VI O portador da tempestade

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Será possível que a bússola dos deuses está escondida dentro do meu guarda-roupas? E se estiver, como teria chegado as mãos do meu pai?

Até então tinha pensado se tratar apenas de obra de magos, algum objeto enfeitiçado encontrado pelo pai em algum lugar do continente, mas aquilo era outro nível de descoberta. 

Um caminho até os deuses, um presente do deus-supremo para os elfos! Não, não é possível. Sven está certo, eu bebi demais. Mas o que seria então? Quem saberia? Os elfos?

É só uma canção, isso é uma estrela qualquer. Mas, tem cinco pontas e parecia bastante especial ao flutuar no ar. Ah, o que eu faço? É ouro, precisamos de dinheiro. Posso vender e parar de fantasiar besteiras. Dinheiro é real. 

É isso, meu pai não se importaria se eu vendesse, e é exatamente o que farei.

Na primeira oportunidade o velho Arango, ainda mal-humorado, o levou mais uma vez até Ônix.

- Prometo que é a última vez, companheiro - disse ao desmontá-lo. - Vou comprar um cavalo novo e te conceder uma aposentadoria a contento.

O ourives ficava na parte alta da cidade, como todo o bom comércio. Um homenzinho baixo saiu detrás de um balcão envidraçado, onde estavam dispostos joias e objetos de decoração, e deslizou pelo carpete vermelho até o garoto. Mal chegava até a sua cintura, tinha frios olhos castanhos e vestia-se de forma espalhafatosa. A seda roxa e rosa devia ser para torna-lo mais visível, pensou Abiel. Uma cartola balançava na cabecinha como a cereja de um bolo.

Ele ergueu os olhos e examinou o garoto com atenção.

- Não fazemos caridade - disse sem inflexão na voz.

- Nem eu preciso disso.

- Oho! E o que quer então? Um trabalho? Não precisamos de ninguém, obrigado.

As mãozinhas o seguraram pela cintura e o empurravam com firmeza para a saída, mas Abiel se desviou dele.

- Quer parar com isso? Eu já tenho trabalho e não vim pedir nada - estava incomodamente cônscio de que sua aparência não era das mais refinadas. As botas desgastadas e cheias de poeira, os cabelos compridos, o chapéu velho e as roupas puídas. - Eu tenho algo para fazer negócio, está bem?

- Uff - o homenzinho cambaleou para o lado. - Mostre logo então.

Abiel abriu a mochila rasgada e o homem abriu um sorrisinho de zombaria.

- Isso? Me dê aqui, é preciso avaliar se é verdadeiro.

Abiel colocou a camisa na qual a estrela estava envolta nas mãos do homenzinho e ele voltou para trás do balcão, botou um óculo nos olhos, girou o objeto para lá e para cá e depois pesou numa balança.

- Dois Pátrio-Uno - disse por fim.

- Nada feito, eu sei que isso vale bem mais.

- Sabe é?

- Sei, eu sou ferreiro. Essa pedra é jade e esse ouro é puro.

- Hum - ele o avaliou, notando que o garoto não era tão simplório quanto julgara. - E quanto acha que devo pagar?

- Dez Pátrio-Uno. Por menos não vendo.

- Tá achando que isso aqui é o banco central, garoto!? - exclamou.

- É quanto vale.

- Tudo bem, mas eu não tenho esse dinheiro, eu deixei de pagar a guilda por um ciclo e.... - o homenzinho suspirou antes de continuar. - Bem, houve um roubo na minha loja esses dias.

Os deuses de Anwar, A lenda de Abiel (EM REVISÃO - PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora