VII Os Desbravadores

103 16 29
                                    



No dia seguinte os guardas vieram. O comandante fez muitas perguntas e eles responderam o melhor que puderam, mas Abiel não mencionou a estrela e antes de escurecer foram feitos os funerais no templo de Ônix e os corpos foram cremados. Mais para frente Abiel se lembraria de muito pouca coisa daquele dia. Recebeu os cumprimentos de vizinhos e amigos e acendeu a pira funerária do avô, mas tudo pareceu apenas resvalar nele, como se seu cérebro tivesse entrado em um modo de defesa.

Somente quando voltaram para a casa de Abiel foi que o garoto falou para Amícia sobre a conversa com o bardo, o que aconteceu na estrada com ele e Germain e as últimas palavras do avô.

- Eu te disse que era perigoso, não disse?

- Disse, eu sei.

- O que faremos agora?

- As minas, aquele homem que nos salvou sabe mais sobre isso, e ele disse que estaria lá.

- O pai está vivo? - perguntou Germain.

- Parece que sim. O que acham?

- Eu vou onde você for, irmão.

- Você se livrou daquele troço? - perguntou Amícia.

- Não, mas talvez tenha sido melhor assim agora.

- Melhor para quem hein, Abiel? Para a minha família? Para o seu avô? Por que talvez isso não tenha mais importância para eles.

- Eu sei disso, mas...

- Sabe? Mas então por que você mentiu para o comandante? Por que você não falou da estrela!?

- Eu não quis criar problemas...

_Tarde demais.

- ... Para mais ninguém.

- Corta essa - bufou a garota.

- Você pode acreditar no que quiser, Amícia, até mesmo em me culpar. E se isso te faz se sentir melhor, eu também me sinto culpado, mas eu não sabia que isso poderia acontecer.

- Mas aconteceu, não é? E você fala como se fosse algo banal!

- O que você quer que eu faça? Que eu morra também?

A garota lhe deu as costas.

- Eu fiz uma promessa para o meu avô, eu disse para ele que eu iria trazer os meus pais de volta.

- Eu também fiz uma promessa. Enquanto a minha família inteira queimava eu prometi que eu os vingaria.

- O único modo para conseguirmos isso talvez seja através daquele homem - ponderou Abiel.

- Eu vou até lá, mas só por isso.

- Tudo bem.

Amícia abriu a porta e saiu.

- Para onde ela vai? - perguntou Germain.

- Deixe ela, ela vai voltar. Vamos tentar dormir, eu quero sair bem cedo amanhã.

- É verdade o que ela disse?

- É.

- Você vai trazer o pai e a mãe de volta?

- Eu fiz uma promessa, não fiz?

Abiel se abaixou para ficar da mesma altura que o irmão.

- Tudo bem, eu não culpo você - ele falou.

- Era do pai - Abiel desculpou-se. - Eu sei que eu deveria ter me livrado dela, mas...

- Deixa eu ver.

Os deuses de Anwar, A lenda de Abiel (EM REVISÃO - PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora