Era um ambiente onde cinquenta carteiras estavam dispostas de maneira singular. Cinco fileiras que eram banhadas pela luz que invadia sem pedir licença através de imensas janelas em formato de ogiva. As cortinas, mesmo sendo grossas, balançavam com o frescor de uma brisa que começava a ganhar força, apesar de que em momento algum chuva pudesse ser prevista. O Sol estava radiante e as nuvens fugiram ainda durante a madrugada. Fazia semanas que o Rio não sabia o que era uma gostosa chuva neste verão enlouquecedor para turistas.
Mônica sentava-se na terceira fileira em direção às janelas. Dali, dava para ver uma parte dos prédios que circundavam. Havia dois quadros-negros. Um à frente e outro na parede ao lado da porta. Geralmente, dependendo da disciplina, ambos eram usados simultaneamente. Mas os estudantes não tinham a permissão se simplesmente virarem suas carteiras para acompanhar o processo do giz deslizando na segunda lousa. E a maioria das informações ali postas, referia-se apenas a extras, que os professores deixavam para os alunos conferirem em suas saídas. Era uma forma de experimentar a maturidade dos mesmos. Quem tinha interesse real nas matérias, estaria apto a ler o que estava exposto. E era o que pelo menos a maioria fazia. Com ou sem gosto.
Mônica não era a primeira a sentar-se. Vários outros já estavam a conferir cadernos e livros. As conversas em geral, aconteciam antes dos professores aparecerem ou depois que os mesmos trocavam de sala. Nossa jovem testemunhou algumas cenas hediondas de conversas de vozes baixas ou mesmo bilhetinhos que viajavam de carteira em carteira. Mas isso só acabou em algumas detenções. Não existia perdão. E obviamente que essas ações não resultavam em expulsão, mas era um incômodo e tanto para recuperar as matérias ou então ter de ouvir as conversas com os pais na direção.
O colégio era comandado por mãos de ferro e com toda e eventual certeza, aquela única alteração da extinção das filas para adentrar seria somente para testar o interesse dos alunos pelas disciplinas...
E mesmo tendo alguns rasos minutos para conversas, vários estudantes preferiam se manter em silêncio até que o professor ou professora aparecesse. Era melhor prevenir que remediar.
No caso de Mônica era diferente. Ela não tinha curiosidade acerca dos demais colegas. Raramente participava de alguma conversa. E por este motivo com os poucos amigos que estimava, sabia que não devia ficar tão próxima. E isso porque haveria de ocorrer algo que ninguém além dela ia gostar...
Talvez fosse sempre coincidência, mas no momento em que o último estudante colocava o traseiro na cadeira de mogno, o professor entrava ouvindo o habitual silêncio. A não ser os próprios passos que faziam o eco viajar pelo assoalho de tacos de madeira. E isso alguns alunos achavam estranho. Apenas nas salas de aula o assoalho era diferente. No restante da instituição, era pedra. Mas tanto a madeira quanto a rocha eram constantemente polidas. E o reflexo dos alunos e quem mais por ali andasse, estava sempre em dia. Mesmo quando sentados encontravam-se, tinham a sensação de que um mundo invertido existia sob seus pés.
Para Mônica isso parecia um alerta, de que ela estava sendo constantemente vigiada por aqueles que lhe faziam companhia em escuros momentos... e estes momentos em verdade, eram o tempo todo...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Escuridão
Aktuelle LiteraturMônica... Ela nasceu das sombras. Não compreendia quando criança, porquê via o que os outros achavam ser ficção. Ela não nascera de forma comum. Apenas pareceu ter vindo ao mundo como qualquer outro ser humano. Mas... Ela pod...