XX Kakata

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Com último vislumbre da luta de Belathor, Aldebaran e um dos gêmeos, Abiel não saberia dizer qual dos dois estava em pé, o garoto viu o necromante ser arrancado debaixo da montaria do guerreiro pelo pescoço pelo irmão restante e arremessado contra o chão com estrépito.

A poeira se levantou e, então, ele ouviu a voz de Rakka, clara e macia, soando indistintamente. Seu cavalo baio obedeceu ao comando da elfa, e se jogou contra a descida, os cascos ora correndo, ora deslizando pelo barranco até atingirem a areia da praia e, mesmo ali, o animal manteve o ritmo. Levantava areia a cada passada larga e as pernas de trás quase se uniam as da frente.

Rakka guiava a marcha seguida de perto por Rutsed e, ao lado dele, Amícia. Abiel e Germain fechavam a fila. Franja acompanhava o ritmo dos outros cavalos sem problemas, mesmo assim, Abiel não tirava os olhos do irmão.

Ao deixar a areia passaram a cavalgar por uma Via de pedra. Os cascos dos cavalos faziam um barulho alto e compassado ao castigar a rocha. A Via Ádria seguia por entre o mar de Ádrar e, por isso, recebera esse nome. Como se os próprios deuses tivessem esculpido-a, a via esgueirava-se por entre as águas do mar por vários quilômetros, conectando a costa à ilha portuária de Atalanta.

Abiel não ouviu mais o som da luta, mas não arriscou se virar para olhar para trás. Colado sobre o pescoço do baio via o mar logo ao seu lado e as ondas se chocando contra a pedra. Se caísse ali rolaria direto para o fundo.

— Segure-se firme! — berrou para o irmão, que como ele estava abaixado sobre a crina do potro. — Respingos de água salgada voaram em seu rosto, atingindo os olhos e fazendo-os lacrimejarem.

Ronô segurava na cintura de Germain de uma forma tão natural que Abiel supôs que estivesse usando magia. Isso o tranquilizou, pois sabia que o gnomo também a usaria no irmão.

Os coqueiros e casas na ilha se aproximavam mais a cada trote e as bandeiras e mastros ficaram cada vez maiores. Feitiço e Shanti estavam lado a lado, quase emparelhados, se um dos dois desse um passo a mais para o lado, cairiam no mar. Amícia e sua égua pintada seguiam no meio dos dois, mas um pouco mais para trás. A garota também estava abaixada sobre a montaria. Os cabelos loiros voando, quase junto aos cabelos prateados de Rakka e a capa cinzenta de Rutsed.

Os cabelos da elfa pareciam brilhar como um aço fino recém forjado. Quando Abiel afastou tais pensamentos percebeu que foi por que tinham reduzido a marcha.

Ouviu o som de cascos sobre madeira e eles cruzaram um pequeno portal, que deveria separar a Via Ádria da cidade. Logo ao lado deles, ao Leste, um bosque grande de Êpis trazia cheiros bons e vida ao lugar.

— Aqui no Porto estamos seguros. — Rakka disse ao desmontar Shanti. — Quase era fácil acreditar nisso próximo ao bosque.

Ao lado dela Rutsed pulou de Feitiço, seu cavalo dourado, com uma disposição juvenil. Ao se guindar com esforço de cima do seu, Abiel sentiu uma certa inveja do vigor do homem. Amícia desmontou e ajudou Germain e Ronô a descerem.

Todos dirigiram o olhar para o litoral distante, e para o topo da falésia, mas não viram nada e o silêncio era assustador e reinante.

Rakka o quebrou com voz fraca, porém firme:

—Vocês precisam nomear seus cavalos agora, e dizer para que vão até Lebas. Sem isso pode ser que eles não obedeçam.

Abiel trocou um olhar com Amícia.

— Rápido! — as sobrancelhas de Rutsed estavam mais arqueadas do que de costume.

— Vento! — Abiel disse de supetão, mas o baio relinchou satisfeito.

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⏰ Última atualização: Mar 03, 2017 ⏰

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Os deuses de Anwar, A lenda de Abiel (EM REVISÃO - PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora