Não posso!

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- Vinícius, o caso dela é grave psicologicamente, fisicamente ela está bem. Pelo visto ela ainda não mantinha relações sexuais, por isso estava com um sangramento interno, mas já está bem. Cuide muito bem dela, ela precisa de ajuda. Precisa convencer ela de denunciar o seu  agressor o mais rápido possível. Vi alguns cortes nas coxas dela. Por acaso ela tem problemas com automutilação antes mesmo do ocorrido? - pergunta a doutora.

- Pode deixar, vou cuidar muito bem dela! E não, não sabia que ela se cortava. Vou conversar com ela, e levá-la num psicólogo. Obrigado - responde Vinícius.

Saindo da sala fico preocupada com o que a doutora disse pra ele, mas fico quieta. Nos despedimos e agradecemos a doutora. Permanecemos em silêncio até o carro, quando meu celular toca e digo:

- Merda, esquecemos da Lisa, ela deve estar preocupada.
Atendo e digo que está tudo bem e que mais tarde falo com ela. Então Vini diz:

- Você se corta?

- Vini? - pergunto, me sentindo desmascarada.

- A doutora viu e mencionou pra mim.

- Sim... Me desculpa. A pressão daquela noite foi muito destruidora pra mim. Sem contar, que sempre foi difícil pra mim. Tudo. Tem me corroído - sussurro em meio as lágrimas.

- NUNCA MAIS FAÇA ISSO! - ele diz, segurando forte nas minhas mãos.

- Não é fácil para mim.

- Eu vou te levar em uma psicóloga amanhã, certo? Você vai lutar por si mesma - ele finaliza, me dando um beijo na minha testa. - Trouxe roupas?

- Trouxe algumas, mas tive que dividir espaço com os livros - digo e ele ri.

- Então vamos comprar - diz ele.

- Eu já fiz você gastar com a consulta, nada de roupas. - digo.

- O dinheiro é meu, então nós vamos comprar - diz ele.

- Não me leve em lojas caras. - digo exigindo.

- Num brechó é que eu não vou te levar. - diz ele, e dou risada.

Vinícius para o carro na frente da C&A.

- Vinícius, só uma carteira nessa loja é R$70,00! - digo saindo do carro.

- Sei... Vai escolher suas roupas ou quer que eu escolha? - diz ele caminhando pra dentro da loja.

- Você e seu temperamento, Vinícius. - digo, e pego na mão dele entrando na loja.
Ele me olha assustado pelo fato de pegar na sua mão, mas aperta a minha com força, acho que de nervoso. Ao entrar, uma moça caminha até nós e diz:

- Olá! Meu nome é Valentina. Do que precisam?

Vinícius responde:

- Roupas de todos os tipos, e sapatos para minha amiga.

- Siga-me, gosta de vestidos? - pergunta ela e faço que sim com a cabeça.
Ela me mostra uns vestidos maravilhosos, pego dois deles. Vinícius me ajuda a escolher duas calças jeans, ele pergunta se preciso de blusas, mas digo que não. Fico apaixonada por um all star, e Vinícius diz:

- Pegue, você vai levar!

- Eu não preciso - respondo, e ele pega o all star dizendo para a atendente Valentina que vamos levar.
Reviro os olhos pra ele, que ri.

- Me espere lá fora, vou pagar. - diz ele.
Espero na frente da loja quando vejo meu pai do outro lado da rua, me escondo o mais rápido possível atrás de um carro. Ele se encontra com Marcos, parece estérico, não consigo ouvir o que ele diz para o Marcos. Fico com medo, começo a chorar me lembrando de tudo que passei. Vinícius aparece, coloca as coisas no carro e ao me ver escondida, me abraça com força. Me pergunta o que aconteceu, mas percebe sozinho meu pai do outro lado da rua, sinto sua raiva quando me solta prestes a sair em direção ao meu pai, mas seguro ele pelo braço. Ele me puxa rápido pra dentro do carro, e saímos.
No caminho, Vinícius me diz:

- Vai ficar tudo bem, ele nunca mais vai tocar em você.

- Vinícius, eu nunca poderei amar outro homem! Eu tenho nojo do meu corpo, eu tenho medo! Você não sabe o quão difícil é pra mim. - digo.
Parados no semáforo, ele coloca a mão no meu rosto, acariciando.
Quando está prestes a me beijar, recuo.

- Me desculpa, não posso. - digo, ressentida.

- Tudo bem, fui muito rápido, perdão. - diz ele, acelerando o carro quando o semáforo abre.
Ficamos em silêncio até a casa dele. Me sinto mal por não ter correspondido...

Depois de um tempo, chegamos no condomínio fechado Modernne. Já tinha ouvido falar, mas nunca pensei que Vinícius morasse aqui, tudo tão grande e bonito. As casas todas muito modernas.

- Aquela casa escuro com branco ali na esquerda é a minha. - diz ele.
Fico admirada com a casa, diferente das outras casas do condomínio, a dele tem muros.

-Porque só a sua tem muros? - pergunto.

- Meu pai é o dono do condomínio e exige privacidade, é coisa dele, nem eu entendo. - diz ele abrindo a garagem, mostrando mais três lindos carros.
Quando para o carro, diz:

- Chegamos. Inferno, doce inferno.

- Por que você demonstra odiar tudo isso? - pergunto curiosa.

- Meu pai nunca está em casa, e eu só posso fazer o que ele manda o seus seguranças me mandarem fazer - responde ele saindo do carro.
Fico pensando quando saio do carro também. Entramos pela cozinha, é linda e espaçosa, toda branca com preto e tons de azul, há um lustre sobre a mesa, e a sala de jantar.
Passando com Vinícius pela cozinha estamos na sala, que por sinal é muito aconchegante, lareira, paredes brancas, lustre em tons de preto, sofás grandes e um tapete gigante muito macio. Um cachorro de pequeno porte todo branco e bem peludo que se parece com um urso polar vem correndo até mim, me abaixo e fico acariciando ele.

- É tão fofo, qual o nome? - pergunto admirada.

- Cookie. Ele é um filhote, o único que ultimamente me faz companhia. - responde ele se abaixando pra fazer carinho também.

- Sua casa é linda! - digo, levantando em direção às escadas.

- Meu pai pediu para um arquiteto americano fazer. - diz ele subindo as escadas junto comigo.

Passando pelo corredor, a primeira porta à esquerda é o quarto de Vinícius. Entramos e reparo que é o típico quarto de adolescente rebelde que está prestes a se tornar um adulto.
Computador, uma televisão gigante embutida na parede com uma cama muito grande. Reparo no quarto, copos para todos os lados. Provavelmente o Vinicius fica com preguiça de levar até a cozinha. Vejo um monte de cuecas possivelmente sujas, e ao ver aquilo, Vini junta todas e as coloca no cesto de roupas sujas.

- Não repara na bagunça, tá? - ele diz, um pouco envergonhado.

- Como quiser, senhor. - digo caçoando. Reparo também na varanda que dá direto pra piscina.

- Vai ter que dividir a cama comigo, se ficar no quarto de hóspedes os seguranças vão desconfiar de tudo, então... - diz ele, meio inseguro.

- Tudo bem, você já está fazendo demais por mim. - digo.

- Vou ligar pra Lisa e ver se ela não quer jantar com a gente, assim aproveitamos e contamos tudo a ela.

A Profundidade Do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora