Parte 1 - Capítulo 8

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A maior parte do caminho era plana. No máximo, um leve declive próximo ao colégio. E como sempre, em frente dos portões de ferro centenários, uma frota de carros e vans que exalavam estudantes de todas as formas e tipos. A maioria era de brancos. Raros eram os negros e orientais. E ameríndios existiam tão somente em livros. Não era uma instituição de ensino com grande combinação de etnias. Ensino privado de primeira qualidade. A escola com o maior índice de aprovação em todo o país. Era referência até mesmo para países de Primeiro Mundo. Diziam que seu único defeito era a mensalidade extremamente salgada. E as normas rígidas faziam isso valer. Já tinha décadas que um aluno fora expulso por falar impropérios. A direção era clara: não havia qualquer chance de poder retornar aos estudos ali, caso houvesse algum empecilho. A expulsão era irrevogável.

Nem todos os pais e alunos concordavam com isso. Mas arriscavam e tremiam ao ver as notas que em alguns casos, ficavam pouco acima da média.

Não que por trás destas paredes estudassem somente gênios. O dinheiro simplesmente ajuda a mantê-los. E tinha quem cochichava que existiam estudantes que deveriam ter sido expulsos, mas a mão rápida do suborno teria dado o famoso jeitinho. A corrupção estava impregnada na pele da maior parte da população brasileira. E isso não isentava quem pudesse pagar um ensino tão caro.

Mônica se esforçava porque achava vergonhoso ter de depender tão somente do dinheiro para ali continuar. Ela era exemplo para toda a instituição. Seus pais só haviam sido chamados em reuniões para serem notificados de que a filha era uma das mais dedicadas.

E eles iam sempre já sabendo que seria tão somente esta a notícia. Gostavam de ouvir de professores e diretor os elogios sem fim a uma garota que se destinava de maneira inacreditável.

E talvez essa palavra não fosse exagero, pois Mônica era mesmo uma pessoa que não ficava apenas esperando que uma matéria lhe parecesse interessante. Afinal, ela não gostava de tudo o que estudava, mas acreditava que tinha que fazer todo o possível para ter as notas lá em cima. O futuro podia ser incerto. Não no que se referia a tal possível crise que ela e o irmão por vezes conversavam. Mas por qualquer outro motivo. Carreiras profissionais no século XXI eram completamente instáveis. E nada, absolutamente nada, podia dar a certeza de que uma escolha em determinado curso pudesse significar sucesso.

Mesmo com Renato ansiando a carreira literária...

Mas, era a vida, e eles a estavam fazendo da melhor maneira que poderiam. Bom, ao menos Mônica a isso achava. Bastava dar continuidade a trivialidade e tudo seria a mais completa paz. A paz que ela ainda buscava em seu íntimo...  

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