Madame do Tráfico ( Trilogia Madame)

Capítulo sete

- Como você pode ter sido tão baixo? Ela e a Thayane são as únicas amigas que eu tenho, nem isso você perdoa cara. - disse depois que me acalmei

- A carne é fraca cara cê quer.. 

- Me poupa desse seu discurssinho barato - o cortei - Se fosse comigo eu já estava lá do ladinho da minha mãe né?! - terminei levantando da cama e acendendo a luz.

- Nem brinca com uma coisa dessas Milena. - Seus olhos brilharam em fúria.

- Aaaaaaaaaaaaah fazer com você não pode né?! Mas comigo... Poxa cara, eu realmente não te entendo. Por que disso? O que falta pra você nessa casa? Você não pensa em mim nenhum pouquinho? Em como posso me sentir? Eu faço de tudo por você e tudo que eu recebo em troca são chifres e tapas. - Juro que vi arrependimento em seus olhos, mas logo sumiu qualquer resquício dele.

- Vem deitar logo Milena, num tô com cabeça pra discutir hoje. 

- Você nunca tá né?! Eu tô tão cansada disso tudo, por quê não me deixa ir embora?

Ele riu, deu aquela gargalhada diabólica que só ele tem, consegue ser pior que a da Kuka do Sitio do Pica-Pau Amarelo.

- Eu já te dei a chance pequena, no dia do teu aniversário tu lembra? - Assenti - Tu num foi porque num quis, preferiu ficar comigo, agora sabe tu vai se livrar de mim agora? - Neguei com a cabeça fazendo com que algumas lágrimas descessem - só quando eu morrer, agora vem aqui e deita na porra da cama que eu tô cansado e quero dormir.

Fiz o que ele mandou, assim que ele me abraçou eu comecei a chorar mais, com ódio de mim mesma. Era só eu ter dito não e estaria livre dele, eu poderia fazer o que eu quisesse, mas me deixei levar pelo coração, pela emoção ali do momento. Hoje, parando pra pensar, o Daniel sabe completamente o poder que em sobre meu coração, meu corpo, minha mente, sobre mim. Naquele dia ele me manipulou, ele sabia que se agisse com um pouco de carinho comigo, se me desse um pouquinho de atenção eu não ia querer sair nunca mais do lado dele. 

Custa ser assim todos os dias? Ou pelo menos duas vezes na semana? Ele me diminui tanto, me faz sentir um nada. Reduz minha autoestima à pó. Eu vou enlouquecer se continuar desse jeito. Eu não tenho nada que me prenda ao Daniel, claro, tem a Maria, sei que se eu for não vou poder leva-lá, e não quero nem imaginar o que vai ser da minha neném caso isso aconteça.

O celular desperta e mais um dia começa, eu já estou acordada bem antes do despertador tocar, pra falar a verdade eu nem dormi. Fiquei remoendo a noite toda esse assunto da Paola com o meu marido. Como ela pode? Ela vem aqui em casa, come da minha comida, sabe dos meus problemas, Deus, ela segura minha filha no colo. Ela usa minha piscina, eu nunca deixei as putas do Daniel passar pela minha calçada, mas botava uma dentro de casa e nem sabia.

Mas é claro que isso não vai ficar assim. Assim que eu me recuperar dessa surra de ontem, vou dar uma coça nela na praça, na frente de geral, ainda vou raspar a cabeça dela. Vou descontar toda minha raiva nela. Perdi as contas de quantas vezes eu cai na mão com piranha, as amiguinhas delas vinha de trairagem e ela quem me defendia. Se fez de minha amiga esse tempo todo enquanto dava pro meu marido, como pode isso? Na moral mano, a ficha ainda não caiu.

Levantei da cama, fui logo tomar um banho, lavei a cabeça, sai do chuveiro depois de uns 40 minutos. Coloquei um vestidinho, penteei o cabelo e deixei secar natural, e comecei com o processo de me maquiar pra esconder as marcas deixadas pelo filha da puta. Sabem aquele filme "Dormindo com o Inimigo"? Eu me sinto assim às vezes.

Terminei de me maquiar e fui fazer o café pro bonito, assim que terminei fui olhar minha neném que dormia tranquila. Eu queria tanto ter o poder de voltar a ter a idade dela, sabe? Pra ter minha mãe ali comigo, sem nem saber o significado da palavra problema. Sinto até uma invejinha branca desse soninho da paz dela, enquanto eu não sei nem mais o que é isso.

Voltei pra cozinha pra comer, mas desisti ao ver que ele já estava lá, dei meia volta  fui pra sala, fiquei sentada no sofá olhando pro nada e pensando nos meus problemas, a vontade de chorar bateu e eu não recuei, chorei mesmo. Senti sua presença ali na sala, mas não liguei, até que senti seus braços me rodearem, de primeiro eu quis sair, mas ele me prendeu ali, então fiquei.

- Me desculpa - ele sussurrou.

- Você não tinha esse direito, eu odeio tanto você. 

- Eu sei, desculpa. Eu prometo me controlar, tá bom?

- Eu te odeio tanto por me fazer passar por isso. Quando ela veio com um papo torto de que tava saindo com um cara, mas com aquele mistério todo de que ninguém podia saber eu deveria desconfiar que era você. Mas como? Mesmo você sendo esse filha da puta não passou la minha cabeça que você fosse ser tão canalha a esse ponto. - empurrei ele e fui pra outra ponta do sofá.

- Ou num precisa humilhar também não.

  - Humilhar? Você acha mesmo que tô te humilhando?- Dei uma gargalhada histérica seguida de um choro compulsivo, fiquei assim alguns minutos, mas respirei fundo - Humilhação é tudo isso que você me faz passar Daniel. Ter que ouvir gracinha das suas amantes na rua, apanhar porque não cheguei no horário em casa e olha que eu tava na casa do meu pai hein. Eu tô cansada de tudo isso, cansada de você.

- Para com isso Milena, fala bestera não.- Vi o desespero em seu olhar

- Besteira é eu tá lutando por algo que nunca vai ser meu. - admitir isso em voz alta doeu demais

- Do que tu tá falano?

- Disso, da gente. Eu desisto Pequeno, desisto de você, desse amor que eu sinto por você, de tudo isso. Se não quiser me mandar embora, tudo bem, eu não ligo, Se quiser ficar comigo, beleza, eu fico aqui, mas saiba que nada vai ser como antes. Eu vou fazer tudo do jeito que você quer, da maneira que tu quer, sem reclamar, sem falar com você, só quando necessário. Pode continuar comendo quem tu quer, indo pro teus bailes, eu não vou reclamar de mais nada. Se você quer uma empregada e um corpo pra te esquentar durante a noite, então é isso que tu vai ter. Tô te dando a opção de escolha Daniel, igual tu me deu algum tempo atrás. Quer mesmo que eu fique? - Despejei com toda frieza possível.