O começo de um possível pesadelo

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Não sei como começar a dizer o que eu quero ou espero da minha vida. Depende do seu ponto de vista diante do meu. Mas sabe, se você me acompanhar do começo ao fim, do fim ao começo, de cada vírgula a cada ponto, você provavelmente vai me entender. Meu nome é Franciny, 18 anos nas costas.

Ainda moro com meu pai, muitos dizem que sou parecida com a minha mãe, por causa dos olhos, mas ela sumiu quando eu nasci, simplesmente me abandonou e meu pai me criou. Do jeito dele, é claro. Me lembro até hoje o dia que ele quase colocou fogo na casa tentando fazer panquecas. Não pense que por causa disto ele é uma boa pessoa, há quase dois anos tenho praticamente vivido sozinha, ele nunca está em casa e quando está, mal consegue falar comigo de tão bêbado. Isso realmente me machuca muito, mas pensar que um dia talvez terei uma vida na qual eu poderei chamar de minha é tão... SATISFATÓRIO!

Estou no meu quarto arrumando as coisas para ir pra escola, não que eu esteja com vontade, não aguento mais ver a cara da professora de inglês. Ela pega no meu pé sendo que na sala de aula, raramente falo algo, ou ao menos suspiro lá dentro. Ela fica me encarando como se eu fosse uma maluca prestes a jogar uma granada na sala de aula. E eu sou realmente muito calma, mas ela tem me tirado do sério.
Vinícius tem me acalmado muito nos últimos dias, ele é meu melhor amigo. Digamos que ele tem comigo uma amizade colorida, que no caso eu não correspondo... Sei lá, eu só vejo ele como meu amigo, nada além disto. De qualquer forma, tenho que ir pra escola. Coloco a mochila nas costas e saio do quarto, entrando na cozinha me lembro que esqueci do casaco, volto rápido e pego. Paro na frente do espelho, calça jeans, all star, e moletom. Desisto de levar o casaco, é muita coisa pra carregar.
No metrô, todo dia tenho que ouvir cantadas de um homem que pega o metrô pra trabalhar, já tentei contar pra alguém sobre ele, mas quem pode me ouvir além de mim? Parentes? Nunca conheci. Pai? Nunca está em casa... Vinícius? Não quero incomodar ele com os meus problemas. Não considero nada do que esse homem diz pra mim, como algo reconfortante de se ouvir. É extremamente redundante. Mas, é algo que agora aturar tem sido minha principal ação, mas hoje não quero ficar mal por isso, então enquanto volto para a cozinha, resolvo ir a pé pra escola ao invés de ir de metrô e me sentir... um nada.

Termino de tomar café e coloco a xícara na pia quando escuto o barulho da porta se abrindo, é meu pai, Jorge. Está bêbado como sempre, mas tenta disfarçar. Tento sair sem ele me ver, mas falho na tentativa...
- Vai pra escola? - diz ele me encarando.
- Já estou atrasada, licença - digo e ele me segura pelo braço, apertando com força.
- Eu ainda sou seu pai, Franciny. Não se esqueça disso! - ele diz e me solta.
Saio depressa e com medo. Realmente, meu pai não é mais meu pai, anda com más companhias. Tento esvaziar minha cabeça enquanto ando pelas ruas de São Paulo. Tudo tão movimentado... Todos tão atarefados, enquanto eu... Sou uma perdida no meio de tudo e todos.

Chego na escola e Vinícius me abraça tão forte que fico com falta de ar.

- Bem? - pergunta ele.
-Aham, e você? - digo meio desanimada, e ele faz que sim com a cabeça.
No corredor, vou até o meu armário e pego o livro de inglês com uma má vontade. Vinícius ri e o sinal bate, resmungo e ele diz enquanto entramos na sala:
- Passando pelos portões do inferno!!!!
Dou risada e vejo que a professora Mari já está na sala. Meu deus! Bateu há cinco segundos atrás e ela já está aqui?!
Corro pra minha cadeira, ela desanda a falar e simplesmente não presto atenção, pra falar a verdade nem eu sei o que eu estava pensando. Só sei que ela ficou a aula toda falando sobre um futuro teatro que faremos, depois de 1 hora de "aula" toca o sinal do intervalo e o diretor interrompe e diz:
- Professora Mari, os alunos estão liberados. A professora Patrícia não veio.
Quase tenho um negócio de tanta felicidade, saio da sala voando, e Vinícius grita:
- ESPERA!!!!!
Paro no mesmo instante e espero ele entregar um trabalho para a professora. Quando saímos da sala em direção ao pátio, digo:
- Você tem que me amar muito, pra me fazer esperar nos portões do inferno quando é a hora de se libertar!!

- Além do que já te amo? - diz ele me dando um sorriso.
Não respondo, não quero que ele confunda amizade com um relacionamento mais afetuoso.

- Quer que eu te leve pra casa? - ele diz.

- Não, mas obrigada. Quero tomar um café antes de voltar pra casa. - digo e me despeço dele que diz:
- Me chama no Skype!
Dou risada e vou em direção à cafeteria...

A Profundidade Do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora