𝟓
Bernardo esperava por horas Lívia acordar, ansioso, e se assustou ao vê-la piscando os olhos e em seguida abrindo-os lentamente.
— Lívia, amor? Que bom que você acordou, estou aqui contigo! — Disse, aproximando-se da cama e agarrando a mão dela. Lívia apenas permaneceu em silêncio. — Fala alguma coisa, por favor.
— O que aconteceu? — Perguntou confusa, olhando em volta do pequeno quarto branco.
— Um acidente, você foi atropelada. — Bernardo explicou, notando a confusão nos olhos dela.
— Eu não me lembro... — Lívia afirmou com a feição séria. Não sorriu para tranquilizá-lo ou qualquer coisa do tipo, como faria de costume.
Bernardo a encarou por longos minutos. Aquela mulher não se parecia nem de longe com a sua Lívia, cheia de vida e alegre.
Àquela Lívia estava apagada, com os olhos opacos e uma aparência abatida, era como se alguma coisa dentro dela tivesse morrido, ou se quebrado.
— Tiveram que te operar. — Bernardo rompeu o silêncio, engolindo em seco após se lembrar do que aconteceu e lhe foi dito.
— Eu não estou sentindo... — Respirou fundo tentando encontrar forças. — Não estou sentindo meu corpo, Bernardo.
O mesmo voltou a ficar evidentemente nervoso, o que imediatamente alertou Lívia.
— Deve ser por causa da operação, mas o importante é que você está viva. — Bernardo a beijou demorado. E logo em seguida inventou uma desculpa de que precisava usar o banheiro e deixou o quarto.
Bateu a cabeça fortemente na parede enquanto olhava inconformado para o raio x em suas mãos. Negou com a cabeça e entrou na sala do médico novamente.
— Isso não pode ser verdade, doutor. Minha mulher é bailarina, acabou de estrear um espetáculo! — Ele lamentou, puxando os cabelos com as mãos. Jogou o raio x em cima da mesa e cruzou os braços em cima do peito.
— Acalme-se, senhor Ferreira, e sente-se um pouco. — Apontou para cadeira à sua frente. Assim que ele se sentou, o médico fez o mesmo. — Sinto muito Bernardo, mas a coluna foi fraturada e deslocada, seccionando a medula. — Falou em tom de lamento. Lívia era uma paciente tão jovem, vivaz, seria um grande baque para ela. — Se ela tivesse chegado ao hospital um pouco antes, talvez a gente tivesse a chance lúcida de uma lesão parcial e não total.
— Ela não vai ficar tetraplégica, isso não pode acontecer! — Bernardo negou veementemente com a cabeça, escondendo o rosto entre as mãos. — Doutor, como eu vou dizer a mulher que eu amo que ela ficou inválida? — Sussurrou.
— Mas ela pode levar uma vida confortável, senhor Ferreira. Existem muitos aparelhos que vão ajudá-la... — O médico tentou justificar.
Bernardo pegou o raio x novamente e olhou.
— Ela não vai voltar a andar? — Bernardo perguntou, ainda sem conseguir acreditar no que estava ouvindo.
— Senhor Ferreira, sua mulher não vai conseguir mexer um músculo do pescoço para baixo. Nunca mais. — O médico anunciou pausadamente, esperando por qualquer reação vinda da parte dele, mas não veio. Bernardo estava simplesmente perplexo.
— Que lugar maravilhoso, Bernardo! — Lívia exclamou deslumbrada enquanto olhava ao redor.
Bernardo a tinha levado de olhos vendados para um dos lugares mais belos que já conheceu até então. Estavam no alto de uma colina e de lá dava para se ver quase todo o Rio de Janeiro, desde a Praia de Copacabana até o Pão de Açúcar.
— Nunca tinha vindo aqui. — Lívia comentou, virando-se para ele e o beijando rapidamente. — Obrigada!
— Venho aqui desde moleque, é o meu lugar, sabe? Onde penso em tudo quando estou confuso. — Bernardo segurou as mãos dela. — Meu lugar especial. Achei que um pedido importante deveria ser feito em um lugar importante.
Lívia sorriu e voltou a beijá-lo, contente. Ela vivia sorrindo desde que conheceu Bernardo, em 2002. Lógico que os dois brigavam, ou melhor se dizendo, discutiam, mas o namoro de ambos ia de vento e polpa.
— Lembra de quando nós nos conhecemos? — Bernardo perguntou, abraçando-a pelo ombro e os virando para o entardecer do dia. Havia algumas manchas alaranjadas no céu, onde o sol se preparava para se pôr completamente.
— Impossível não me lembrar do dia mais feliz da minha vida. — Ela sorriu apaixonada.
— Da nossa. — Bernardo corrigiu. — E pensar que eu quase não fui... — Riu negando com a cabeça, lembrando-se do dia que se recusava a ir com sua mãe para uma peça teatral. Peça esta que mais tarde ele soube que Lívia faria parte. — Aquele dia eu senti que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.
Inevitável foram os olhos de Lívia não se embargarem com as palavras dele. Ela sentiu a mesma coisa quando Bernardo a convidou para sair, assim que terminou um dos seus primeiros espetáculos como profissional.
Bernardo esperou Lívia ficar em frente a ele para enfim começar a dizer o que estava querendo.
— Desde o primeiro dia eu sabia que você era a mulher da minha vida, aquela a quem eu deveria dedicar todo o meu carinho. — Lívia abaixou a cabeça rapidamente, envergonhada. — A cada ano eu te amo mais e mais, e eu sinto que você me completa em todos os sentidos. — Bernardo falou sorrindo. — Você preencheu um espaço que eu nem entendia que estava vazio, Lívia.
— Bê... — Lívia falou com a voz chorosa, abraçando-o pela cintura.
— O seu amor me transformou, e agora tudo que penso é em dividir minha vida com você. Por isso, meu amor, preciso te fazer uma pergunta e espero que você não a recuse. — Lívia chorou mais ainda quando o viu se ajoelhar em sua frente, tirando do bolso uma caixinha preta e aveludada. — Lívia Sousa, você aceita se casar comigo?
— Claro que sim, meu amor! Sim, sim, sim... Eu te amo! — Lívia chorou enquanto pulava no colo dele, que a rodopiou no ar.
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Justiça
FanfictionQuando a perda é irreparável, nada pode trazer alguém de volta. E, o que resta é o vazio. Existe justiça na vingança? Finalizada em: jan 12, 2017. A HISTÓRIA É DA MINHA AUTORIA, ENTÃO NÃO SE ESQUEÇA QUE PLÁGIO É CRIME COM PENA PREVISTA EM LEI, DETEN...