𝟎𝟎𝟔| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

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— Você está bem? — Bernardo perguntou à Lívia, fechando a porta do quarto e se aproximando da cama.

— Por que eu não consigo me mexer? — Lívia questionou antes mesmo de respondê-lo, aquilo estava realmente a deixando agoniada.

Bernardo encarou Lívia diante de si, fragilizada, sem ter coragem suficiente para contar a verdade. Não tinha ideia de como dizer aquilo sem machucá-la tanto, sem ferir seus sentimentos de forma irreparável.

— Eu só quero ter coragem de te contar toda a verdade, mas, eu não tenho... — Ele murmurou com a voz embargada, negando com a cabeça. Lívia franziu o cenho. — Eu preciso que acima de tudo você mantenha a calma, tudo bem?

— Eu estou bem calma, Bê. — Lívia falou simplesmente, esperando enfim ele se pronunciar.

— Liv, eu conversei com o seu médico. — Bernardo começou a dizer e avaliou a reação dela. Nada. Nem um mínimo de esboço. — Você não... — Respirou fundo. — Você fraturou a medula espinhal, amor. Se tivéssemos chegado um pouco antes no hospital, a lesão poderia ter sido parcial, mas...

— Eu não vou mais andar? É isso? — Lívia o interrompeu preocupada, engolindo em seco. Bernardo abaixou a cabeça antes de acenar, concordando.

O coração de Lívia saltou tão forte no peito, que por um momento ela pensou que ele havia saído para fora. Não podia ser verdade, ela tinha uma vida bem ativa, vivia da dança, não podia ficar inválida em uma cadeira de rodas.

— Não, não e não! — Lívia negou com a cabeça repetidamente. — Eu não fiquei aleijada, Bernardo! Não posso! Não me fale isso! — Gritou, se irritando com o olhar de pena dele. — Você me disse que era por causa da cirurgia! Por que mentiu para mim?

— Lívia, me perdoa, meu amor. Eu... eu não sabia como te contar. E além disso, eu precisava de uma confirmação que você estava mesmo tetraplégica.

— Tetraplégica? — Ela murmurou com um fio de voz, franzindo o cenho. Era pior do que pensava, não só ia ficar sem mexer as pernas como também os braços.

Para sempre...

Bernardo se afastou um pouco da cama, dando as costas para ela, e esfregando o rosto com uma força exagerada, como quisesse se punir por não ter cuidado dela, não o suficiente para evitar a tragédia.

— Não existe nenhuma chance de eu ficar boa? De voltar a andar? — Lívia perguntou com uma pontada de esperança.

Hoje em dia existiam tantas cirurgias, tantas tecnologias e modernidade.

Porém, a sala ficou em um duro e total silêncio por alguns segundos, apenas com o barulho dos aparelhos que monitoravam Lívia no quarto.

— Não... É irreversível, Liv. — Bernardo foi direto ao ponto, evitando de olhá-la nos olhos.

Lívia segurou o máximo que pôde, mas logo explodiu em lágrimas dolorosas. Aos prantos, negou com a cabeça. Jamais aceitaria aquela condição de vida.

Bernardo respeitou o momento de dor dela, vendo com angústia como ela movia apenas o pescoço para um lado e para o outro.

— Então a gente só tem um jeito. — Lívia falou depois de cessar um pouco o choro.

— Que jeito?

— Se eu não posso dançar, acabou... — Lívia desabafou olhando para ele, que se pôs novamente ao seu lado. — Entende o que eu estou falando?

— O quê? Não, nem pensar! — Bernardo negou prontamente assim que compreendeu o que ela estava insinuando com o olhar. — Se é disso que você está falando Liv, então nem comece. — Passou os dedos pelo cabelo, nervoso. — Nem termine, nem pense, de jeito nenhum! — Negou enquanto forçava uma risada. — Não... Eu jamais faria isso.

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