𝟎𝟎𝟐| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

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𝟐

Assim que foi colocando os pés na empresa, Bernardo foi abordado na entrada por seu Antônio, um dos funcionários mais antigos e fiéis da SpaceBus.

— Algum problema com os ônibus, Antônio? — Bernardo perguntou enquanto atravessava o extenso pátio em direção a sua sala. Antônio seguia à risca atrás dele.

— Com os ônibus não, mas com a gente... — Apontou para um grupo de funcionários reunidos perto da garagem. — Não vemos a cor do dinheiro faz dois meses, senhor Bernardo. Não podemos trabalhar de graça por mais tempo, temos família para sustentar.

Bernardo parou de andar no mesmo momento e olhou para Antônio, confuso.

— Do que você está falando, Antônio? Eu mesmo confirmei o pagamento dos nossos funcionários. Está tudo marcado lá. — Bernardo explicou abrindo a porta da sua sala e a segurando até que Antônio entrasse. — Deve estar ocorrendo algum engano, e dos grandes.

— Realmente está. Não sei o que vocês andam fazendo aqui, mas nós não recebemos nossos salários há um bom tempo. — Bernardo o encarou desconfiado e abriu a gaveta de arquivos, retirando o registro de gastos do mês de junho e julho.

— Aqui está, a empresa arcou com todos os custos salariais. — Ele mostrou para Antônio o documento, que leu e pode comprovar o que Bernardo afirmava.

— Não sei o que está acontecendo nesta empresa, mas posso dar a minha palavra que esse dinheiro não chegou até nós! — Falou sendo o mais sincero possível.

Bernardo parou para pensar no que poderia estar acontecendo com o dinheiro, para onde ele estava indo se não para os bolsos de seus funcionários, e lembrou-se que já havia algum tempo que a empresa estava gastando bem mais do que o necessário, pelo menos era isso o que as planilhas para levantamento de custos tinham mostrado meses após meses.

— Desculpe, seu Antônio. Eu mesmo vou averiguar isso certinho e dou o retorno o mais breve possível para vocês. — Bernardo avisou. — Ninguém aqui vai ficar sem o seu devido pagamento. — Garantiu, Antônio agradeceu e se retirou da sala.

Bernardo ficou algumas horas pensando no que poderia estar acontecendo e como uma espécie de clarão tudo surgiu na sua cabeça. Ligou seu computador ao mesmo tempo em que abria alguns registros de gastos da empresa.

Era tão óbvio, como ele não havia pensado naquilo antes?

— Bingo! — Confirmou sua hipótese ao analisar melhor a situação. Estavam sendo roubados na cara dura e por quem eles menos desconfiavam.

Pegou o seu casaco no encosto da cadeira e juntou rapidamente suas coisas, correndo para pegar o seu carro. Precisava contar o que havia descoberto para Dorian, o diretor e cofundador da SpaceBus.

— Você tem plena certeza disso, Bernardo? Esta é uma acusação muito grave! — Dorian o fitou sério enquanto Bernardo jogava um monte de papeladas na sua frente.

— Tenho sim, estava tudo camuflado. — Mostrou para ele os desvios de dinheiro que Luiz fez para a sua conta pessoal, desde o mês de fevereiro. — Eu fui muito burro, desculpa, estava tudo acontecendo por debaixo do meu nariz!

— Não se culpe, Bernardo. Ele era um dos meus homens de confiança. — Dorian negou com a cabeça enquanto socava forte a mesa do escritório. O telefone de Bernardo tocou alto por toda a sala.

— É a minha esposa. Ela tem uma apresentação hoje. — Explicou, olhando as horas no relógio digital. Teria que se apressar para chegar ao teatro a tempo.

— Sem problemas. — Dorian sorriu tendo ciência de que a mulher de Bernardo era bailarina profissional. — Fique tranquilo, vou imediatamente tomar medidas contra isso. Quanto aos funcionários, eu preciso que você tente acalmá-los...

Dorian acrescentou mais algumas coisas e finalmente Bernardo pode correr para o centro da cidade. Com sorte, ainda pegaria a estreia de Lívia no início.

Bernardo passou correndo pelos seguranças na entrada do teatro e seguiu para a sala principal, no térreo, que estava toda escura e tocava uma música melancólica

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Bernardo passou correndo pelos seguranças na entrada do teatro e seguiu para a sala principal, no térreo, que estava toda escura e tocava uma música melancólica.

Assim que Bernardo abriu a porta e direcionou-se a uma cadeira na primeira fileira da lateral, pôde ver com clareza a sua Lívia movendo-se com maestria pelo palco. Pelo jeito o espetáculo já havia atingido a sua metade de duração.

Ela estava incrivelmente bela. Sempre gostou de vê-la dançando, afinal a conheceu assim. Lívia acabava se transformando em uma outra pessoa. Era simplesmente maravilhoso ver como ela se dedicava àquilo de corpo e alma, como aquilo havia se tornado a vida dela.

Contemplava o modo como ela ficava nas pontas dos pés e abria ligeiramente os braços no ar, isso enquanto se movia pelo palco em uma velocidade impressionante. Nunca iria entender como ela se sentia em relação a tudo isso, com todos a observando tão atentamente. Qualquer erro ou falha, eles perceberiam facilmente.


 Qualquer erro ou falha, eles perceberiam facilmente

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