Parte 1 - Capítulo 7

7 1 0
                                    

Tinha gente que achava no mínimo estranho, ver Mônica chegar à escola de carona na bicicleta do irmão. Ali naquela instituição, todos eram de famílias abastadas, e Mônica a única que vinha de condução mais simplória. Ela dizia adorar. Sentir o vento no rosto. A liberdade. E parecia mais com uma aventura. Algo que quem estava de automóvel, nunca viria a imaginar. Mas obviamente que vinham sempre pela ciclovia. Afinal, os motoristas e motociclistas não tinham respeito por quem andava em um veículo tão rudimentar...

No caminho, pouco antes de sair do condomínio, Mônica vinha andando a pé ao lado do irmão. Ele era alto, quase chegando aos dois metros. Podia facilmente ser jogador de basquete. Mas o que queria mesmo, era mexer com o mercado editorial. E achava que conhecer o passo a passo de uma gráfica era um dos melhores caminhos. Ainda não sabia se depois, seguiria para um trabalho ligado ao curso da faculdade. Fazia Letras. Não queria ser professor. Achava que seu talento seria um verdadeiro desperdício em sala de aula. Sonhava em escrever. Mas tinha plena consciência das dificuldades enfrentadas por estes profissionais no Brasil. E ele sempre se perguntava o porquê de não existir apoio ao mercado nacional. Pois os estrangeiros simplesmente entravam com todas as barganhas possíveis e ainda criavam barreiras para quem sonhava em tentar algo com as letras. Impossível não era, como ele mesmo afirmava. Mas era muito difícil.

Mônica era uma leitora completamente viciada. Não escrevia, claro. Não tinha talento pra isso. Mas achava que os escritos do irmão fossem tão bons quanto às sagas norte-americanas e inglesas. E considerava injusto que os leitores desprezassem as produções brasileiras. E era verdade que poucas tinham real qualidade narrativa e de enredo. Mas os que se destacavam, mereciam a chance de serem lidos.

Assim que saíam do condomínio, sempre mostrando seus documentos para o porteiro, olhavam para a vastidão do cenário cinzento que erguia-se para todos os lados. O Rio era lindo, mas infelizmente, também ostentava muita poluição. E isso incluía visual e sonora.

Seus pais tinham receio de que qualquer dia, uma bala perdida varasse a cabeça deles. Pois se de carro já era perigoso, de magrela a situação era ainda mais.

Apesar disso, eles não queriam carona, ir de van ou mesmo acompanhados por algum segurança. Mesmo Mônica sendo menor de idade, os pais achavam que ela tinha a sua responsabilidade. E principalmente nas mãos do irmão.

Ele além de levar, ainda a buscava. Nada mau...

O colégio ficava a poucos quilômetros. E com as pedalas velozes e cuidadosas de Renato, Mônica logo estaria adentrando o pátio.

Passar em alta velocidade pelos carros praticamente parados em meio aquele oceano de metal era engraçado. Pessoas com automóveis de que custavam mais de cem mil reais, simplesmente ali, andando a menos de dez quilômetros por hora. Na verdade, chegava a ser ridículo. E a bicicleta de Renato zunia com vontade. Ele se achava melhor que qualquer outro ali, naquele caminho onde os grandes vencedores cariocas das altas classes sociais, apenas ficavam inertes em suas caras aquisições.

A bicicleta era o futuro.

Mas poucos como o jovem, percebiam isso.

E claro, não se envergonhavam de colocar na prática um dos conceitos de mundo melhor. Ele não apenas deixava de poluir, mas também se exercitava. E Mônica sempre faladeira às costas, com os mais triviais assuntos. A vida estava boa demais. E eles acreditavam que se uma crise econômica viesse de repente, e a família fosse obrigada a cortar custos, a alegria de viver, não deixaria de ser a mesma.

Pois seus pais ensinavam com orgulho o fato de serem felizes da forma mais simples possível. No entanto, a escolha da moradia em um condomínio fechado, foi para terem um pouco mais de sossego. Não apenas devido à violência crescente da cidade, mas também, para ter uma privacidade maior.

Não eram famosos, mas todos gostam de paz em suas vidas.

EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora