Me proteja

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Me levanto quando a turma toda me olha e Vinícius me olha preocupado, e então pede pra ir ao banheiro. A professora autoriza e ele vem junto comigo escondido até a sala da diretora.

- Não sinto que seja algo bom - digo, com receio.

- E não é, tenha certeza. - completa ele.

Chegando lá, entro na sala junto com Vinícius e dou de cara com meu pai, que assim que me vê levanta a mão para me dar um tapa, mas Vinícius se coloca na minha frente e segura o braço dele com força.

- Senhor Limer!! Se controle! - diz a diretora ao meu pai - Mantenha a calma. Não é assim que resolvemos as coisas.

Posso sentir a raiva de Vinícius. Ele solta o braço do meu pai.

- Não ouse nem imaginar que vai tocar nela - diz Vinicius. Meu pai se afasta um pouco de nós.

- Onde você estava, sua vadia?! Transando com esse cachorro?! - diz meu pai.

- Ah, você está me tirando pra louco... - diz Vinicius, tomado por total e desoladora raiva.
Vinícius ameaça bater nele, mas impeço. Começo a chorar e digo soluçando:

- É o que eu sou? Uma vadia? Você me estrupou, fez tudo que queria comigo, e eu sou uma vadia? Eu sou sua filha!! E a muito tempo você não tem sido um pai. Como pode ter a coragem de se satisfazer comigo? Não sente nada? Você é doente.

Nesse momento a diretora fica espantada.

- Ei, espere. Senhor Limer, sua filha é vítima de abuso sexual intrafamiliar? - a diretora o questiona.

- ISSO NÃO É DA SUA CONTA!! - esbraveja ele.

- É da minha conta sim, senhor Limer. E é minha obrigação contatar as autoridades - responde ela, caminhando em direção ao telefone.

- Por favor diretora, peça para mandarem alguém  para cá agora mesmo - digo.

- Cala sua boca!! Jamais deveria ter ficado com sua mãe, jamais deveria ter sido pai aos 15 anos! - diz ele.

Começo a chorar ainda mais e Vinícius me abraça forte.
Meu pai tenta correr até a maçaneta da porta, mas é impedido por Vinicius.

- Acha que vai ficar assim? Quanta falta de imoralidade. - diz, Vinicius.

- Por favor, mande alguém para cá o mais rápido possível. Obrigada - diz a diretora falando ao telefone.

Sinto o pânico do meu pai me encarando de cima a abaixo. Vinicius se distrai por um minuto para pegar um copo de água para mim, e meu pai foge pela porta.

Vinicius sai com pressa atrás dele. Com facilidade Vinicius o alcança, dando um soco no seu olho, que faz com que ele caia no chão.

- Olha só os pombinhos! Andou transando com ela, não é? Ela é linda, você só a ama por conta do corpo. Não negue! - diz meu pai, um pouco desnorteado por conta do soco.

Vinicius não se segura e dá outro soco na cara dele. Estou em choque, a falta de estímulo nos meus membros é notável. Meu pai acaba acertando um soco na barriga do Vinicius, e assim, sai correndo com o olho sangrando e cambaleando. Vinícius corre atrás dele enquanto a diretora ainda desesperada, espera pela polícia. Não consigo me mexer, estou em pânico.

A diretora caminha até mim, e diz:
- Eu já acionei a polícia. Eu sinto muito, Franciny. Realmente, por que não me contou?

- Não tinha forças pra contar nem para os meus amigos. Não tinha forças para nada. - digo, caminhando de um lado para o outro.

A Profundidade Do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora