𝟎𝟏𝟏| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

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— Eu estou te falando, cara. Fiquei frente a frente com a esposa do desgraçado. — Bernardo contou, furioso ao se lembrar de Luiz.

— Não vá fazer nada contra ela, Bernardo. A mulher não tem culpa pelos erros dele. — Afonso argumentou sendo compreensível.

— Claro que não, Afonso! — Bernardo bufou. — Ela odeia o marido quase tanto quanto eu. — Respondeu. — Acredita que ele bate nela? Ainda por cima fica ameaçando caso ela vá embora. Que tipo de covarde ele é?

— Do tipo que inferniza tanto que faz a própria esposa querer cometer suicídio... — Afonso revirou os olhos.

Bernardo caminhou até a sacada da sua casa e olhou em volta, o bairro continuava sendo o mesmo. Calmo e sereno. Mas inesperadamente seus olhos foram atraídos para um cartaz de política, colado na parede do poste de luz.

Arregalou os olhos ainda sem acreditar no que estava vendo.

— Estava esperando o momento certo pra te contar, sabia que ficaria furioso. — Afonso falou observando uma fúria se alastrar pela íris de Bernardo.

— Furioso é pouco para o que eu estou sentindo! Como assim esse filho da puta está se candidatando a governador? — Bernardo grunhiu, apertando os olhos. — Não é possível. — Negou com a cabeça.

Afonso se aproximou dele, descansando uma de suas mãos no ombro de Bernardo.

— Um ano depois que você foi preso, Luiz começou a criar uma carreira sólida na política. Conseguiu alianças fortes dentro do senado, é quase certa a vitória dele nessa eleição, eu sinto muito. — Afonso disse temendo a reação de Bernardo, que só veio minutos depois.

— Desgraçado! Maldito! — Ele gritou tacando o abajur na parede, que se espatifou no mesmo instante. — O mais bondoso dos homens públicos? — Leu incrédulo a frase que estava estampada embaixo da foto de Luiz. Sentiu uma queimação dentro de si e uma revolta que dominava todo o seu corpo e sentidos.

Maldição! Que bondoso aquele homem era? Atropelou a sua mulher anos atrás e friamente fugiu do local sem prestar socorros! Nunca houve preocupação da parte dele, nunca buscou saber se Lívia havia sobrevivido ou não aquele acidente.

Que tipo de bondade era aquela?

— Você quer que eu os tire daqui? — Afonso perguntou tirando Bernardo dos devaneios.

— O quê? — Virou-se para ele confuso.

— Os quadros... — Afonso respondeu apontando para as paredes. Bernardo sequer percebeu, mas estava olhando fixamente para eles segundos atrás.

— Ah... — Bernardo encolheu os ombros e olhou para um quadro novamente. Era uma foto de Lívia e ele no casamento da melhor amiga dela. — Ray... — Sussurrou, pela primeira vez pensando nela. Onde será que a mesma estava? Quando Lívia sofreu o acidente e morreu, Rayane estava viajando e, provavelmente, deveria ter ficado abalada com a notícia.

— Não escutei direito, mas posso tirá-los daqui rapidinho. — Referiu-se aos quadros novamente.

Bernardo olhou para ele e negou com a cabeça.

Não queria acabar com as últimas lembranças que havia restado de Lívia. Ela faria parte da sua vida para sempre.

— Amanhã mesmo irei procurar a Vanessa, só preciso que você descubra o endereço e os horários dela. — Pediu a Afonso, que concordou. — Vou fazê-la me ajudar a desmascarar aquele cara... — Afirmou. De início tinha em mente matá-lo, mas a morte seria muito pouco para ele. Queria vê-lo sofrendo do mesmo modo que ele sofreu. — Com certeza Luiz tem alguns podres e é com eles que vou colocá-lo na cadeia, juro pra você.

— Isso aí, irmão. — Afonso tocou na mão de Bernardo e o puxou para um abraço. — Agora podemos sair para beber alguma coisa, comemorar sua liberdade.

— Não quero! — Foi interrompido por Afonso.

— ... E o início da queda de Luiz Schumacher. — Sorriu e Bernardo repensou na resposta.

Decidiu aceitar o convite e talvez depois sairia para procurar Rayane, devia mais do que explicações para ela.

— Pode esperar um instante lá embaixo? — Bernardo pediu, encaminhando-se para o corredor e passando reto pela vitrola de Lívia. — Preciso tomar um banho.

— Claro, qualquer coisa é só chamar. — Falou antes de bater à porta da frente.

Bernardo passou pelo banheiro e andou até o seu quarto, que estava com a porta meio entreaberta. Respirou fundo tomando coragem enquanto descansava a mão sobre a maçaneta.

Sentiu um aperto no peito quando entrou e encontrou tudo no seu devido lugar, do jeito que Lívia havia deixado antes do acidente. A não ser pelo forro de cama, que Afonso tinha trocado.

Caminhou até a sua cama e se sentou ali, pensando no quanto a sua vida tinha mudado naqueles últimos sete anos. As memórias de Lívia ainda continuavam vivas e frescas na sua cabeça.

Lívia gargalhava alto enquanto observava Bernardo se enrolar todinho para tirar sua própria calça. Os dois tinham bebido além da conta e mal conseguiam raciocinar direito.

— Por que não para de rir de mim e vem cá me ajudar?

— Desculpa amor, mas você está muito engraçado! — Lívia disse ignorando o pedido dele e rindo ainda mais.

Bernardo por fim conseguiu se despir e caminhou meio cambaleante em direção a Lívia, jogando-se por cima dela.

— Bê, você vai me matar sufocada! — Lívia gargalhou tentando tirá-lo de cima dela. — Saaai! — Empurrou ele pelos ombros. Bernardo se afastou apenas um pouco, apoiado nos cotovelos, o suficiente para conseguir beijá-la nos lábios.

— Estou muito, muito, feliz por você agora ser minha mulher. — Bernardo disse e riu. — Gosto de como soa essa palavra. Minha. — Explicou.

— Sim, sou sua. — Confirmou sorridente. — E você é meu. Simples assim. Vamos viver um pelo outro agora.

Bernardo despertou de tal pensamento assim que sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Ele havia falhado, não conseguiu protegê-la. Não tinha cumprido com a sua promessa e era isso o que mais o atormentava.

Mas agora tinha que ser forte, tinha que tomar decisões sábias. Teve sete anos para se lamentar de tudo, agora era hora de fazer justiça.

Deixou o seu corpo carregá-lo automaticamente até o banheiro e lá tomou seu primeiro banho após uma longa temporada fora de casa.

Deixou o seu corpo carregá-lo automaticamente até o banheiro e lá tomou seu primeiro banho após uma longa temporada fora de casa

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