O Amante do Rei [Degustação]

Ato VII - Meu mestiço

As cortinas leves do amplo quarto, balançavam com a pequena brisa da noite que invadia o cômodo sem ser convidada, fazendo o tecido fino arrastar suas pontas no chão. Naquela imensidão banhada em silêncio, um suspiro foi ouvido enquanto o dono do ato observava a vampira sobre sua cama, dormindo tranquilamente.

Já tinha se passado horas depois do acontecimento que ocorrera com a vampira, e pouco tempo que finalmente Layla tinha se acalmado e dormia agora. Kaylon cruzou as pernas mirando agora o tapete escuro. Não tinha saído da presença dela, assim deixando que Aley cuidasse de suas tarefas, parecia egoísta, mas sua prioridade era descobrir quem contratou aqueles vampiros, para depois, seguir com sua reunião no conselho.

Os agressores já estavam mortos, e mesmo se estivessem vivos, seriam condenados pelo ataque a futura rainha; um ato de traição. Porém, o mandante ainda estava caminhando pelos corredores...

Piscou, concentrando-se em Layla que havia se remexido na cama. Muitas vezes balbuciava algo, agarrando fortemente o outro travesseiro ao lado. Fechando brevemente os olhos, Kay deixou sua mão escorregar pelo cabo da espada, mesmo sabendo que as chances de um ataque em seu quarto eram baixas, todavia, não impossível.

Pendeu a cabeça para trás, remexendo-se na poltrona de tecido semelhante aos desenhos estranhos de seu tapete, a mobília antiga que nunca se livrara por gostar, seu quarto quase não foi modificado com o passar dos anos, isso o fazia ficar preso no passado e com esperanças que seu mestiço voltasse. Por tanto tempo sentiu-se sozinho e sem chão, nunca tinha se apegado a alguém, nunca tinha amado alguém tanto e se surpreendido com seus atos. Lembrava-se que tudo era apenas um jogo para vencer seu poderoso pai que tanto o humilhava e, quando encontrou Aley, metade Kitsune, seus olhos brilharam. Se controlasse um Kitsune, controlaria até mesmo seu pai.

Abriu lentamente seus olhos ao lembrar-se disso. Seus atos mudaram, seu coração também, mas ainda tinha vestígios de seus desejos, de seus atos igualmente. Não podia esconder mais, o que tinha feito, o que tinha desejado...

- Mestre Kaylon?

O vampiro piscou erguendo a cabeça ao ouvir a voz de sua única serva que confiava.

- Mestre Aley mandou avisar que o conselho está fazendo uma reunião informal escondido, nem mesmo guardas que não sejam os deles podem se aproximar da sala a qual estão.

Kaylon franziu o cenho. O que os nobres estavam aprontando agora? O rei suspirou. Odiava aqueles problemáticos, eram apenas mais um peso em sua coroa que se livraria tão rápido quanto seu pai se livrou dos antigos. Estava na hora do rei escolher seus conselheiros, sem direito aos grandes nobres dessa vez.

O vampiro ajeitou sua espada analisando o cabo enfeitado com um dragão chinês, a espada passada de geração em geração. Odiava ela no passado, sempre era ela que o machucava, que cortava sem piedade sua carne, porém, ela caiu em suas mãos e teve que fazer dela, seu corpo também, mesmo amando sua lança, aproveitou a época que começou a treinar o mestiço para aperfeiçoar-se com aquele objeto.