V O legado dos deuses

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O dia de Haon amanheceu chuvoso. Abiel acordou cedinho, mais cedo do que se fosse trabalhar e desde então não parou de conferir o guarda-roupas, mas a estrela se manteve lá, quieta o dia todo e no final da tarde, D'Bastian convidou o neto para uma passada n' Os Bons Companheiros.

O local estava praticamente cheio e havia música. O bardo tinha ficado na vila, gozando dos prazeres da taverna em troca de entreter hóspedes e fregueses.

D'Bastian e Abiel sentaram-se em uma das poucas mesas vagas e uma moça veio atendê-los.

— Olá Berta — disse o velho com familiaridade — mas que tempo infernal, hein?

— Nem me fale — ela respondeu com certo ar aborrecido. — Parece que todos resolverem se enfiar aqui hoje.

— Suponho que isso seja bom para os negócios, não?

— Para o Orgol sim, para mim é só mais serviço, mais louça suja, mais bêbados...

— Cadê a cerveja Berta?! — gritou alguém de uma das mesas.

— Já vai! Você não é o único aqui Amoldo— ela revirou os olhos pare eles —  Não disse? Enfim, qual a pedida?

— Você é quem manda — D'Bastian disse para Abiel. — Hoje eu pago e você pede.

— Cerveja, Berta. E pão, e uma porção de carne cozida e....um caldo quente seria bom também.

— O mesmo para mim — D'Bastian ajuntou e a moça saiu apressada, gritando com Amoldo que novamente se queixava da cerveja.

Lá fora a chuva aumentou e as gotas fustigavam as janelas, mas seu barulho não se fazia ouvir acima da balbúrdia dentro do local. Berta voltou com os pedidos algum tempo depois e os dois esvaziaram as canecas, tornaram a enchê-las e comeram com gratidão. A comida quentinha aqueceu o corpo por dentro e por fora.

D'Bastian soltou um suspiro satisfeito e estendeu os braços.

— Esses meus ossos cansados estão reclamando um banho quente.

— Eu te acompanho.

— Fique — o velho se levantou. — Aproveite.

Ele deixou uma moeda de prata sobre a mesa.

— Obrigado, vô.

— Não acostuma — O senhor bateu a mão carinhosamente sobre o ombro dele e caminhou para a saída.

Abiel pediu mais uma rodada. A chuva ainda estava forte quando terminou a bebida, por isso resolveu esperar mais um pouco.

Um grupo de viajantes bem vestidos estavam acompanhados de algumas moças. Bebiam vinho às gargalhadas, um deles falou alguma coisa no ouvido de uma ruiva e a moça lhe deu um tapinha displicente com o dedo indicador na ponta do nariz. Na mesa ao lado três homens com capuzes conversavam em voz baixa. Um gordo e dois magros. Enquanto os observava, o gordo levantou a cabeça e olhou diretamente para ele. Abiel desviou o olhar. Não queria que pensassem que estava bisbilhotando.

—E aí, que tal um joguinho? — Matias Vianna colocou uma das mãos sobre seu ombro. — Fui desafiado, mas preciso de um parceiro.

— Topo.

— Vamos lá então.

Do outro lado do salão Cliff- Barbudo e um mercador aguardavam na mesa do jogo.

— Ah, o jovem Baron! — Cliff saudou Abiel. — Difícil vê-lo por aqui, espero que ainda se lembre como se joga.

— Vamos descobrir, não é?

Os deuses de Anwar, A lenda de Abiel (EM REVISÃO - PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora