Tudo Aconteceu Na Rocinha - Vol.II

13° Capítulo

Citação: Eu deveria ter mantido a minha palavra de te deixar para trás. Minha idéia idiota de tentar, de que talvez fosse diferente, só me fez chorar de novo!
- Anônimo

Menor

15 dias que a Gabriela saiu de casa e de novo estou vivendo um inferno. Não importa o que eu faça ou quanto tempo passe, eu nunca vou me acostumar sem ela ao meu lado.

Em contrapartida, essa atitude dela me fez repensar nas coisas que andei fazendo. Notei que aquilo que me fazia bem momentaneamente, fazia mal a minha família de maneira prolongada. Aqueles erros não afetaram só a mim. Por causa deles meus filhos estão tendo que se virar sem a mãe.

Com as novas contratações, armamento novo chegando, drogas para repor, eu ando ficando cada vez mais na boca e menos em casa. Estou me afastando daqueles que eu mais amo no mundo e o pior é que eu sei como resolver as coisas.

Mas para eu conseguir resolver isso tudo, preciso da Gabi comigo. Nada faz sentido sem ela aqui. Minha casa não é a mesma ordem. Meus pensamentos são um emaranhado. Meus passos não me levam para frente, nunca levaram.

Sempre foi ela. Ela dizia o que precisava fazer. Ela organizava meus pensamentos. A ordem da família sempre esteve em suas mãos. Eu mando no morro, mas na nossa casa quem manda é ela.

Saio dos meus pensamentos quando a Valentina entra em minha sala
- Tá fazendo o que aqui? - não gosto que ela e a Gabriela venham aqui
- Se Maomé não vai à montanha - ela se joga no pequeno sofá a minha frente - A montanha vai à Maomé - me olha e sorri - Eu vim te ver já que agora você não sai daqui - olha ao redor

- Ando meio ocupado - me levanto e caminho até o sofá, me jogo ao seu lado logo em seguida de dar um beijo em sua cabeça - Veio aqui só para me ver? - passo meu braço por seu pescoço e ela deita a cabeça em meu peito
- Não - respira fundo - Ela está lá em casa, veio buscar mais algumas coisas. Guilherme tá enrolando ela

Ela não precisava dizer muito. Sabia que estava falando da mãe dela. Gabriela. Minha Gabi.

- O que quer que eu faça?
- O que eu quero não - ela me olha - o que você quer!
- E o que eu quero senhorita espertinha? - aperto seu nariz e ela ri
- Que vocês façam as pazes. Vai lá, fala com ela e não deixe ela sair nunca mais da nossa casa
- Sua mãe não vai querer me ouvir
- Ela não tem que querer pai. Coloca ela na parede e já era. Você faz uma favela inteira se calar diante de tu, não vai dar conta da minha mãe? - eu ri

- Eu vou tentar - me levanto
- Eu sei que você consegue - ela se levanta e me abraça de lado. Beijo sua cabeça e caminhamos até a saída. Já na rua, ela subiu para pracinha e eu desci para casa.

Espero que o Guilherme tenha conseguido enrolar a fera - penso

Quando chego no portão já esqueço tudo o que planejei dizer a ela durante o caminho. Aceno para Rubão e Tales, que faziam a segurança da casa. Rubão também me avisa que a patroa está em casa, eu só afirmo com a cabeça e entro.

Fico cerca de 10 minutos parado na sala, sem saber ao certo o que fazer. Ouço passos na escada e congelo.

- Eu vi pela janela quando você chegou - me aliviei ao ouvir a voz do Guilherme - Não vai falar com ela?
- Onde ela está? - me levantei
- No quarto de vocês - ele se joga no sofá
- Vou subir lá - comecei a subir a escada
- Ah - me chamou e eu me virei para olhá-lo - Pega leve porque ela não tá bem não
- Tranquilo - volto a subir as escadas - Obrigado por ter avisado

Paro em frente ao nosso quarto. A porta está aberta. Gabriela está sentada na cama onde estão espalhadas várias fotos. Ela segura uma das fotos em sua mão (mídia). Ela chora e eu perco a coragem de, mais uma vez, pedir para que ela volte atrás e fique comigo. Porém, em uma cena rápida, ela me vê ali e seu olhar me diz que não é hora de correr.

Ela funga e passa as mãos pelo rosto delicado. Eu respiro fundo e entro no quarto de cabeça baixa.
- Eu não sabia que estava no seu horário de voltar para casa - ela disse baixo juntando as fotos - Eu volto outra hora - se levantou e eu a impedi de sair do quarto.

Eu sabia que se deixasse ela sair por aquela porta, jamais ele me ouviria de novo. A Gabriela queria alguém que lutasse por ela todos os dias e eu seria essa pessoa, lutarei o quanto for necessário para ter minha família de volta.

- Não precisa ir embora - encarei seus olhos verdes - Essa casa também é sua - um silêncio se instalou no quarto e eu senti nesse cidade de quebrá-lo - Você tem um tempo para me ouvir?

Ela fechou os olhos, Deus um breve sorriso e voltou a me fitar.
- Eu sempre tive tempo para te ouvir - ela disse num fio de voz

- Eu sei que, mais uma vez, eu vacilei contigo - respirei fundo - Com tudo isso a minha volta - abri os braços - Eu me encantei com o lado errado da história. Fui cabeça fraca e não consegui cumprir minha promessa de que nossa família estaria sempre em primeiro lugar. Não pense que estou tentando justificar meu ato porque não estou, tenho consciência de que traição não tem justificativa... Mas... Porra eu, de certa forma, não sabia o que estava fazendo. Eu vivia cheio de problema na boca, um morro inteiro nas costas para dar conta e ainda tinha a minha família. Eu precisava de alguma coisa que me tirasse, pelo menos um pouco, da confusão em que eu estava imerso...

- E porque não eu? - ela me interrompeu - Eu era sua mulher, estava aqui dia e noite disposta a te ouvir. Eu teria te ajudado, seja qual tivesse sido o problema. Se a sua família estava sendo um fardo para você, eu precisava saber. Você não tinha a obrigação de carregá-la sozinho. Eu sei que ser dono disso tudo rouba o seu tempo e o seu humor e é por isso que eu sempre fui tranquila contigo. Nunca te cobrei nada, tentava resolver o máximo possível dos problemas das crianças e da casa, sozinha para não descarregar mais coisas em cima de você. Na medida do possível eu sempre me virei sozinha para não tomar ainda mais o seu tempo - ela fez uma pausa tentando cessar o choro e só então eu me dei conta do quanto fui idiota todos esses anos - Eu sempre dei um jeito sozinha nas coisas, pensando em você - fungou - Agora me diz, quando foi que você pensou em mim? É só isso que eu tenho vontade de saber, onde eu fico em toda essa sua palhaçada?

- Eu sei que vai parecer estranho, mas eu nunca deixei de pensar em você. Independente de tudo que eu tenha feito, você sempre foi a mulher da minha vida, a minha mulher. A única que eu amei em toda a minha vida - seus olhos estão fechados e as lágrimas escorrem por eles - Eu acho que me expressei errado, nossa família nunca foi um fardo para mim, na verdade, ela é a única coisa boa que me resta. Você também não precisava ter carregado tudo sozinha. A casa e os filhos também são meus, eu tinha a obrigação de ajudar você. Diferentemente de você que não tinha obrigação nenhuma em me ajudar, ainda mais com problemas da boca. Isso tudo é muito sujo e eu jamais envolveria você - pausei - Agora eu vejo o quanto fui idiota todo esse tempo. Nunca passou pela minha cabeça que você fazia tudo sozinha para me poupar. Eu sempre achei que as coisas fossem tranquilas aqui esses casa

- Nem tudo era tranquilo, mas eu sempre dei conta
- Eu não quero que você dê conta sozinha. A partir de hoje eu quero que você compartilhe tudo comigo, assim como eu te contarei tudo o que for necessário para o bem estar da nossa família...
- Victor - ela me interrompeu e parecia buscar as palavras certas - Eu não vou voltar para casa
- Não nega porque eu sei que você quer voltar. Todo mundo aqui sente sua falta

- Eu quero voltar, não vou negar. Também sinto falta de vocês, mas eu não posso continuar vivendo daquele jeito. Não posso aceitar suas traições
- Não vai precisar aceitar, elas não vão mais acontecer - ela me olhou desconfiada - Eu prometo!
- Por favor, não prometa mais nada. Sabemos que você não se dá bem com promessas - ela sorriu nervosa - Eu só peço uma coisa - a olhei esperançoso - Não brinca mais comigo. Eu não quero me arrepender de dar mais uma chance à você. Eu não devia, e o pior é que eu sei que não, mas eu amo você é e impossível ficar longe da minha família

Eu sorri, corri e a abracei forte na intenção de unir nossos corpos em um só.

- Amo você
- Amo-te