A aula tinha a duração de 45 minutos. Comum era o professor dar um teste nos minutos finais. Não com relação à matéria do dia. Mas de semanas anteriores, para poder tecer alguma realidade de raciocínio. Afinal, mentes sadias teriam de mostrar que tinham mesmo condições de manter todas aquelas fórmulas em dia. O mesmo ocorria em outras disciplinas. E sempre, sempre ficava mais pesado a cada dia. Mesmo para quem estudava com afinco e tinha menos dificuldade em aprender tanto em tão pouco tempo.
Além de Cláudio, mais dois alunos e uma aluna mostraram seus conhecimentos para resolver aquele emaranhado de teias numéricas. Mônica muitas vezes já andou até aquela lousa e nunca decepcionou. Tanto pela agilidade em rabiscar as respostas quanto de simplesmente chamar a atenção dos colegas pela sua beleza. Pois mesmo tendo apenas os braços à mostra, de costas ela era encantadora.
A aula seguinte era biologia.
Outro professor. Mas desta vez, mais jovem em pelo menos 20 anos. Alguém que gostava de praticar alguns esportes. Mais precisamente, natação. A pele levemente dourada era a prova de que ele só saía da piscina porque tinha seus demais compromissos.
Ele era um dos fãs declarados dos alunos que se destacavam não apenas em sua matéria, mas em todas que ficassem em evidência. E sempre dizia que tinha orgulho daquela tabela que ficava em uma das salas da biblioteca. Onde os nomes dos estudantes mais aplicados, eram mostrados através de suas notas. A escola tinha disso. Uma disputa onde somente dez alunos podiam ter a chance de estar no topo. Aquilo não significava nota extra. Era para incentivar o estudo. É claro que não eram poucos que usavam essa competição apenas para tentar se tornarem populares. Mas para isso era preciso inteligência. E esta não fazia parte dos que apenas sonham em ali aparecer com seus nomes.
Havia os pais que não concordavam com essa lista.
Uma das regras mais antigas da escola. E independente do período, qualquer estudante podia figurar naquela parede entre os livros.
Era apenas o nome e a nota. Além de alguma disciplina em destaque. Não havia fotos. E nem precisava. Pois os alunos, fossem calouros ou veteranos, sabiam muito bem que nada, em absoluto, podia ser mais importante do que o nome. O próprio nome. E o nome na mente de outros tantos significava algo extremamente importante.
Mônica era uma das duas únicas garotas que figuravam ali há meses. O restante dos garotos, geralmente mudava constantemente. Nenhum tinha ficado mais que 12 semanas. Mas ela já estava ali há quase um ano e meio. A outra garota podia comemorar a gestação dos 9 meses.
Era uma boa disputa. Não existia nem mesmo a chance de ganhar um prêmio especial. Mas, quem precisava disso com seu nome perambulando por toda aquela instituição?
Para uma garota da Idade Contemporânea, poder estudar, sonhar com uma profissão e ser reconhecida como uma pessoa talentosa e dedicada, era algo essencial. E Mônica não apenas se espelhara na mãe, mas achava que precisava buscar algo dentro dela. Algo que a fizesse única. Mas não aquilo que a fazia andar do Outro Lado. Acostumada podia estar. Mas às vezes e só às vezes, ela tinha pesadelos de que um dia ia acordar para nunca mais ver e sentir aquilo tudo. E que sua vida seria tão comum quanto das demais pessoas que andam pela face da Terra. Vivendo o cotidiano e acreditando que um dia, deus iria aparecer ou então, o tão esperado contato alienígena. Mas Mônica nisso não pensava. O que no início lhe fez chorar e imaginar somente o pior, hoje lhe faria falta. Mesmo que no futuro alguém acabasse por descobrir. Só que a isso, ela não acreditava.
Mordendo os lábios, ficou a ouvir com toda a atenção as palavras do professor. Arnaldo era seu nome. E este, verdadeiro. O cabelo quase aparado, recebia o brilho do Sol que mandava seus raios com vontade entre as janelas. Mônica teve um momento de viagem em sua imaginação, e achou que aquelas janelas podiam ser portas. E que as levasse até um lugar onde ela pudesse apenas contemplar o que de mais belo pode existir no mundo...
_ O relacionamento sexual _ disse o professor _ Não pode ser visto tão somente como um ato de prazer ou mesmo reprodução. É ali onde duas pessoas estão no mais forte contato íntimo. E saber que isso pode os unir ainda mais, representa algo que vai além. Entendem o que quero dizer?
Mônica queria responder. Ia dizer que isso podia significar amor. Que o nascimento de um filho seria uma realização especial. Mas, achava que nesse ponto, o professor de biologia queria ir mais longe. Encontrar uma pessoa, se unir a ela, poder trocar conhecimento. Ser confidente. E claro, poderem fazer algo bom pelo mundo. É o que Mônica pensava. Mas deixou que outros levantassem o braço e mandassem respostas variadas e até semelhantes ou iguais a sua que ainda girava na cabeça.
Ao término da aula, os alunos aproveitaram para trocar algumas rápidas palavras.
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Escuridão
General FictionMônica... Ela nasceu das sombras. Não compreendia quando criança, porquê via o que os outros achavam ser ficção. Ela não nascera de forma comum. Apenas pareceu ter vindo ao mundo como qualquer outro ser humano. Mas... Ela pod...