sozinho, afinal a única que teria esse prazer seria, exclusivamente Amelie.

Saiu do quarto decidido, passando pelos empregados que se estacaram ao ver o que se escondia por baixo das roupas, mas Ocean ignorou, subindo as escadas e parou ao sentir os raios de Sol que encontraram sua pele. Fazia tempo que não os sentia tão directamente, e caminhou pela areia até chegar a tenda montada mesmo em frente ao mar.

─ Amelie?

─ Ocean! ─ A surpresa nos olhos dela foi substituída por uma alegria sem fim, e se levantou para o receber em seus braços.

─ Eu disse que faria qualquer coisa para realizar seus desejos. ─ Murmurou, e todo o receio se evaporou, quando sentiu como era apertado junto do corpo feminino.

─ Mesmo que sem saber, você sempre fez tudo. Desde o casaco do vovô. ─ Amelie riu ao lembrar. ─ Mas isto... isto é...

─ Já comeu? Estou louco para sentir o mar sem aquelas roupas todas.

─ Vamos logo! ─ Ela riu quando sentiu Sky a carregar em seu colo, e correr na direcção do mar, onde mergulharam nas águas esverdeadas.

[...] As imagens que estamos a ver são inéditas. Filmadas pelos nossos helicópteros nas Ilhas Graciosas, uma surpreendente revelação sobre o prestigiado empresário da indústria Petrolífera, Ocean Sky, se revela pela primeira vez ao mundo, após o fatídico acidente de seis anos atrás, com a parte frontal do corpo completamente marcada por cicatrizes profundas e nem um pouco aprazíveis. Tiffany King, para a Magazine.

[...] Muitas coisas eram de se esperar sobre o senhor Sky. Principalmente no último ano passado, desde o fim do longo relacionamento com a Socialite Rebecca Stoning, ao apresentar ao mundo uma mulher que estava além do que um dia alguma vez esperamos ver. Afinal, Sky era conhecido como o homem de Coração Frio. Mas as perguntas que não quererem calar? Será por isso que se casou com uma pessoa muito diferente do seu nível? Alguém que o pudesse aceitar sem questioná-lo? Pergunta Aziz Strike para o Canal 1.