Preciso de você

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Quando acordo são duas e meia da manhã. Vou até o banheiro com muita dor e vejo que abaixo da minha sobrancelha há um corte o qual meu pai causou. No espelho, falo comigo mesma:

- Como vou aguentar isso? Como vou pra escola assim? Quem me assegura que ele não vai me matar? Preciso fugir!

Passo a noite em claro, pego uma mochila, boto roupas e meus livros, não irei a lugar algum sem eles. Quando dá exatamente cinco da manhã vou tomar café para evitar que meu pai me veja, pego o café e volto para meu quarto.

Nesse momento, a dois andares abaixo da minha casa, Lisa liga para Vinícius.
- Oi Lisa, tudo bem? Algum problema? - diz Vinícius, bocejando.

- Sim, um problema, eu estava falando com a Franciny pelo Skype ontem e ouvi o pai dela a ameaçando! Ela desligou rápido pra eu não ouvir. Eu tenho quase certeza de que ele fez alguma coisa muito ruim a ela!! - diz Lisa em pânico.

- Meu deus! Merda! Vou passar na casa dela hoje. Me espera que vou aí, quero falar com o pai dela! - diz ele, suspirando.

Lisa quase chorando diz:

- Eu sinto que tem algo de errado com ela e só nós podemos ajudar!

Vinícius desliga o telefone se despedindo de Lisa.
Seis da manhã, resolvo sair de casa e quando estou saindo vejo Vinícius entrando no prédio. Me escondo o mais rápido possível, mas ele não me reconhece pois estou com um moletom justo e preto para esconder meu rosto machucado. Nesse meio tempo fujo para fora do prédio. Enquanto isso Vinícius se encontra com Lisa que lhe mostra onde eu moro. Chegando lá meu pai abre a porta e diz:

- Olha só, a filha da prostituta, amiga da minha filha e um engomadinho que nunca vi na vida... o que querem?

Vinícius cutuca Lisa e diz:

- Esse é o pai dela? Ele é extremamente rude e mal educado.

Lisa diz:

- Depois te explico.

Vinícius diz ao meu pai:

- Olá, Senhor, a Franciny está em casa?

Meu pai diz com tom de ignorância:

- Não, ela já foi. Se é só isso, adeus!

- Espere, Senhor. Por favor, a Franciny tem estado estranha, o Senhor sabe o porquê? - diz Vinícius, inseguro.

- Não, eu não quero falar sobre isso. Vai embora!

E fecha a porta na cara deles.

- Esse não pode ser o pai da Fran,ele é um arrogante da porra!!

Lisa, muito mal, diz:

- Droga! Já comecei o dia ouvindo que sou filha de uma prostituta.

Vinícius, tentando consolar Lisa diz:

- Você é melhor do que isso, Lisa!

- Enfim, deixa quieto, afinal de contas por que a Franciny saiu mais cedo? Ela nunca faz isso!

Os dois saem sem respostas atrás de mim.
Saindo do prédio, Vinícius diz:

- Se a Franciny não é de fazer isso, ela fez hoje porque está escondendo alguma coisa. Vamos nos separar para encontrá-la. Vai pra escola, vê se ela foi pra lá.

Eles se separam, Lisa em direção à escola e Vinícius pelo quarteirão. Depois de andar umas duas quadras, vejo que Vinícius está atrás de mim, mas ainda não sabe que sou eu.

- Aquela é a Franciny? Ei, Franciny, espera!! - diz Vinícius correndo atrás de mim.
Corro o mais rápido que posso, mas sinto muita dor pelo modo que meu pai me derrubou ontem, acabo me esquivando para uma esquina deserta. Vinícius me encontra e me coloca contra a parede pra eu não escapar. Abaixo minha cabeça, não quero que ele veja nada. Mas mesmo assim, ele tira meu capuz levemente... ao ver como estou, vejo a tristeza em seu rosto.

- O QUE ACONTECEU? - diz, quase chorando.

- O que você acha? Meu pai me... Me deixa em paz, Vini! - digo soluçando.

- Franciny, me desculpa por não ter visto antes! Me conte tudo - diz ele me encarando todo o tempo.

- Não posso, Vinícius. Não posso!! Eu tenho medo! Eu tenho vergonha! - digo, gritando.

- Por quê? Franciny, eu te amo! Você pode me contar tudo! Eu quero te ajudar. - diz tentando me dar um abraço, mas recuso.

- Sabe quando você me perguntou o que tinha acontecido comigo ontem? Eu tinha acabado de ser molestada pelo meu próprio pai! Como alguém do mesmo sangue que eu, alguém que literalmente, me fez... pode fazer isso comigo? Vinícius, não consigo mais viver aprisionada no meu corpo! - digo e as lágrimas tomam conta de mim.
Ele me abraça com força e não sou capaz de recusar, o abraço do Vinícius é o melhor do mundo.

- Me desculpa! Por favor, eu sinto muito! - diz ele, me apertando ainda mais forte.

- Prometa que nunca vai me deixar sozinha... - digo sussurrando no ouvido dele.

- Nunca! Vamos sair daqui, você vai pra minha casa! - diz ele me soltando e dando um beijo na minha testa.

A Profundidade Do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora