Escuridão

Parte 1 - Capítulo 12

_ Cláudio.

Não era preciso dizer o motivo da chamada. Com o professor de matemática, a atenção encostava em cem por cento.

E um garoto redondo, com sardas e cabelo pasteurizado levantou-se. Ficava na última carteira da primeira fila ao lado da porta. Era do tipo sem amigos. Mas com um raciocínio espantoso. Principalmente com relação a números. Se visto na penumbra, só seria possível detalhar uma cabeleira vermelha, a pele branca, dentes salientes e olhos tão azuis que chegavam a parecer artificiais. Ele era de uma das famílias mais poderosas da sociedade carioca. Mas nem de longe ostentava esse orgulho. A simplicidade lhe fazia companhia. E se tinha alguma amizade, com certeza não era dentro da escola.

Andou devagar. Sua respiração podia ser sentida até do corredor. Ele não era gordo porque comia exageradamente. Mas sim, devido a alguma herança genética. Se alimentava com pouco, mas sua gordura, mesmo com exercícios físicos, dizia que dele jamais viria a se divorciar. Nem mesmo uma cirurgia seria possível, já que ele tinha pavor de ser cortado.

Então era preferível ter de aturar os ataques de bullying que os redondamente esculpidos são alvo no dia a dia. E sobre isso, Cláudio não ligava. Achava que se alguém lhe dissesse algo ofensivo, era porque essa pessoa era inferior a ele. Não no segmento de estrutura visual, mas moral e racional.

Já conhecia o ritual: pegar o giz e mostrar como era fácil ter domínio sobre aquele quasar de símbolos que fizeram toda a diferença para a Humanidade. Alguns que ficavam olhando toda aquela carne mover o braço com certa dificuldade na lousa, achavam que se deus pudesse mesmo existir, ele não estava sendo justo em dar um cérebro tão veloz para alguém com o corpo deformado.

Mas alguns perguntavam-se dos motivos que levavam a escola a simplesmente deixar que o aluno de largas dimensões não fosse obrigado a praticar exercícios. Talvez, mais uma vez fosse algo relacionado à corrupção...