15° capítulo

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Citação:

"Não se destrua pelos outros, ninguém vale a sua vida!"
- Anônimo

Valentina

Ligação on < Felipe 💙 >

- Alô? - atendi sonolenta sem nem ver quem era
- Tina? - era o Felipe - Desculpa se te acordei - ouvia sua respiração pesada e entre cortada - Mas eu preciso de ajuda
- Onde você está? - me levantei depressa procurando uma roupa
- Eu não sei direito - fez uma pausa e ouvi como ele puxava forte o ar - Vou mandar a localização no wpp
- Tá bom - vesti a calça legging por baixo da camisola que estava vestindo - Eu prometo que vou o mais rápido que puder, é só o tempo de acordar o Guilhe - ele me interrompeu
- Não dá tempo - ele pausou mais uma vez para puxar o ar - Vem sozinha mesmo - ele tossiu e ficou um tempo em silêncio
- Felipe? - eu comecei a me preocupar real - Felipe, tá me ouvindo?
- Eu vou mandar a localização, vem rápido, por favor
- Estou indo, seja lá o que estiver acontecendo, aguenta firme

Ligação off

Peguei a primeira blusa que apareceu na minha frente quando abri o guarda roupas e vesti ela mesma. Calcei meus chinelos da Melissa, peguei meu celular para ver a localização que ele havia me mandado. Enquanto carregava eu escrevi um bilhete avisando minha mãe. Juntei o celular e o papel e desci. Deixei o bilhete colado na porta da geladeira, peguei uma lata de Red Bull e sai de casa conferindo a localização.

Não era muito longe da minha casa. Ficava entre a mesma e a boca. Xequei as horas, 1:45am. Que diabos ele estava fazendo lá uma hora dessa?  Peguei a rua de trás da minha casa e fui subindo, ela me levaria mais rápido ao encontro dele. No caminho eu fui pensando porque Felipe precisava de ajuda. Porque ele recorreu a mim. Porque ele tinha tanta dificuldade para respirar. E porque eu precisava ser rápida.

Quando passei por um beco e ouvi gemidos de dor e não prazer, senti que era o Felipe. Tratei logo de entrar ali e ir até ele. Sentado no chão e encostado na parede, ambos muito sujos, Felipe tinha rastros de sangue na calça e na camiseta, respirava com mais dificuldade ainda e estava prestes a perder a consciência. Olhei ao redor e pude notar bastante pó branco jogado ao seu lado e duas pontas de baseado.
- Pelo amor de Deus Felipe, me diz que você não usou tudo isso - perguntei aflita
- Me perdoa - ele levou a mão até a boca para tossir e quando retirou ela de lá, a mesma tinha sangue e me deixou mais apavorada - Eu preciso de um hospital, rápido
- Felipe como que eu vou te levar para o hospital? Eu estou sozinha
- Você sabe dirigir não sabe? - ele perguntou com dificuldade e eu assenti - me carro tá parado logo ali em cima - parou para puxar o ar - Me ajuda ir até ele e vamos para o hospital mais próximo
- Tudo bem - peguei em suas mãos - A gente vai ter que fazer isso juntos okay? - escorei ele em meu pescoço - Eu não sou tão grande assim e você pesa mais que eu, você deveria poupar suas forças agora, mas precisa me ajudar a te levar até o carro - saímos do beco - Onde ele está?

Ele não tinha mais forças para dizer nada, usou o pouco de força que tinha para levantar e chegar até o carro, então só apontou com a cabeça e eu segui seu movimento vendo seu Azera preto estacionado pouco passos da onde estávamos. Respirei fundo, juntei todas as minhas forças e segui até lá escorando o Felipe. Eu quase acabei com as minhas forças carregando-o, mas faria de novo caso precisasse. Coloco ele sentado no banco passageiro e rodeio ligeiro o carro entrando do lado do motorista. Pedi a chaves e ele apontou para o bolso. Peguei elas, liguei o carro e dirigi o mais rápido que pude até um hospital particular mais próximo.

A upa do morro não iria conseguir salvar meu amigo. Dirigi por, angustiantes, 15 minutos até chegar a um hospital na pista. Era horrível ver o Felipe agonizando ao meu lado, eu estava desesperada. Desci do carro imediatamente e pedi ajuda aos enfermeiros que estavam parado ali próximo. Eles trouxeram uma cadeira de rodas e levaram o Felipe lá para dentro do hospital. Peguei a carteira com seus documentos que eu sabia que ficava no porta luvas e fui até a recepção preencher a ficha dele. Depois disso uma mulher me encaminhou a uma sala de espera dizendo que o médico viria até mim assim que tivesse noticias do quadro dele.

Eu não sabia o que fazer, mas não conseguia ficar ali sozinha, e se acontecesse alguma coisa com ele? Não! Não vai acontecer nada, ele é forte e vai sair dessa, eu sei que vai! Resolvi ligar para tia Carla, mãe dele. Não sei se era uma boa hora, mas dependendo do que estiver acontecendo lá dentro a notícia pode ser pior, então quanto antes eu avisá-la, menor o choque que ela vai ter. Liguei para mesma e meia hora depois ela já estava ali junto com o tio Kauan. Expliquei a eles tudo o que tinha acontecido desde a ligação que recebi até o momento em que eles chegaram. Nenhum médico havia dado alguma notícia sobre ele e assim como eu a tia Carla estava com medo do que pudesse acontecer. Tio Kauan estava tenso e tentava acalmar a tia Carla que estava aos prantos. Eu não queria chorar, não conseguia na verdade, estava muito atônita ainda.

- Sua mãe sabe que está aqui? - tio Kauan perguntou preocupado
- Eu deixei um bilhete avisando que sai para ajudar o Fê, ela vai ver quando acordar
- Valentina - ele me repreendeu - Não pode sair de casa durante a madrugada, pegar um carro, vir para pista sem avisar o seus pais
- Eu precisava ajudar o Felipe
- Mesmo assim, podia ter avisado um de nós antes de sair do morro, você sabe que é perigoso
- Desculpa - abaixei a cabeça
- Não precisa se desculpar - ele passou a mão pelo meu cabelo beijando logo em seguida - Agora liga para sua mãe, avisa que está aqui e que estamos esperando por noticias dele

Assenti e fui para um canto mais afastado discando o número da minha mãe. Ela demorou um pouco para atender e sua voz estava sonolenta. Expliquei toda a situação por cima e ela disse que estava vindo para cá. Eu disse que não precisava, mas ela fez questão. Não demorou muito tempo para ela entrar afobada na sala de espera e abraçar a tia Carla consolando-a.

Era por volta de sete da manhã quando um médico, finalmente, veio até nós para dar notícias sobre o estado de saúde do Fê.
- Parentes do paciente Felipe Maia Matarazzo? - Tia Carla foi a primeira que se colocou em pé para ouví-lo - Antes de mais nada, peço que fiquem tranquilos, o pior já passou. O paciente chegou aqui com início de overdose, por isso a dificuldade para respirar, o sangramento e por muito pouco ele não perdeu a consciência - ele fez uma pequena pausa - Nós já fizemos o processo de desintoxicação e também foi preciso fazer uma drenagem no pulmão esquerdo devido a uma quantidade considerável de líquido que encontramos ali - ele fez outra pausa e olhou uns papéis em suas mãos - Ele teve duas paradas cardíacas, mas essas foram controladas e por isso o paciente encontra-se sedado neste momento. Apesar de estável agora, o paciente vai ficar sob observação e daqui dois dias nós iremos refazer alguns exames para ver o nível de melhora e só então falaremos sobre a possibilidade de alta. As visitas só estarão liberadas a partir de uma da tarde de hoje. Qualquer novidade eu volto a informar vocês - ele sorriu amarelo e saiu

- Bom acho melhor a gente ir para casa, descansar e voltar no horário de visita - Minha mãe disse
- Eu concordo - tio Kauan estava abraçado com a tia Carla - Todos nós precisamos descansar

Nós nos despedimos e fomos todos para casa. Agora era só rezar e esperar a melhora do Felipe.

Tudo Aconteceu Na Rocinha - Vol.IIOnde histórias criam vida. Descubra agora