𝟎𝟏𝟑| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

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𝟏𝟑

— Boas notícias, meu velho. — Afonso entrou na sala sorridente. Caminhou apressado até Bernardo, que dava um trago no cigarro na área da varanda. — Consegui os horários da mulher do Luiz Schumacher.

— Sério? — Bernardo perguntou, virando-se para Afonso. Jogou o cigarro no chão e pisou com a sola do sapato para apagá-lo, agachando-se logo em seguida para jogá-lo no lixo.

— Seríssimo. Parece que ela faz yoga todos os dias em uma academia perto da casa dela, e aos sábados e domingos caminha na praia. — Afonso olhou as horas no seu relógio de pulso. — Se você correr, ainda pega ela lá. — Constatou.

Já havia se passado uma semana desde que Bernardo encontrou Vanessa por acaso na praia. E ele não perderia uma oportunidade daquelas. Pegou apenas sua carteira e a chave do seu carro em cima do mármore da cozinha e correu para a praia.

Demorou um certo tempo até que Bernardo finalmente avistasse Vanessa se aproximando correndo pelo calçadão da orla. Já estava pensando em desistir e voltar para a casa.

Ela não estava muito diferente de quando a viu semana passada. Seu cabelo longo estava preso em um coque bagunçado, trajava uma roupa de ginástica que modelava bem seu corpo e tinha no rosto um gracioso óculos escuro.

Quando Vanessa viu Bernardo no meio do seu caminho, não disfarçou a surpresa enquanto puxava os fones de ouvido e tirava os óculos.

— Você por aqui? — Vanessa sorriu. — Que coincidência!

— Ou não... — Bernardo respondeu e também sorriu para quebrar o clima estranho.

— Você mora por aqui perto? — Ela perguntou enquanto guardava as coisas dentro da sua pequena mochila.

— Perto do centro, mas estou desempregado e gosto de vir aqui, então... — Ele deu de ombros.

— Ah, eu moro na rua de trás. Costumo sempre correr esse horário. Não pense que estou te perseguindo, não! — Vanessa brincou e deu risada. Mal sabia ela que era Bernardo que lhe estava seguindo.

Bernardo riu e a convidou para tomar uma água de coco em uma barraca perto dali. Vanessa aceitou sem nem mesmo hesitar, acompanhando-o até o tal lugar. Deixou sua mochila na cadeira vaga ao seu lado enquanto se sentava em frente a Bernardo.

— Duas águas de coco, irmão. — Ele pagou o funcionário, que saiu para buscar os pedidos. Não demorou muito e ele já estava de volta. — Obrigado. — Agradeceu, oferecendo um a Vanessa.

Os dois ficaram em silêncio por um bom tempo, sem saber o que falar. Bernardo não sabia como tocar no assunto sem ser indelicado.

— De onde você conhece o meu marido? — Vanessa perguntou de repente, olhando para Bernardo do outro lado da mesa.

Bernardo deu de ombros.

— Ele trabalhava na mesma empresa de ônibus que eu era contador, mas isso faz tempo. — Bernardo explicou. — E você, onde conheceu ele?

Vanessa olhou para os lados, envergonhada.

— Em uma festa beneficente... Eu era uma atriz conhecida e costumava frequentar esses tipos de locais, e em uma dessas festas encontrei Luiz. — Suspirou triste, olhando para as ondas se quebrando no horizonte. — Eu me apaixonei. Ele me mostrou ser uma pessoa bem diferente do que é hoje em dia.

Bernardo ficou encarando o perfil dela, calado, respeitando o momento.

— O que eu tinha na cabeça quando aceitei abrir mão dos meus sonhos, Bernardo? Eu sempre quis ser mãe, carregar um bebê dentro de mim. — Ela tocou o ventre. — E agora tudo acabou.

— Lógico que não, Vanessa. — Bernardo negou. — Você ainda é nova, bonita, tem tudo para encontrar outra pessoa e reconstruir a sua vida. — Estendeu a mão dele sobre a mesa e agarrou a dela, que estremeceu com o contato. Sabia o que ele tinha feito no passado, mas, no entanto, se sentia segura e feliz. — Só precisa de um pouco de iniciativa da sua parte. Você não pode ter medo, Vanessa, não pode deixar o seu marido te intimidar assim.

Vanessa sorriu, concordando com a cabeça, e olhou para as mãos dos dois unidas em cima da mesa.

— Pesquisei sobre você quando cheguei em casa aquele dia. Senti a necessidade de saber mais sobre o meu herói. — Vanessa confessou, mudando totalmente de assunto. Bernardo conhecia aquele olhar, sabia direitinho o rumo que aquela conversa tomaria. — Por que você fez aquilo a sua esposa? — Perguntou curiosa. Bernardo não notou nenhuma repudia ou acusação no tom de voz dela.

Ele desviou os olhos de Vanessa. Não queria falar sobre aquilo, na verdade não queria falar sobre nada da sua vida, mas sabia que para conquistar a confiança dela teria que abrir o jogo aos poucos. E aquilo incluía o seu passado.

— Eu amava a Lívia mais que tudo. E ainda a amo, ela sempre será uma parte de mim. De tudo o que eu sou. — Bernardo voltou a olhá-la nos olhos. — Matar minha mulher foi a coisa mais difícil que eu já fiz na minha vida.

— Então por que você fez, Bernardo? Por que matou a sua mulher? — Ela perguntou incrédula, segurando as duas mãos dele.

— Eu tive motivos.

— Quais? — Vanessa insistiu.

— Você ainda não está preparada para sabê-los. — Ele garantiu, sorrindo de leve. Vanessa acenou a contragosto, disfarçando uma carranca. — Na hora certa eu vou te contar, Vanessa. Absolutamente tudo.

 Absolutamente tudo

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