- Caralho, estamos andando a três dias e ainda não chegamos! - diz o garoto que antes estava torcendo a bandana, e que agora está com ela toda molhada em sua cabeça - A chuva está fraca e fina, mas está gelada, não aguento mais!
- Calma... - o garoto loiro com traços delicados solta uma risada, abrindo um sorriso quase que impossível de desviar o olhar - Já estamos chegando. - diz ele ao se recompor.
Com a caminhada chegando ao fim o garoto moreno e alto se aproxima de mim, fazendo com que meus passos ficassem mais lentos.
- Desculpe pelo que fiz... - ele olhou para baixo - É que não consigo ver uma situação dessas e não fazer nada. - ele prende os olhos em mim - A propósito, me chamo Cameron, mas todos me chamam de Cam! - seu sorriso toma conta do momento, e como um milagre, minha mente se limpa por instantes.
- Eu é quem deveria estar pedindo desculpas... - dou um sorriso gentil, para retribuir não só pelo que ele havia feito.
- Ôh! Dá para andar mais rápido aí? Quero trancar o portão! - Diz o garoto loiro do sorriso bonito que estava parado na entrada de uma casa. Com a breve conversa, não havia nem percebido que todos já não estavam mais na rua.
A casa era enorme, logo na entrada um lance de escadas que levava até um corredor que parecia não ter fim, a primeira porta estava aberta, pude ver alguns sofás pequenos e algumas coisas jogadas. Seguindo reto tinha a cozinha, eu achei interessante pedir uma água e umas toalhas, chorei tanto que me sentia desidratada.
Fiquei aguardando em uma sacada que tinha vista para o mar, eu já estava toda molhada e a chuva já havia parado de vez, fiquei vendo cada onda se quebrar sobre as rochas na espera do dono da casa que prometeu me trazer toalhas.
O som do mar me acalmava. Me lembro de quando criança minha mãe me levava caminhar na areia gelada, na calada das noites sempre que algo me deixasse triste, mas quando meus pais se separaram ela entrou em depressão e não sai mais de casa.
- Mandaram te entregar isso - Cam colocou a toalha sobre meus ombros - Estou atrapalhando? - ele vai até minha frente e se apoia nas grades da sacada.
- Eu só estava pensando - desvio os olhos do mar e fixo nos seus.
- Pensando? No garoto né? Ele é um babaca, ele não...
- Ele não me merece, ele é imbecil. Sim, eu sei de tudo isso não precisa vir com discursos prontos. - o interrompi.
Ele se desapoios e foi em direção ao enorme corredor sem dizer uma palavra, mas seu olhar de reprovação meio que machucaram meu ego.
- Desculpa não queria ser grossa. - tentei corrigir, mas ele nem me ouviu, já estava longe.
- Não sei o que você disse para o Cam, mas qual é o seu problema? - o garoto da bandana apareceu segurando um copo d'Água, enquanto se apoiava na batente da porta que dava para a sacada onde eu estava.
- Não fiz por mal, não quis ser grossa com ele é que ele tocou em um assunto delicado e...
- Não foi isso que quis dizer! - me interrompeu - Você topou vir para a casa de um total desconhecido com um monte de garotos... Sua sorte é que eles são meio tapados e não tem maldade no coração, se fosse qualquer outro grupo de garotos, você sabe o que poderia ter acontecido...
- Eu sei! Realmente não sei o que passou na minha cabeça... Acho melhor eu ir para casa... - o garoto da bandana me segurou antes que eu pudesse passar por ele.
- Agora que você já está aqui, beba! - ele ofereceu o copo em sua mão, e senti o cheiro, conclui que o que tinha no copo não era água , parecia cachaça pura.
Ele me dava arrepios, eu pensei em recusar, mas fiquei com medo dele me bater com aquele copo. Seu olhar era desafiador o tempo todo. Então peguei o copo e dei um gole. Aquela bebida desceu rasgando minha garganta e começou a esquentar meu corpo imediatamente.
- Aí estão vocês! - a voz do garoto loiro veio de trás do menino da bandana.
- Boa menina! - ele cochichou, sorriu e saiu.
Eu não pensei em nenhum momento em contar a Nash sobre o ocorrido com o garoto da bandana, mas ele sentiu o clima ruim.
- Olha, o garoto da bandana, o Taylor, é um pouco difícil, mas ele é legal, você vai ver... - ele explicou - Ele só precisa se acostumar com sua presença sabe?
- Ele está sendo legal comigo, eu acho... - menti.
- Espero que ele esteja sendo mesmo. - ele riu.
Ficamos em silêncio por poucos segundos, e pude admirar mais um pouco as ondas se quebrarem nas rochas.
- Você, oficialmente, não me disse seu nome...
- Callie! - sorri sem mostrar os dentes.
- Sou o Nash! - ele retribuiu o sorriso - Você está bem?
- Vocês não vão entrar não? Está frio aí fora! - o dono da casa apareceu na porta.
Em um passado distante, eu ficaria brava por atrapalhar uma conversa com um cara gato, mas naquele momento, eu não queria responder aquela pergunta.
Peguei a toalha que Cam havia me dado e comecei a me secar, sem resultado, pois minhas roupas estavam ensopadas.
- Olha, se você quiser, posso pegar um moletom meu para você colocar, quer? - o dono da casa, sendo tão gentil, quanto seu sorriso, ofereceu.
- Não precisa, não quero incomodar, acho que vou para ca...
- Ela adoraria, Jack J! - Nash me interrompeu.
Olhei para ele, com olhar de reprovação, e ele somente sorriu para me provocar.
- Você não está pensando em ir para casa, está? - brincou Nash - Estou te devendo uma bebida! Ande, entre... Vamos pegar nossos copos.
Não tinha como recusar aquele sorriso maravilhoso.
Para Callie! O que eu estou fazendo? Flertando com um desconhecido, quando acabo de terminado um namoro que iria completar dois anos no próximo mês? Eu estava totalmente maluca.
- Acho melhor eu ir para casa Nash, não deveria ter vindo, eu nem conheço... - travei.
- Nem nos conhece? Era isso que ia dizer? - seu olhar entristeceu, como se não fosse normal alguém desconfiar que ele pudesse fazer mal a outra pessoa. Mas seu rosto dizia isso, seu rosto tatuava isso para o mundo, ele não conseguiria fazer mal a uma mosca, nem se quisesse.
- Não é desse modo que quero dizer... - tentei corrigir - Você precisa entender meu lado, por favor, não fique brabo comigo também, me deixe explicar!
Seu silencio foi a minha deixa para explicar o que estava pensando. Não podia magoar alguém que eu mal conhecia e que havia, tecnicamente, me salvado do meu ex namorado maluco.
- Não pensei, em nenhum momento, que qualquer um de vocês pudesse fazer mal a mim! - ele me encarou - Ok, talvez eu tenha pensando que o Taylor poderia me machucar de alguma forma cruel... - ele riu comigo, o que já "ajeitou" o clima novamente - Mas fora isso, eu sei que vocês são legais e que estão tentando me ajudar, só não sei se é a maneira certa.
- Deixe a gente tentar! - ele sorriu com um olhar desafiador.
Eu não tinha preparado uma resposta para aquilo e também não tinha uma desculpa pronta para conseguir ir embora sem magoá-los.
- Ok! - me rendi - Eu fico, mas só por algumas horinhas, preciso voltar para casa, minha mãe pode estar preocupada... - menti.
Estávamos nos dirigindo para a sala, onde todos os meninos estavam sentados conversando e rindo alto sobre alguma coisa de alguma garota que Jack e Cam já haviam ficado, pelo menos foi o que entendi da conversa de longe.
- O que você quis dizer com "não fique brabo comigo também"? - Nash lembrou do que eu havia dito na cozinha. Eu podia explicar tudo que tinha acontecido e o modo que tratei Cam, mas preferi evitar.
- Eu disse isso?
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À noite do jogo
Подростковая литератураQuem diria que a sua vida faria sentido a partir de um jogo? A vida de Callie parecia ter sido arruinada por um garoto, agora é vista de um novo ângulo. Perceber que você talvez não seja tão vítima assim acaba mexendo com seu psicológico, e agora a...