XIX Um breve momento

69 9 11
                                    

Rakka o ouviu com atenção e Abiel narrou de forma precisa o pesadelo. A elfa não o interrompeu nenhuma vez, mas fez com que ele repetisse a história e então fez algumas perguntas que segundo ela eram bastante relevantes, dentre elas, se estava dia ou noite. Dia. Se a estrada era a mesma. Era.

Enquanto falou, o garoto não pôde deixar de constatar que todas as coisas que tentou evitar aconteceram. Ainda naquela manhã Rutsed elogiara Amícia com fervor, da mesma forma seus esforços para ser horrível em suas próprias aulas, acabaram indo por água a baixo. O irmão estava aprendendo a usar o arco. Observara Germain praticar e o menino levava jeito...Contou para Rakka sobre esses detalhes também.

Assim que se deu por satisfeita ela pediu que ele esperasse ali e se dirigiu pé ante pé até o lugar onde Rutsed dormia e depois Belathor e voltou com eles. Com a ajuda dela, Abiel reviveu seu pesadelo novamente em palavras.

- Não temos como saber se é real ou não- Belathor disse- mas agora estamos de sobreaviso.

- Por que demorou tanto para falar? - Rutsed ralhou - poderíamos ter sido atacados antes.

- Mas não fomos - Abiel retrucou com azedume. Já se sentia com culpa de mais para assumir mais uma, e por algo que sequer acontecera.

O mago deu ás costas ao grupo e se afastou resmungando consigo mesmo.

- Vou acordar os gêmeos - Belathor falou deixando Rakka e Abiel. A elfa disse algo sobre conferir os arredores e o garoto ficou novamente sozinho com seus temores.

Incapaz de voltar a dormir observou Rutsed andando de um lado ao outro da estrada. Sua figura difusa, parcialmente recortada contra as luzes mornas da fogueira. Ao lado dela, Germain, Amícia e Ronô ainda dormiam sossegados.

Abiel desejou ter essa noite tranquila também; e que o dia nunca chegasse. O irmãozinho se virou de lado durante o sono. Os cabelos cacheados caíram sobre a testa.

Estava chegando o momento que tanto temera? O momento em que o menino seria posto em real perigo?

Rutsed gritou:

- Ele está vindo. Aldebaran se aproxima!

O coração de Abiel congelou, mas seu corpo agiu rápido. Sem pensar, acorreu até o irmão e o acordou juntamente com Amícia e Ronô.

- O que foi? - perguntou Amícia ainda sonolenta.

- O feiticeiro está vindo - ele disse. - Nós temos que partir agora. Rápido!

Entrementes Rutsed ainda os alertava com palavras de comando:

- Reúnam seus pertences, montem e cavalguem como se suas vidas dependessem disso. Há Órions em nosso encalço!

Os gêmeos Callegari reuniram as montarias. Os cavalos estavam assustados e relutantes em se deixar guiar.

Assim que despertou Ronô se uniu ao mago e Amícia também foi para junto do homem. Entre os relinchos assustados dos animais, Abiel viu que uma barreira quase invisível estava se erguendo do solo à frente de Rutsed. Uma barreira que parecia ser formada de ar. Com a ajuda de Ronô e Amícia, se ergueu mais rapidamente e adquiriu mais intensidade.

No momento em que Abiel colocou Germain sobre Franja, Rutsed se virou, correu até Feitiço e o montou, Amícia montou sua égua pintada e Ronô subiu na garupa do irmão.

Rakka, montando Shanti, parou à frente deles:

_Vamos!

Abiel deu um tapa nas ancas de Franja. O potro acompanhou os outros no galope e o garoto pegou as rédeas de seu baio das mãos de Aloel, antes do escudeiro seguir atrás de Belathor e Aloan. As passadas dos dois capazes de acompanhar o guerreiro e os outros, mesmo estando a pé.

Os deuses de Anwar, A lenda de Abiel (EM REVISÃO - PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora