9 - Perseverança

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— Mamãe? — Marlon se mexeu dentro dos lençóis, como sempre acordando mais cedo do que devia.

— Sim, meu bem? — Amelie abriu os olhos devagar, preguiçosa demais para se virar. Ultimamente a sua vontade de dormir tinha triplicado ainda mais do que antes, e a cama era o seu novo altar.

— Papai não me ama mais? — Aquela pergunta a encontrou desprevenida, e logo se virou para encontrar o rosto redondo adornado por um tufo de caracóis.

— É claro que ama. — Sentiu um certo pesar ao dizer aquilo.

— Sei não. — O menino não escondeu a tristeza. — Ele sumiu. Eu falava para todos meus amiguinhos que ia ter dois papais, e agora não tenho nenhum. Será que ficava com ciúmes por causa das coisas que o tio Ocean me dava e eu ia mostrar para ele?

Amelie sentiu seu coração minguar, e soltou um esgar entristecido. Como explicar que Mirko tinha passagem pela polícia, registo criminal pelo que tinha feito e que mesmo sem ter sido preso por falta de evidências, seu nome constava na lista de possíveis estupradores? Sem contar com a ordem de restrição, o que obrigava que uma assistente social marcasse visitas monitorizadas, mas ele se negara redondamente pois não aceitava o facto de ter mantido relações contra a vontade dela, e instaurara um processo contra Amelie por difamação. A briga corria na justiça, e mesmo o advogado de renome Conrad Miller que fora contratado por Sky, encontrava dificuldades por falta de evidências do crime cometido.

— É um pouco complicado para entender. — Ela disse. — Você é ainda uma criança.

— Eu quero entender agora, mamãe. Me explica. — Implorou com os olhos cheios de lágrimas, pois sentia falta do seu pai e Amelie entendia, afinal as crianças não eram culpadas do que os adultos faziam.

— Seu pai... ele...

— Tem vergonha de ir naquela escola de luxo não é? Porque não tem carro. Deve ser isso. — Marlon saiu dos cobertores e se sentou como se tivesse encontrado a solução de todos os seus problemas. — Empresta seu carro para ele.

— Não é isso.

— É sim! — O menino se rebelou e saiu da cama com um bico feito com a boca. — Você vai ter outro bebé, e o tio Ocean vai querer cuidar dele. Vão se esquecer de mim, como papai está fazendo.

— Marlon, você é o amor da minha vida. Esquecer de você é o mesmo que não viver mais. — Amelie também saiu da cama, e o carregou ao colo. Já não era fácil pois o menino crescia a olhos vistos. Deu um beijo no seu rosto.

— Promete? — Ele enrolou os bracinhos em torno do pescoço da mãe, mostrando que ali morava sua paz.

— Cruz no coração. — O conduziu até ao banheiro e o colocou no chão, preparando a escova de dentes e enchendo a banheira com água.

— Eu ouvi a Cláudia falando que o tio Ocean e a Rebecca vivem combinando tudo sobre o casamento lá no jardim. Eu queria que fosse você a casar com ele. — Continuou a tagarelar enquanto a mãe lhe tirava o pijama.

O banheiro era enorme, com azulejos azuis e cinzas, e um espelho que ia de uma ponta à outra.

— Na vida as coisas nem sempre correm como nós queremos, e você já tem idade para saber isso. — Respondeu tentando esconder o aperto que sentia ao ouvir sobre o casamento. Por momentos acreditava que Ocean não seria capaz de seguir com aquela ideia absurda até ao fim, mas depois se lembrava que ele cumpria com o que prometia.

— Ué, você disse há pouco tempo que eu era criança para entender certas coisas. — Rematou em cheio e fez questão de olhar bem para a mãe em indagação.

Something About Ocean 2: Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora