- Deo está na hora de ir jantar.
- que horas são?
- 10:30 h
- Dá-me dois minutos.
O meu pai sai do meu quarto e decido vestir o pijama. Estou demasiado cansada para ir tomar um banho.
Desço as escadas e dirijo-me à cozinha. O meu pai já está sentado à minha espera.
Decido qual será o meu lugar a partir de hoje e sento-me. Durante os primeiros dez minutos estamos calados até que ele finalmente diz:- A escola já começa dentro de dois dias. Amanhã vamos comprar-te todo o material que precisas e os livros. Se quiseres podemos ir também às compras comprar-te algumas roupas ou assim..
- Obrigada mas não preciso de nada para já.
- Talvez queiras saber em que trabalho... bem tenho uma quinta, numa pequena vila a meia hora de distancia daqui. Se quiseres posso mostrar-te um dia.. ainda me lembro do quanto gostas de cavalos, se quiseres montar, basta pedir-me, queres?
- Um dia.
- Esta bem.. para além disso escrevo livros, por isso quando estou em casa passo maior parte do tempo no escritório.
Não digo nada .
- Deo... sei que está a ser difícil para ti, mas se continuarmos assim nunca vai melhorar... acho que podíamos tentar ter uma relação...?
- Abandonaste-me! Queres que tenha uma relação contigo agora ? depois de tantos anos sem saber nada sobre ti? por onde andaste?
- Desculpa... eu não conseguia mais. Eu não era feliz. Eu estava a começar a beber, eu não podia por-te em perigo, nem a ti nem a tua mãe. Quando tu sentes que estas a começar a perder o controlo tens de fazer alguma coisa para mudar isso. A solução que encontrei foi sair dali, fugir, perdoa-me.
- Isso não é desculpa para teres estado longe estes anos todos ! - eu já estava a gritar. Estava a aguentar as lágrimas, não podia chorar de frente a ele. Não podia.
- Eu sei que não, mas eu não sabia como agir depois do que aconteceu, depois de vos ter deixado.
- Perdi a fome. Vou dar uma volta.
- Deo? onde vais.....
Ouvi ele dizer enquanto fechava a porta. Começo a caminhar pela rua e decido sentar-me num banco a dois quarteirões de distancia de minha casa. Não me posso afastar muito senão vou acabar por me perder.
Meu Deus, vou sentir-me assim para sempre ? não consigo parar de chorar. As pessoas passam por mim e olham como se fosse um monstro. Normal, quem é que vai para a rua de pijama e senta-se a chorar? Ninguém.
Decido voltar para casa. Já é tarde e tenho frio.
Entro em casa e o meu pai está a dormir no sofá.
Subo as escadas e vou para o meu quarto.- Deo? está na hora de acordar. O pequeno almoço está pronto.
Levanto-me e olho para o pequeno relógio que estava a decorar a mesinha de cabeceira. 9:00h . Levanto-me vou tomar banho e vestir-me. Decido ligar à minha mãe e saber como ela está.
Finalmente desço para tomar o pequeno almoço. A mesa está pronta e bonita. Não imaginava a casa do meu pai assim, não a imaginava toda desarrumada, mas não imaginava que seria tão acolhedora e confortável.
- Desculpa por ontem, não queria que saísses daquela forma. Fiquei à tua espera, mas nunca mais chegavas.
- Estavas a dormir no sofá quando voltei.
- Desculpa.
Não quero continuar mais esta conversa então finalmente digo.
- Quando vamos comprar o material? gostava de ter tudo isso pronto ainda hoje. Não quero as coisas desorganizadas quando a escola começar.
O meu pai dá um sorriso enquanto me diz que vamos depois do pequeno almoço.
-Tirei o dia de hoje para podermos fazer tudo o que for necessário para o teu regresso.
- Não era preciso.
- Sei que não, mas eu quis. Estive a pensar e podíamos ir também comprar coisas para decorar o teu quarto... sabes... a teu gosto. Talvez gostasses de uma cor de parede diferente, outra cama.. como te sentires melhor.
- Ia ser agradável.
- Ok então, vamos acabar de comer e depois vamos comprar as coisas para a escola, almoçamos e depois tratamos das remodelações.
- Combinado.
O meu pai dá-me um pequeno sorriso.
Ele está feliz por eu ter aceite. Eu também estou por ele estar a tentar ser simpático, o que não implica que eu esqueça o que aconteceu.