𝟎𝟏𝟐| 𝓙𝓾𝓼𝓽𝓲𝓬̧𝓪

528 56 3
                                    

𝟏𝟐

O passeio com Afonso tinha sido mais agradável do que Bernardo imaginara. Teve alguns momentos que ele até se permitiu esquecer dos problemas e se divertir um pouco. Ficaram mais ou menos por duas horas em uma churrascaria perto do calçadão da praia, até Bernardo dizer que precisava rever uma amiga.

Afonso ficou um pouco receoso em deixá-lo sozinho justo no primeiro dia dele longe da penitenciária, mas Bernardo rapidamente o tranquilizou dizendo que estava bem.

Agora, estava parado em frente ao prédio que Rayane e o seu marido, Diego, moravam há alguns anos atrás. Na verdade, ele não sabia se os dois ainda viviam ali, mas era a única pista que ele tinha.

Na portaria, deixaram o entrar sem contestar, por ele já ser um conhecido. Bernardo subiu de elevador até o oitavo andar, onde ficava o apartamento de Rayane.

Depois de juntar uma coragem até então inexistente, tocou a campainha da porta sem conseguir controlar o evidente nervosismo. Não sabia como seria recebido.

Após o segundo toque, ouviu o som do trinco e a porta sendo aberta, revelando uma jovem e bela moça, com curtos cabelos negros e olhos brilhantes. O sorriso com covinhas de Rayane congelou assim que viu Bernardo do outro lado, com o semblante fechado.

Haviam tantas coisas a serem ditas entre eles, mas os dois apenas continuaram em silêncio por algum tempo, sem conseguir pronunciar sequer uma palavra.

— O que está fazendo aqui? Saiu da cadeia? — Rayane perguntou seca, com uma máscara de indiferença no rosto.

— Nós precisamos conversar, Ray. — Bernardo respondeu engolindo em seco. Já tinha vindo preparado para aquele tipo de reação, mas doía do mesmo modo.

— Eu discordo. Você não é mais bem-vindo na minha casa, vai embora! — E bateu a porta na cara dele.

Bernardo suspirou um pouco assustado e logo encostou a cabeça na porta.

— Você acha que sabe de tudo Rayane, mas a verdade é que não sabe de nada. — Bernardo falou sabendo que ela estava ouvindo do outro lado. E tinha razão, Rayane estava parada diante da porta enquanto encarava a mesma, ainda chocada com a aparição dele. — Você precisa ouvir a minha versão da história, a única verdadeira.

— Você matou a Lívia! — Rayane gritou exaltada, permitindo-se enfim se debulhar em lágrimas.

— Não! Jamais mataria a minha mulher, eu a amava, porra! — Ele respondeu elevando o tom de voz também. — Droga Rayane, você está errada!

Os dois voltaram a ficar em silêncio, só ouvindo o choro um do outro. Ambos tinham perdido uma pessoa especial em comum.

Bernardo voltou a ouvir a porta sendo aberta e levantou os olhos, encarando uma Rayane pálida, com as bochechas coradas e os olhos embargados de tristeza.

— Ela te amava mais do que tudo nessa vida, como você foi capaz? — Rayane chorou e Bernardo deu alguns passos em direção a ela. — Eu te odeio! — Falou fungando, dando alguns soquinhos fracos no peito dele, mas mesmo assim permitiu que Bernardo a abraçasse.

Nesses longos anos havia recebido apoio e conforto de muitas pessoas, até mais do que poderia imaginar, mas assim que Bernardo acolheu-a nos braços, percebeu que sentia falta do dele.

— Agora só me escuta tá bom? — Bernardo disse, afastando-a. Entrou por completo e fechou a porta, caminhando para sala de visitas. — Lívia pediu para eu fazer a eutanásia nela. — Confessou evitando olhá-la diretamente nos olhos. — Eu não queria, não mesmo, mas você sabe como ela era. Me disse um monte de coisas, que já estava morta, me implorou para eu fazer! — Esfregou as pálpebras com os dedos enquanto praguejava baixinho. — Merda, você acha mesmo que eu mataria a mulher que eu amava por ela estar inválida? Eu podia conviver com isso, Rayane! Mas Lívia não podia!

A mesma estava chocada, dava voltas e voltas na sala, andava em círculos enquanto pensava no que Bernardo dizia. Não podia ser verdade, passou os últimos anos o condenando e até havia comemorado quando soube que ele tinha sido preso.

— Você não sabe o quanto dói eu olhar pra você, a mulher que presenciou de perto o meu amor pela Lívia, e ver isso nos seus olhos. — Bernardo falou magoado, enfim olhando para Rayane. — Raiva, rancor, culpa. Mas não tenho medo disso, do seu julgamento. Eu prometi a Lívia que não teria, sabia o que enfrentaria a partir do momento que a ajudei com aquilo. Mas eu fiz por amor, Rayane. Amor... — Ele sussurrou, negando com a cabeça enquanto novas lágrimas lhe brotavam os olhos. — Vou te dar um tempo para pensar, sei que está magoada e respeito o seu espaço.

Em seguida se virou novamente para a porta de entrada. Rayane o chamou quando estava quase fechando a mesma.

— Onde você está morando? — Rayane perguntou tímida.

Bernardo sorriu.

— No lugar onde eu vivi as melhores recordações da minha vida. — Ele respondeu simplesmente e partiu.

Rayane entendeu muito bem o recado e se sentiu ainda anestesiada pela notícia. No fundo, sabia que ele jamais faria aquilo com Lívia, não sem um propósito.

 No fundo, sabia que ele jamais faria aquilo com Lívia, não sem um propósito

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
JustiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora