5° Capítulo

1.2K 79 4
                                    

Citação:

O pior é quando acaba, sem ao menos ter existido um início de fato.
— Lua Beatriz.

Henrique

Depois de tirar aquele cochilo de lei depois que cheguei da escola, eu desci para comer alguma coisa e trombei com a minha mãe na cozinha

- Oie mãe - beijei sua bochecha
- Oi meu bem. Fiquei preocupada com você...
- Por quê?
- Porque você chegou, não falou com ninguém, se trancou no quarto
- Ah, eu não estava muito bem
- Quer conversar?
- Acho melhor não

Pego uma fatia de bolo e um copo de suco me sentado à mesa para comer.

- A Gabriela veio me perguntar como você estava e me disse que a Valentina não está muito bem - gelei - Henrique, eu acho que já está na hora de conversamos sobre isso. Essa é uma conversa que não dá mais para adiar
- Tá bom, pode começar
- O que exatamente você tem com ela?

- Mãe, é complicado - respirei fundo - Eu nunca tinha olhado para Tina como mulher até ela fazer 15 anos. Depois da festa dela, a gente resolveu fazer um jogo idiota que resultou em eu ter que beijar a Valentina. No começo ela relutou, mas acabou cedendo e foi aí que tudo começou. Eu comecei a olhar para ela com outros olhos, meu sentimento de primo foi ficando diferente, nós nos aproximamos e começou a acontecer. Eu juro que nós não planejamos, só aconteceu
- Eu não duvido que vocês não tenham planejado essa situação. Mas agora, de filho para mãe. O que você realmente sente por ela?
- Por muito tempo eu achei que fosse só atração, mas de uns tempos para cá eu vi que vai muito além disso. Eu sei que talvez você não entenda, mas amor descreve perfeitamente o que eu sinto por ela

- É claro que eu entendo filho. Amor entre primos não é a coisa mais comuns de se ver, mas também pode acontecer e você sabe que para mim, qualquer forma de amor é válida
- Eu sei mãe e essa é uma das milhares de razões que fazem eu te amar - ela sorriu e me deu um caloroso abraço

- O seu mal estar de hoje era porque ela não está se sentindo bem levando a diante essa relação, não é?
- Sim - abaixei o olhar - Ela tem medo do que as pessoas vão falar sobre nós e também medo de que vocês não nos aceitem
- Agora você sabe que eu e a tia Gabi damos total apoio a vocês. A pior parte será fazer com que seu pai e o Menor aceitem
- Na verdade, minha pior parte vai ser fazê-la parar de pensar nos outros e começar a pensar nela mesma
- Bom, nesse caso eu como mãe lhe desejo toda a sorte do mundo - ela sorriu e me abraçou

Fiquei mais um tempo morgado em casa e quando os pensamentos estavam a ponto de fundir meu cérebro eu sai. Precisava falar com ela. Nós dois precisamos resolver de uma vez por todas essa situação.

Quando estava saindo da minha casa encontrei com ela saindo da casa da Luna.

- Estava mesmo procurando você - olhei para ela - Será que a gente pode bater um lero? - ela assentiu e eu indiquei com a cabeça para gente ir até a pracinha na quadra de baixo

Ah, essa pracinha! Tantas lembranças de quando era menor e vinha aqui brincar com meus amigos. Tantos joelhos ralados, até o braço eu já quebrei aqui, minha mãe nem ficou louca né? Era a época em que eu era feliz e não sabia! Ah, se eu pudesse voltar no tempo!

Apesar de ser fim de tarde, não tinha muitas pessoas. Algumas crianças brincando e umas mães conversando.

Valentina mirou um banco mais afastado dos outros, caminhou até ele e se sentou. Eu preferi ficar de pé.

[•••]

Chego em casa com lágrimas nos olhos e vou direto para o meu quarto. Não acredito que ela fez isso comigo, com a gente. Ela acabou com uma história que nem sequer teve a oportunidade de começar direito.

Ela desistiu antes mesmo de tentar e eu sinto raiva dela por isso. Meu pai sempre me ensinou que, independentemente do seu adversário, você nunca deve fugir da luta. E ela fugiu antes mesmo de começarmos a lutar pelo que sentimos, se é que ela sente algum coisa né.

Agora nada mais faz sentido para mim. Cada palavra dela. Cada gesto de carinho. Tudo isso perdeu o valor, diante de tudo que ela me disse.

Eu já devia estar acostumado porque desde pequena ela é assim. Sempre fazendo aquilo que os outros queriam que ela fizesse. Mas Slá, não entra  a minha cabeça,eu nunca vou entender esse jeito dela.

Ela sempre foi apaixonada por dança, mas quando ela fez 16 anos e conclui o "curso" que ela fazia, ela achou que ia começar a dançar. Mas aí ela ouviu de uma moradora que onde se viu a filha do chefe dançando?  Ela precisa treinar pra assumir isso aqui quando o Menor morrer porque aquele outro o Guilherme, não é filho dele de sangue,  ao pode tomar conta disso tudo. Depois disso ela nunca mais dançou e só não começou a treinar porque o Menor e tia Gabi não deixaram.

Ela se importa demais com o que a pessoas falam sobre ela. Mas e o que eu penso sobre ela, não conta?  E todo amor que tenho por ela, o carinho? Eu faço o que com tudo isso agora?

Tudo Aconteceu Na Rocinha - Vol.IIOnde histórias criam vida. Descubra agora