3° Capítulo

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Luna

Mais um dia chato no colégio, ainda bem que acabou. Não vejo a hora das estrelas tomarem conta do céu para que eu possa ver o Pietro.

Nosso namoro é um pouco complicado. Nossos pais são inimigos. Mas que culpa a gente tem? Eu não me apaixonei por ele de propósito.

Eu me sinto mal com essa situação, confesso. A única da família que sabe é a Valentina. Eu nunca escondi nada da minha mãe e agora tenho que esconder o que mais tem me feito sorrir nos últimos dias.

Eu era uma garota sozinha. Só tinha os meus amigos comigo. Nenhum menino havia se interessado por mim antes. Quer dizer, tem o Héctor, mas ele não conta, ele é meu melhor amigo.

Estávamos todos em uma festa. Henrique e Valentina tinham dado mais uma de suas escapadas. Felipe estava com uma garota qualquer. Nicole não estava se sentindo bem e preferiu ficar em casa. Até o Héctor estava em uma conversa íntima com uma garota. E lá estava eu, sozinha!

Foi quando o Pietro apareceu. Estava lindo como sempre. Conversamos a noite toda e na hora de se despedir, ele me presenteou com um beijo. Aquele não foi meu primeiro beijo, mas foi o primeiro que me causou as tão famosas borboletas no estômago.

Depois daquele dia, a gente começou a conversar e em uma dessas conversas descobrimos que qualquer envolvimento que tivéssemos, seria proibido.

No entanto, isso não impediu que nós tivéssemos um envolvimento. Hoje nós estamos completamente 2 meses. Ele ainda não me pediu em namoro, mas pra mim é a mesma coisa.

Eu que sempre me senti tão sozinha em relação aos meninos, encontrei alguém que me faz querer amar. É, eu acho que o amo.

●●●

- LUNA! DESCE AQUI AGORA - me assusto com meu pai gritando do andar de baixo.

Me levanto rapidamente e desço até a sala. Paro cautelosamente perto da escada.
- Me chamou pai? - perguntei baixo e ele me lançou um olhar de fúria

- Hiago, pega leve com ela - mamãe tenta amenizar a situação
- Não tem como pegar leve Beatriz - Eu em 15 anos, nunca vi meu pai tão enfurecido. Afinal, o que eu havia feito? Oh não! Será que eles haviam descoberto sobre eu e Pietro? - Quando pretendia nos contar que tá se envolvendo com alguém do morro rival? Pior, com o filho do dono do Vidigal?

Eu não sabia o que dizer. Estava assustada, sem voz, sem reação. Minha maior dúvida era: Como ele descobriu isso se eu e Pietro éramos tão discretos?

- Luna, eu te fiz uma pergunta - sua raiva era tanta que transparecia até pela sua voz
- Eu não sei. Mas não era pra ser assim - droga! Porque até nessas horas eu preciso ser irônica? Maldito hábito que eu puxei da mamãe!
- Você ouviu isso? - ele riu sarcástico e olhou pra mamãe. Ela por sua vez fechou os olhos percebendo a merda que eu havia dito - Você queria que fosse como Luna? Queria chegar aqui e dizer "Pai, mãe, eu estou ficando com o filho do maior inimigo da Rocinha" e eu e sua mãe diríamos "Ah que bom minha filha, sejam felizes", era isso que você queria? Porque se for, pode tirar seu cavalo da chuva

- Eu não quis dizer isso pai - tentei consertar
- Então quis dizer o que?
- Não era pra vocês descobrirem por terceiros, era pra eu ter contado
- E porque não nos contou? - mamãe interveio
- Eu tive medo da reação do papai. E pelo visto, tive medo com razão

- Luna, eu nunca quis que você sentisse medo de mim. Se eu estou agindo assim, acredite que é muito mais pelo fato de você não ter confiado no seus pais, do que pelo fato de você estar quebrando as regras da Favela - seu olhar se suaviza
- Amar por acaso é quebrar regras? - meus olhos ficam marejados
- No seu caso sim

- Hiago, tente entendê-la - mamãe pediu
- Eu não tenho que entender nada Beatriz. O que ela está fazendo é errado. Vai contra as leis do morro. Se fosse qualquer outro morador já tinha sido expulso ou até mesmo taxado de X9. Ela não vai ter prioridade só porque é minha filha
- O que você quer dizer com isso pai? - me assustei
- Você tem duas opções - Me encarou firme demonstrando que nada do que eu ou mamãe fizéssemos iria fazê-lo mudar de idéia - Pare de falar e até mesmo de ver esse moleque, caso contrário, um internato te espera no Canadá

- VOCÊ FICOU LOUCO? - mamãe gritou
- Não! Louco eu estaria se permitisse que esta palhaçada fosse levada a diante
- Ela não tem culpa de gostar desse rapaz, Hiago! Por acaso você escolheu se apaixonar por mim?
- Isso não vem ao caso Beatriz. Além do mais, ela só tem 15 anos, vai se apaixonar muito ainda na vida

Ele não deu tempo de ser rebatido e saiu de casa batendo com força a porta. Eu me desmanchei em lágrimas. Lágrimas que me fizeram cair no chão. Fui amparada pelos braços de mamãe.

- Precisa mesmo ser assim mãe? - perguntei entre soluços
- Calma meu anjo! Seu pai está de cabeça quente. Ele não teria coragem de mandar você para longe. Você sabe que você é o xodó dele
- Ele pode ter enjoado de mim
- Ei - ela segurou meu rosto me fazendo encará-la - Jamais repita isso Ok? Seu pai nunca vai se enjoar de você meu amor
- Tomara mãe 

Eu não queria que fosse assim. Não queria ter que escolher entre ficar com os meus pais e abandonar o Pietro ou ficar sem nenhum deles por perto.

Tudo Aconteceu Na Rocinha - Vol.IIOnde histórias criam vida. Descubra agora