Sai andando seguindo o som das risadas que vinham da cozinha, minha cara estava estranha e eu podia sentir isso, era como se eu só quisesse dormir e perceber que tudo não se passou de um sonho, e que sonho.
- Precisou de ajuda para achar o banheiro? - Taylor disse com um sorriso malicioso estampado em seu rosto, mas seus olhos não fitavam a mim, sim sobre meus ombros. Com todos esses pensamentos nem percebi que Nash estava vindo logo atrás de mim.
Nesse momento já nem me importava mais com as implicações de Taylor, ele estava fazendo isso a tanto tempo, que já estava perdendo a graça. Andei ate uma banqueta vaga entre Matt e Madson e desabei.
- Vai Callie é você que desafia o Aaron! - Matt disse colocando uma de suas mãos em minha perna.
Eu nem tinha percebido que já haviam girado a garrafa, fiquei meio confusa, ou estava meio aérea.
- Desafio você beijar a Olhos... - repensei - A Jessy. - foi instantâneo falar isso, nem pensei. Eu estava com ciúmes de Nash? Eu estava mais confusa do que o normal. Não queria que ela chegasse perto dele, mas também não queria que ele chegasse perto de mim.
- Ele é um criança. - Jack G. disse forçando um espanto.
- É, eu não vou fazer isso! - a Olhos de peixe disse me encarando, pude sentir um nuvem negra cheia de raios se formar sobre sua cabeça.
- Perai, quantos anos você tem? - perguntei indignada.
- Tenho dezessete... - ele falou meio triste, mas logo soltou um sorriso.
- Desculpa a, "o de menor". - falei piscando um dos olhos para Aaron, que se levantou e foi andando até a banqueta onde a Olhos de peixe estava sentada.
O beijo não durou muito, e nem foi muito intenso, parecia mais que ele estava dando seu primeiro beijo, pois suas mãos não saíram de seus bolsos. Todos caíram na gargalhada em sintonia.
Aaron se sentou e logo girou a garrafa, o seu sorriso está maior do que antes, parecia uma criança travessa, quando aprontava e não era pega, isso estava me fazendo rir sozinha, ele lembrava eu quando mais nova ao sair com os amigos mais velhos de minha prima, eu me sentia "descolada".
- Acho que é minha vez de te desafiar... - Taylor olhou diretamente para mim, como quem está planejando algo infalível, logo pensei que ele iria mandar eu beijar algum dos meninos - Fala aí, a pior coisa que você já passou na sua vida. Não vale mentir...
Meu coração parou, eu não sabia como reagir.
- Isso é uma verdade, você não pode pedir isso, ela não tem mais verdades! - Cam olhou para Taylor repreendendo-o, como que esperasse que ele fosse me pedir desculpas. Todos ficaram olhando atentamente para cada respiração minha.
- Pode deixar, Cam! - minhas mãos começaram a suar frio - Meu pai morreu, mas antes ele nos deixou uma outra família de lembrança da vida inútil que ele teve na terra, minha mãe entrou em depressão e não sai mais do quarto, vive se embebedando e eu tenho que dar banho nela, sempre que a encontro vomitado. - meus lábios trêmulos me impediram de continuar, mas eu queria.
Queria dar mais para Taylor, queria continuar olhando para a cara dele, enquanto ele me implorava desculpas pelos olhos. Ele nunca vai admitir, mas os olhos dele não mentem, ele estava implorando perdão.
Me levantei com um pulo, e sem olhar para trás fui andando na escuridão até o portão, o abri com tanta força que olhei para ver se ele ainda está de pé. Comecei andar na chuva, a água batia em meu corpo como pequenos beliscões, meu coração batia forte como uma bateria em um show de rock, eu não sabia ao certo para onde eu estava indo, apenas deixei minhas pernas me levarem para o mais longe possível de lá. Eu não podia olhar para trás, não podia deixar as lágrimas tomarem conta do meu rosto, não podia me permitir ficar mal, por culpa de uma pessoa tão baixa. Ele não tinha razão para ter tanto ódio de mim.
- Hey! - a chuva me impedira de ver quem está me chamando.
Consegui ver um esboço de um garoto loiro dentro de um carro preto, que parecia custar o dobro do preço da minha casa.
- Entra no carro, Callie! - por alguns segundos eu não acreditei que ele teria vindo atrás de mim nessa chuva. - Entra logo, ta chovendo para caralho. - era desse jeito gentil que eu esperava ser convencida de entrar no carro de alguém no meio de uma tempestade.
Mesmo com a visão embaçada por causa da chuva, consegui reconhecer aquele rosto cheio de pintas.
Corri ate o carro, me sentei no banco da frente com as roupas ensopadas, meu corpo começou a tremer, meu lábio foi escurecendo, parecendo uma uva.
Fiquei quieta fitando as gotas de água que escorriam pelo vidro da porta do carro, Matt tentou falar algumas coisas que mais soaram como sons estranhos saindo de sua boca, ou eu não estava prestando muita atenção mesmo.
- Se você não quiser falar nada, não precisa - por alguns segundos comecei a prestar atenção em sua boca e cada movimento que ela fazia, eu não queria responder, só queria me concentrar em não chorar, não queria me mostrar fraca para ele. - Eu escutei o que você falou lá na cozinha, para falar a verdade todos escutaram... - ele lambeu seu lábio e engoliu a seco. - Eu também não tenho uma vida maravilhosa, se for te fazer se sentir melhor eu te conto. - nenhuma palavra saiu de minha boca, olhei fixamente para deus olhos, meu rosto não estava o melhor do mundo, minhas expressões de quem só queria chorar se comparava a um cachorro que lhe pede um pedaço de carne.
- Minha família era normal no meu ponto de vista, sempre tinha aquele negócio de "jantar em família". - ele disse revirando os olhos, como quem zombava de tal atitude. - Eu tinha uns sete anos quando percebi que tudo não se passava de um sonho bom, cheguei em casa mais cedo do que o esperado pelos meus pais, acho que a aula tinha terminado mais cedo eu não lembro. Entrei na casa e escutei minha mãe gritando e chorando, fui correndo ver o que estava acontecendo, ela estava jogada no chão toda machucada e meu pai estava gritando com ela alguma coisa sobre ela ser uma vagabunda. - ele deu uma pausa, ligou a seta do carro e limpou alguma coisa que presumi ser uma lágrima que estava em sua bochecha. - Subi correndo para o meu quarto, fiquei chorando deitado de baixo da cama, acho que minha mãe percebeu que eu tinha visto toda aquela cena horrível, porque depois de um tempo ela subiu até meu quarto e deitou no chão próximo a minha cama, me deu a mão e chorou comigo. Eu vi essa cena se repetir algumas vezes, até que uma vizinha denunciou meu pai, que fugiu e ninguém nunca mais soube dele. Foi assim que eu vim parar aqui nessa cidade onde as ondas do mar são as mais bonitas, onde as noites são frias e chuvosas e os dias quentes e ensolarados. - ele parou o carro, puxou o freio de mão, colocou uma de suas mãos em sua perna e me ofereceu a outra. - Eu fiz terapia durante um tempo e hoje somos felizes, minha mãe encontrou um cara bacana que garanto que não bate nela, até porquê se ele chegar perto de levantar a mão para ela eu sou capaz de acabar com ele. - Matt completou soltando uma risada e logo em seguida um sorriso enorme.
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À noite do jogo
Ficção AdolescenteQuem diria que a sua vida faria sentido a partir de um jogo? A vida de Callie parecia ter sido arruinada por um garoto, agora é vista de um novo ângulo. Perceber que você talvez não seja tão vítima assim acaba mexendo com seu psicológico, e agora a...