Justiça

𝟎𝟏𝟎| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

𝟏𝟎

— Você está bem? — Bernardo perguntou preocupado assim que a viu abrir os olhos azuis.

A mulher olhou em volta, confusa, e aos poucos a consciência foi retornando e ela se deu conta de que não estava morta.

Olhou furiosa para Bernardo. Quando ela finalmente tomou coragem para acabar com tudo, ele a tinha tirado da água!

— Por que fez isso? — Bernardo perguntou, sacudindo-a pelos ombros.

— Por que não me deixou morrer? — Ela esbravejou inconformada. Retirou de uma só vez as mãos daquele homem de cima dela. — Não quero mais viver, você não entendeu isso?

— Jamais deixaria alguém se matar na minha frente, pelo menos não sem fazer nada! — Bernardo disse. — Sabe qual é o preço de uma vida, garota? Você está completamente maluca se acha que pode tirá-la assim de você!

— A vida é minha, dane-se o que você pensa! — E inesperadamente ela começou a chorar. — Eu quero morrer. Não aguento mais essa vida medíocre!

— Tenta se acalmar primeiro, por favor. Você não está raciocinando direito. — Bernardo tentou tranquilizá-la e a abraçou. De longe viu Afonso se aproximando e sinalizou para que ele esperasse mais um pouco. — Olha, me chamo Bernardo e você?

A moça ainda abraçada a ele pensou se deveria dizer o seu nome, afinal era perigoso e mal o conhecia. Mas depois de algum tempo se convenceu de que sim, ele a havia salvado apesar de tudo.

— Vanessa. — Ela sussurrou. — Meu nome é Vanessa Schumacher.

— Schumacher? — Bernardo repetiu. Esse era o mesmo sobrenome de Luiz, o homem que matara sua mulher.

Vanessa concordou com a cabeça.

— Por que tentou se matar, Vanessa? — Ele perguntou confuso. — Você é uma mulher bonita, jovem, cheia de vida. Qual o motivo para tentar acabar com isso?

— Eu sou infeliz, odeio a minha vida com todas as forças. — Ela confessou, realmente ressentida. — Moro com um cara que me trai constantemente e me odeia, não tenho filhos e nem família. Eu estou sozinha no mundo... — Recomeçou a chorar.

— Então por que não vai embora?

— Ele não deixa. — Vanessa negou com a cabeça, triste. — Da última vez que eu tentei fugir, ele me achou. Bateu tanto em mim que eu quase morri. — Explicou com vergonha. — Eu também fui uma burra, larguei minha carreira de atriz para ficar com ele. O que uma pessoa apaixonada não faz, não é? — Riu amargurada.

— Você fez o certo Vanessa, largou tudo que tinha para viver o amor que você sentia por ele. — Disse e pousou a mão sobre a dela, que abaixou os olhos para aquele ato. — Uma pena que tenha sido tão mal recompensada.

Vanessa sorriu pela primeira vez e olhou para o seu relógio de pulso. Levantou-se rapidamente quando constatou que estava atrasada.

— Preciso ir! — Vanessa informou e estendeu a mão para Bernardo. — Desculpa se eu fui grossa com você, estou tendo um mau dia. Mas obrigada por me salvar. Mesmo não me conhecendo, você mostrou ser um homem de bom coração, obrigada.

Bernardo correspondeu o aperto de mão dela e a observou se afastar.

— Vanessa? — Ele gritou e a mesma se virou para ele, distante. — Você tem algum tipo de parentesco com Luiz Schumacher? — Perguntou antes que ela fosse embora.

Vanessa enrugou a testa e voltou a se afastar em direção ao calçadão, mas quando chegou em uma distância razoável voltou a olhar para trás.

— Ele é o meu marido. — Vanessa gritou em resposta e se foi.

Seria um sinal à Bernardo?