Capítulo quatorze

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Assim que cheguei em casa, passei pela sala e vi que Daniel e estava sentado no sofá encarando o nada, pela cara dele eu já sei que ele sabe do meu encontro com a morta viva. Eu ia passar direto, mas pela olhada que ele me deu eu acabei desistindo e indo para a sala. Como eu já previa essa conversa com ele, resolvi deixar a Maria com a Thay, combinei com a mesma de eu ou o Daniel passar mais tarde para buscar.

Caminhei em passos lentos para a sala e sentei no mesmo sofá que Daniel, só que na outra ponta, respirei bem fundo para tentar conter as lágrimas afim de sobreviver até o fim dessa conversa.

- Quando você ia me contar?

- Nunca, eu acho.

- Por quê? - me virei em direção a ele

- Porque não. - respondeu ainda de cabeça baixa.

- Me diz! - minha voz saiu em tom de suplica.

- Porque eu não queria que tu soubesse e ficasse me olhando com essa cara de bunda aí.

Riu debochado e me olhou.

- Eu vou embora.

- O QUE? COMO ASSIM VAI EMBORA? - se levantou e começou a andar pela sala

- Pegando minhas coisas e as coisas da minha filha e indo para bem longe de você e toda essa merda de vida que você me obriga a viver.

- VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!

Ele parou e me olhou, seu olhar parecia desesperado, mas eu não senti pena, me sinto anestesiada.

- Posso sim e vou Daniel, nada do que fizer vai me impedir. Pode me bater, me trancar, me chantagear, mas um dia você vai me dar uma brecha e nessa brecha que você der vai ser quando eu vou embora e você nunca mais vai me ver.

Acho que eu nunca falei com tanta calma e convicção em toda minha vida. Parecia uma iceberg de tão fria. Resolvi seguir o conselho da Thay e de todos que me cercam. Eu não preciso mais viver assim, eu não quero mais essa vida pra mim. Nem todo amor do mundo vai fazer eu ficar. Nada do que ele disse vai fazer eu ficar.

- Você só sai dessa casa morta.

- Então você vai ter que me matar Daniel. - Deus que merda eu estou falando? - Acabou Daniel!

- SÓ ACABA QUANDO EU DISSER QUE ACABOU! VOCÊ É MINHA MULHER E VAI CONTINUAR SENDO ATÉ O DIA QUE EU NÃO QUISER MAIS TÁ OUVINDO.

Seu olhar parecia sofrido, mais uma vez não me importei. Assim que ele terminou de falar, veio pra cima de mim com tudo e me deu mais uma de suas surras gratuitas. Apanhei calada como sempre. Logo ele parou, pegou suas coisas em cima da mesa e saiu de casa batendo a porta com estrema força. Pulei com o susto e parece que sai de um transe e toda a dor que eu não estava me permitindo sentir veio com força total.

Levantei do chão, peguei as minhas bolsas e fui pro quarto. Tirei a roupa e fui pro banheiro, entrei no chuveiro na água fria e conforme a mesma ia caindo sobre mim fui me permitindo relaxar, e esse relaxamento veio em formas de lágrimas. Ouvi gritos sofridos ecoando pelo banheiro e logo percebi que eram os meus gritos. Eu chorei tanto, descarregando todo meu sofrimento.

Até quando vai ser assim?

Até quando irei me permitir passar por isso?

Já chega!

Fui colocando todas as minhas frustrações para fora junto as minhas lágrimas.

Quantas mais amantes Daniel deve ter por aí?

Quantas mais piadinhas terei de ouvir pela rua?

Quantas mais vou ter que espancar pra ser "respeitada" por elas? Ele quem me deve respeito, não elas.

Quantas mais surras por nada vou ter que levar?

Tudo tem um limite e eu cheguei no meu... Eu não quero mais isso, eu não quero mais.

Terminei meu banho, parei em frente a pia e encarei meu reflexo no espelho. Meu corpo avermelhado pelos tapas que em breve se tornarão marcas roxas. Meu olho já formando um grande roxo devido ao soco, haja maquiagem. Tomei um dos meus remédios para dormir, me sequei, sai do banheiro e me joguei na cama ainda nua. Peguei o controle do ar condicionado e liguei o mesmo deixando o quarto bem frio, me cobri e me permiti fechar os olhos. Logo dormi.



Madame do Tráfico ( Trilogia Madame)Onde histórias criam vida. Descubra agora