6º Capítulo

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Não sei em que parte do jogo eu fiquei muito mal. Meu reflexo já não respondia como antes. Minha mente já não pensava tão rápido. E eu já estava falando algumas coisas desnecessárias, como:
- Jack das sacolas, seu sorriso é muito bonito, pode sorrir para mim quando quiser, tipo o tempo todo sabe?! - acho que essa foi a coisa mais desnecessária que eu falei, mas estava tão bêbada que não reparei o constrangimento que ele teve
- Jack das sacolas? - Cam pareceu confuso.
Não havia percebido que chamei o Jack moreno de "Jack das sacolas", como estava me referindo a ele na mente. Era uma coisa só minha e agora tinha compartilhado com todos da sala. Por um segundo me arrependi de não tê-lo identificado como "Jack moreno" ao invés de "das sacola".
- Eu não sabia como diferenciar vocês... - apontei para os dois Jack's que pareciam rir - Poxa, vocês têm o mesmo nome, que culpa eu tenho?
- Mas porque "das sacolas"? - Jack moreno questionou.
- Foi a primeira coisa que veio em minha mente... - tentei explicar - Você chegou com um monte de sacolas nas mãos, então ficou "Jack das sacolas"! - dei risada, porque percebi o quão ridículo foi a minha lógica.
- Eu sou o Jack o que? - Jack loiro quis saber.
- Você é o "Jack dono da casa"... - sorri.
- Não precisa explicar o porquê! - ele riu.
- Pode me chamar de JG e ele de JJ. É assim que todos nos chamam! - Jack das sacolas... JG, foi gentil.
- Deve ser legal ter algum amigo com o mesmo nome... Tipo, não sei explicar, é como ter um gêmeo de nome! - na minha cabeça fez mais sentido.
- Não é legal! - JJ arqueou uma das sobrancelhas - Quando eu era pequeno eu me confundia muito, era horrível...
- Vocês se conhecem desde quando? - fiquei confusa.
- Desde nosso primeiro suspiro, praticamente... - JG olhou com carinho para JJ - Eu odeio esse cara!
Todos caíram na gargalhada, pois esperavam um momento de afeto entre os dois, mas foi totalmente ao contrário.
- Chega! Vamos continuar a brincadeira. - Taylor sugeriu, parecendo impaciente.
- Preciso de uma pausa... Vou tomar uma água! - não esperei responderem, sai e fui para a cozinha.
Eu estava tento um problema sério para achar um copo, para poder enfim tomar a água que eu tanto estava desejando. Abri todos os armários possíveis, teve alguns que tive a impressão de abrir mais de duas vezes. Eu estava quase desistindo e iria tomar água no bico da garrafa, quando Jack G apareceu.
- Pelo amor de Deus, onde eu encontro um copo nessa casa? Tem algum armário atras de uma parede falsa que eu não abri ainda?
- Aqui! - Jack abriu um armário do lado da geladeira e achou os copos.
Por um segundo eu jurei que já tinha aberto aquele armário pelo menos uma vez e não havia visto nada.
- Não sei o que você fez, mas eu já tinha visto nesse armário e não tinha copo aí! - brinquei em um tom sério.
- Você descobriu meu segredo, - ele ergueu as mãos em sinal de culpa - sou um bruxo! - gargalhei na mesma hora - Mas não conta pra ninguém, tenho medo de sofrer rejeição dos meu amigos.
Começamos a rir juntos, e a risada dele era gostosa, era agradável aos meus ouvidos. Eu não queria que ele parasse de rir. Fui até ele e peguei o copo de sua mão, sem eu pedir, ele abriu a geladeira e pegou uma jarra de água que, aparentemente, estava bem gelada. Era isso que eu precisava, para minha cabeça parar de girar.
Depois de encher meu copo, dei um gole longo, que a água acabou. Enchi mais uma vez e entreguei a jarra para ele, que guardou no mesmo lugar de volta.
Nesse momento, nossos olhares acabaram se encontrando de verdade. Os segundos encarando ele e notando e anotando cada detalhe de seu rosto em minha mente, pareceram horas.
O seu cabelo estava meio bagunçado, o que o deixava mais bonito. Seus olhos eram pequenos e castanhos, mas eram de um castanho tão lindo, o mais lindo que já vira. Quando ele sorria, as suas covinhas apareciam, que o davam um ar inocente, e eu adorara aquilo. E o seu sorriso. Ah, o seu sorriso! Era o sorriso mais gostoso que eu já havia presenciado. Era inocente e ao mesmo tempo pervertido. Doce e ao mesmo tempo malicioso. Eu não sei explicar. Eu amara aquele sorriso.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, como por exemplo, agradecer por achar o copo para mim, ouvi um coçar de garganta forçado, anunciando que mais alguém estava na cozinha. Foi quando percebi, que estava perto demais dele. Perto o suficiente para sentir o cheiro de hortelã que vinha de seu hálito.
Nos afastamos ao mesmo tempo. Jack foi para trás e eu virei para ver quem estava lá. Que para o meu azar, era quem eu não queria ver naquele momento. Todo o pensamento lindo que eu estava tendo de Jack, azedou.
- Estou atrapalhando? - Taylor se fez de inocente.
- Ela não estava achando o copo, resolvi ajudar... - Jack explicou, mas a sua voz transpareceu o nervosismo.
- Ata! - deu um longo suspiro - Seu celular tocou, fui ver o que era... Sua namorada está mandando mensagem desesperada, deve ter umas quinze já, acho que você devia respondê-la! - Taylor falava aquilo para Jack, mas olhava para mim, como se eu fosse culpada de algo que eu não havia feito.
Jack não pensou duas vezes, ele, praticamente, obedeceu o Taylor e começou a se direcionar para a porta.
- Obrigada pela ajuda! - agradeço Jack, antes que ele saísse.
Ele me olhou por fim e deu um sorriso sem mostrar os dentes, foi quase um "desculpa por isso", mas não entendi o que ele quis dizer com aquele sorriso triste.
Taylor estava me encarando, só percebi isso quando Jack saiu por completo e eu parei de prestar atenção nele e me voltei para Taylor.
Ele me encarava com raiva no olhar, isso me deixou mal, fez eu me sentir um lixo. Eu não entendia aquela reprovação de cara que ele havia tido comigo, mas eu queria entender, queria saber porque ele, descaradamente, não gostava de mim. Ele nem se esforçava para disfarçar, ele simplesmente me odiava gratuitamente.
Decidida a entender o motivo para todo aquele ódio de mim, o encarei de volta.
- Precisamos conversar! - sugeri.
- Não. - foi rude.
- Então você vai me ouvir! - fui firme, seu olhar mostrou que ele não esperava isso
Quando ele ficou parado, só me olhando, vi que era a minha deixa e comecei a falar tudo que vinha em minha mente:
- Por que você me odeia? Eu juro que tentei entender... Primeiro achei que era ciúmes dos seus amigos, coisa que eu entendo, porque também sinto ciúmes dos meus, mas depois não fez mais sentido. Depois, achei que era só o fato de eu estar atrapalhando a "noite dos meninos", mas não explicava todo o ódio gratuitos. Eu quero ouvir de você, o porquê disso. Você me atacou durante o jogo todo. Me atacou também em qualquer fala minha. Você sempre acha alguma coisa para me alfinetar e me deixar constrangida. Me diz o motivo!
- Você quer saber o motivo de eu não querer você aqui? - ele pareceu nervoso, começou a se aproximar de mim, até ficar um corpo de distância, concordei com a cabeça, para ele prosseguir falando, e ele meio que explodiu, despejando tudo em mim - Meu problema não é com você... Ou pelo menos, não só com você! Eu odeio menininhas como você, que entram na minha vida e de meus amigos e destroem ela. Que chegam, se fingem de bobas e indefesas, e quando finalmente um de nós se entrega para o amor que sente por uma de vocês, vocês traem. Traem com todos os amigos, destroem uma amizade de anos, com um belo par de seios, uma bunda grande, um rostinho bonito e um sorriso inocente. Eu não quero você aqui, porque você fará o mesmo que já fizeram. Você vai fazer com que todos nós nos afastemos de novo.
- O que? - fiquei indignada - Eu não vou fazer isso!
- Vai sim! - ele interrompeu - Não se faça de sonsa, pelo amor de Deus garota! Só você não percebeu que Nash, Cam e, agora, até o Jack G estão doidos por você.
- Isso não é verdade! - me senti mal porque lembrei do beijo em Nash e o meu desejo pelo Cam e agora o modo com que admirei Jack. Me senti culpada.
- É sim! - ele riu, como se pudesse ler minha mente, jogou na minha cara - Você sabe que é... Você e Nash sumiram, e você apareceu tranquila demais, enquanto Nash estava descaradamente tenso. Agora você e Jack... O que vocês estavam conversando? Estava contando para ele como você chupa bem?
- Cala a boca! - sem pensar, o empurrei com força para trás, ele cambaleou mas não perdeu o equilíbrio total - Você não me conhece, seu louco!
- Eu conheço seu tipo. - ele não pareceu nervoso com o fato de eu tê-lo empurrado, achou graça, pois o seu sorriso estava escondido no canto da boca.
Eu fiquei em choque. Não esperava tudo aquilo. Ele despejou a culpa de alguém em mim. Ele me crucificou por conta de outra garota. Aquilo me deixara mal. Eu estava péssima.
Quando ele saiu da cozinha, sem me dar tempo de falar mais nada, nem socar sua cara, que era o que eu queria fazer. Senti que o ar não estava entrando nos meus pulmões. Vi que a chuva havia parado, então fui para a sacada. O ar frio e o cheiro do mar, me aliviaram.
O ar voltou a entrar normalmente, mas eu ainda estava tensa, senti em meus músculos, que estavam contraídos.
- Está tudo bem? - ouvi a voz de Jack G, vindo de trás.
Não respondi, só o olhei, e acho que meu olhar entregou tudo, ele se aproximou de mim, e se apoiou na grade ao meu lado, perto o suficiente para o seu perfume se misturar ao ar que eu respirava e me fazer sentir seu cheiro doce.
- Eu posso ter ouvido alguma coisa que o Tay falou... - ele foi gentil, mas permaneci calada - Ele é legal, eu juro!
- Legal? Aham. - suspirei profundamente.
- É que foi difícil para ele... - tentou explicar.
- Difícil o que? - fiquei confusa, até que me toquei, que Taylor contou sua história para mim.
Uma garota, assim como eu, havia entrado na vida dos meninos. Ele se apaixonou loucamente por ela, mas ela não estava tão louca por ele assim. Traiu seu amor com os meninos. Os meninos o traíram, o fizeram de trouxa e ele estava mal com isso.
- Teve outra Callie em nossas vidas... Faz um tempo já, acho que uns dois anos. Ela apareceu na nossas vida assim como você, do nada. Você não se parece nada com ela, fisicamente, mas o seu jeito... É igual a ela, entende? Isso traz lembranças para Tay, e acho que machuca ele.
- O que aconteceu? - queria que ele explicasse mais.
- Quando essa Callie entrou em nossas vidas, ela usou todos nós. Fez todos nós nos apaixonarmos por ela. Ela é completamente louca! Só que Taylor foi longe demais... Ele amou ela tão cegamente, que não foi capaz de enxergar o que ela queria fazer.
- E o que ela queria fazer? - percebi que Jack G estava ficando triste com as lembranças, foi difícil pedir para ele continuar contando e lembrando de tudo, mas eu queria saber, precisava saber o resto da história.
- Ela queria nos colocar um contra o outro. Depois de todos nós nos apaixonarmos por ela, ela fez com que cada um fosse descobrindo o que já havia feito com ela, na esperança de brigarmos feio, mas nós percebemos sua intenção e ignoramos, tentamos deixar toda a história para trás, mas Taylor estava cego. Ele brigou com nós, e acabou jogando muita coisa no ar, coisas que eram segredos que nós havíamos contado para ele, e isso gerou uma briga enorme. Nos separamos por quase nove meses. Não nos falávamos mais... Nem eu e o Jack! Eu cresci com ele, eu acho que conheço tão bem ele, que sei quantas pintas ele tem no corpo! Isso foi gay, eu sei, mas é a verdade. - ele deu uma leve risada - Voltamos a nos falar a pouco tempo, por isso a "noite dos meninos" é tão importante... É a noite em que nenhuma menina entra nas nossas vidas. É a noite em que só nossa amizade prevalece. - ele sorria e olhava para o mar - Por isso Tay está tão abalado... Por você parecer com ela em atos e por estragar a "noite dos meninos"!
Eu fiquei mal por não ter compreendido Taylor antes. Por ter tratado ele mal e não entendido o motivo dele estar brabo comigo antes. Taylor havia sofrido tanto e eu estava trazendo todas essas lembranças...

À noite do jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora