𝟕
Bernardo acariciava a mão gélida de Lívia enquanto encarava o silêncio da noite. Lá fora garoava um pouco e o ar estava úmido por causa da chuva fina. Lívia costumava a adorar o tempo quando estava assim.
— Faz aqui no meu rosto, no corpo eu não sinto nada. — Lívia falou fazendo com que Bernardo voltasse os olhos para ela.
O aperto no peito ainda estava constante em Bernardo e sequer diminuiu um pouco quando ele se abaixou para capturar os lábios de Lívia.
O beijo estava diferente, não era o mesmo. Sentia falta do modo acolhedor que Lívia o abraçava enquanto lhe beijava com todo o amor do mundo. Mas mesmo assim seu coração era dela, batia por ela.
Bernardo se separou lentamente e fitou Lívia, que permanecia de olhos fechados.
— Eu nunca faria uma coisa dessas com alguém, não faria... — Negou com a cabeça. Afinal estava apto a carregar o peso da culpa nas costas pelo resto da sua vida.
— Eu sei, meu amor, você está fazendo por mim.
— E se eu me arrepender depois, hum? E se eu não conseguir viver sem você, Lívia? — Bernardo perguntou engolindo o nó que se formara na sua garganta.
— Eu não estou mais aqui, Bê... — Lívia sussurrou, olhando-o séria. — Essa não sou eu. É apenas um resquício da Lívia que morreu na frente daquele teatro.
Bernardo se afastou ainda inconformado e pegou uma maleta do outro lado do quarto. Levou para uma mesinha perto da cama de Lívia e abriu. Passou a costa das mãos sobre os olhos, secando algumas lágrimas que insistiam em cair pelo seu rosto desolado.
— Bernardo, vem aqui. — Lívia chamou, virando um pouco o pescoço e esperou ele se aproximar. — Não importa o que os outros vão dizer, meu amor. Você e eu sempre saberemos o que aconteceu.
— Meu medo não é os outros, Lívia. — Bernardo suspirou.
Lívia concordou com um rápido aceno.
— Coloca o celular para gravar. — Ela pediu pacientemente. Bernardo tirou o celular do bolso e abriu a filmadora, apontando o celular para uma Lívia imóvel na cama. Colocou para gravar. — Eu sou Lívia Ferreira, hoje é dia 28 de julho de 2009, e eu pedi para o meu marido me matar. — Bernardo colocou a mão na boca para abafar um soluço de dor quando a realidade bateu. Hoje seria seu último dia com Lívia, com a mulher da sua vida. Fungou enquanto Lívia o olhava séria. — O Bernardo não é um assassino, ele é inocente, a escolha foi unicamente minha. — Deu uma pausa para respirar fundo. Era muito triste ver seu marido sofrendo daquela forma. — Eu admiro muito as pessoas que conseguem passar por isso e seguir em frente, mas... Eu já estou morta. — Afirmou convicta. — E não foi o acidente que me deixou assim. Acidente foi eu não ter morrido. — Bernardo virou o rosto para o outro lado e não conteve mais as lágrimas quando a ouviu dizer aquilo. — Não julguem errado o meu marido... Ele está me salvando.
Bernardo encerrou a gravação e voltou a guardar o celular no bolso. Suas mãos tremiam sem parar.
— Ainda dá tempo de desistir...
— Nós não temos motivos para isso! — Lívia aumentou um pouco o tom de voz e Bernardo deu as costas para preparar a seringa com a eutanásia, em silêncio.
Posicionou a ponta da seringa no tubo de soro que Lívia tomava, reunindo toda a coragem que tinha para continuar com aquilo.
— Você não vai sentir dor, só um pouco de sono. — Ele informou enquanto finalmente injetava o líquido pelo seu corpo.
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Justiça
FanfictionQuando a perda é irreparável, nada pode trazer alguém de volta. E, o que resta é o vazio. Existe justiça na vingança? Finalizada em: jan 12, 2017. A HISTÓRIA É DA MINHA AUTORIA, ENTÃO NÃO SE ESQUEÇA QUE PLÁGIO É CRIME COM PENA PREVISTA EM LEI, DETEN...