Capítulo 14 - Aprendendo

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Camila Pov


Eu lembro de ficar deitada na neve, um pequeno ponto vermelho de calor ficando frio, cercada por lobos. Eles estavam me lambendo, me mordendo, atormentando meu corpo. Seus corpos aconchegantes bloqueavam o pouco calor que o sol oferecia. Gelo brilhava em seus pelos e seus hálitos faziam formas opacas que pairavam no ar ao nosso redor. O cheiro almiscado de suas peles me faziam pensam em cachorros molhados e folhas queimando, agradável e aterrorizante. Suas línguas percorriam minha pele: seus dentes afiados rasgavam minhas mangas e esbarravam em meu cabelo, se empurrando contra minha clavícula, o pulso no meu pescoço.

Eu poderia ter gritado, mas eu não o fiz. Eu poderia ter lutado, mas não lutei. Eu só fiquei ali, e deixei acontecer, observando a neve branca de inverno ficar cinza acima de mim.

Um lobo enfiou seu focinho em minha mão e contra minha bochecha, lançando uma sombra contra meu rosto. Seus olhos verdes olharam nos meus, enquanto outros lobos me jogavam de um lado para o outro.

Eu olhei para aqueles olhos o máximo de tempo que consegui. Verdes. E, de perto, brilhavam com cada tom de dourado e caramelo. Eu não queria que ele desviasse o olhar, e ele não o fez. Eu queria me esticar e tocar seu pelo, mas minhas mãos ficaram colocadas contra meu peito, meus braços congelados em meu corpo.

Eu não conseguia me lembrar como era me sentir quente.

Então ele se foi, e sem ele, os outros lobos se aproximaram, perto demais, sufocante. Algo parecia se agitar no meu peito.

Não havia sol; não havia luz. Eu estava morrendo. Eu não conseguia lembrar como o céu parecia.

Mas eu não morri. Eu estava perdida num mar de frio, e então renasci num mundo de calor.

Eu me lembro disso: dos seus olhos verdes.

Eu pensei que nunca mais os veria.

E então eu acordei. Com a cabeça explodindo e tudo girando ao meu redor, demorei um bom tempo para abrir os olhos, nunca fui sensível a luz, mas depois da ressaca de ontem descobri ter.

Então verdades foram jogadas sem dó em cima de mim.

Trevor. Mordida. Lauren.

Senti um desconforto crescente enquanto Lauren falava, como ela podia se manter calma nessa situação? Mas quando eu surtei e meu choro pareceu durar anos, Lauren ficou realmente incomodada. O que ela estava fazendo aqui então? A idiota podia ir embora.

Mas ela não foi, o que ela fez foi ainda mais inesperado. Não tive tempo para afastá-la quando ela me beijou; foi rápido mas foi um beijo. Lauren me beijando, um simples toque de lábios. Meu cérebro parou de mandar comandos e no milésimo de segundos que aconteceu eu fiquei surpresa e ouvi meu coração batendo tão forte que poderia sair pela boca a qualquer momento. Os olhos de Lauren se tornaram claros quando ela se afastou, não quebramos o contato até ela sair em uma velocidade inumana.

Fiquei dias na casa de Dinah, apenas deitada. Sem vontade de seguir em frente, me sentindo estranha e descobrindo sensações diferentes. Muitas noites eu acordei ouvindo barulhos que normalmente não deviam me incomodar, mas o simples ponteiro de um relógio se tornou incômodo para minha audição.


— Camila você precisa comer. — Dinah entrou no meu quarto trazendo o café da manhã, pelo quinto dia consecutivo. Eu sentia fome, mas não conseguia comer sem colocar tudo pra fora depois.

The HybridOnde histórias criam vida. Descubra agora