Capítulo quarenta

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Bônus Pequeno

Demorou, mas finalmente consegui sair da cadeia. Um mês e meio naquele lugar me fez perceber a vida maravilhosa que eu tinha lá fora e não dei valor. Mas eu saí pra mudar isso e eu vou mudar.

Sai da prisão no meio de uma rebelião, não me envolvi em nada a respeito, mas dei um jeito de ficar por dentro de cada detalhe e quando tem colegas de cela que gostam bastante de falar é melhor ainda. Eles falavam e eu ficava bem ligado em tudo, e quando vi oportunidade me enfiei no meio.

Mas ao contrário deles eu não parti pra cima de ninguém, meu foco era sair daquele lugar e eu saí. Durante a madrugada enquanto os troxa lá tentavam conter as briga eu e mais uns 10 saímos pelos cantos de fininho. Não foi fácil, matei uns três e depois de muito sacrifício consegui sair daquele lugar. Corri pra dentro do matagal como se minha vida dependesse daquilo e na verdade dependia mesmo. Quando cheguei na numa estrada, avistei um carro cinza e corri até lá. Abri a porta e entrei.

- Caralho chefe, eu achei que tu não fosse conseguir. - disse LP, um soldado do morro.

- Eu também LP. Vamo logo que eu não aguento mais esses lugar e se depender de mim nunca mais volto pra cá.

- Isso aí chefe. - disse o Foca

A minha mãe foi a única pessoa que me visitou na cadeia, e na última visita dela eu fiz ela me prometer que ia contar meu plano pro DJ e pedir pra ele me ajudar. Eu disse exatamente onde deveria ter um carro me esperando e a cor. Que o resto era comigo. Ela embora não tenha concordado comigo, fez exatamente o que eu pedi e foi um alívio, mas mesmo que não tivesse ninguém ali eu tinha plano B, C, D... Ficar ali naquela jaula que não era mais um opção pra mim.

O caminho pro morro foi rápido e a única coisa que eu pensava era na minha mulher. Em como ele deveria tá, se ainda tava na casa do pai dela e várias outras coisas. Tudo o que eu queria era que ela tivesse em casa me esperando com aquele lindo sorriso que eu tanto amo, que eu tanto sinto falta.

Assim que cheguei no morro, pedi pra irem direto pra boca. Queria falar com o DJ, agradecer por tudo.

Entrei na sala e lá tava ele fumando um e com o pensamento longe.

- Colfoi parcero, tá na marola aí?! - ele saiu do transe, levantou e veio me dar um abraço.

- Senti tua falta cara. - embora eu não quisesse admitir também senti a falta dele.

- Eu também, agora me solta cara, tamu parecendo dois viadinhos.

- Cara, tu consegue estragar qualquer clima. - se desfez do abraço rindo e eu apenas dei de ombros.

- Vim aqui rapidinho só te agradecer por ter cuidado tão bem do meu morro enquanto eu tava fora. E por tudo, por tá sempre fechando comigo.

- Tamo junto sempre, precisa agradecer nada não...

- É nois - fiz toque com ele e saí da boca.

Fui pra casa andando mermo, geral ali  falando comigo, parava pra fazer toque com alguns moleques. Como tava de madrugada, quase não tinha gente pela rua, nem no bar como de costume. Eu não queria saber de nada do que aconteceu por ali enquanto tive fora, só queria ir pra casa dormir até não poder mais.

Assim que cheguei em casa, vi que a tava tudo arrumandinho e com cheirinho de casa limpa, por um momento me iludi achando que era minha mulher que tinha arrumado tudo e corri pro quarto pra ver se ela tava me esperando. Quando abri a porta ofegante e sorridente e não a encontrei ali foi que a ficha realmente caiu.

Ela foi embora e eu deixei ela ir embora. Ela foi embora por minha culpa, por culpa dos meus erros.

Fui pro banheiro e encarei meu reflexo no grande espelho. Eu tava bem mais forte que antes, lá na jaula deu pra pegar firme nos exercícios quando ia pro banho de sol, foi a única maneira que eu encontrei de não enlouquecer naquele lugar.

Eu tava mais forte, com a mesma cara de bosta de sempre, barbudo. Por traz daquela carcaça de homem fortão, machão, existia um menino assustado e com muito medo. Medo de perder pra sempre a mulher que devia amar a proteger, cuidar. De nunca mais poder beijar aquela boca macia e gostosa, de ver aquele sorriso que iluminava minha alma. De não ser feliz com a minha família.

Sai da frente do espelho irritado e fui tomar um banho. Um banho quente e gostoso que eu não tomava faz tempos. Fiquei horas ali naquela água, tentando tirar tudo se ruim daquela prisão. Fiquei horas ali, tomei um banho caprichado. Aparei os pelos do corpo, fiz a barba, tudo que eu tinha direito e mais um pouco. E a todo momento eu lembrei da minha neguinha.

Ela tinha que tá aqui comigo, na nossa casinha, me ajudando com o banho, me abraçando, cuidando de mim como sempre fez. E não na casa daquele saco de bosta do pai dela que nunca gostou de mim e nem apoiou nosso casamento. Pensado bem eu também não apoiaria o namoro de uma filha como um homem como eu.

Mas não importa o apoio dele, só importa ter minha pequena do meu lado. E eu vou ter ela de novo, disso tenho certeza.

Terminei o banho, me sequei e fui pro quarto. Me joguei direto na cama. Milena se tivesse aqui com certeza brigaria e me chamaria de ogro e ia dizer que ia acabar quebrando a cama.

Ri com o pensamento e me agarrei no travesseiro que um dia foi dela é vai voltar a ser de novo. Seu cheiro doce e suave ainda estava ali, não tão forte como antes, mas estava.

- Tô enlouquecendo sem você neguinha. - sussurrei antes de apagar.

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Oi gente, tudo bem? Desculpa a demora. Estou sem celular de novo, ele "quebrou" tô usando o tablet da minha filha rsrsrs...

Amo vocês, beijos de luz da Nina 😘

Madame do Tráfico ( Trilogia Madame)Onde histórias criam vida. Descubra agora