Naitan
Quatro
A noite já caía tarde e àquela altura eu já nem sabia se estava raciocinando direito. Notei isso na décima partida de UNO que perdi para Elena. A chuva finalmente se dissolvera em pequenos respingos.
— Acho que agora eu preciso ir. — disse ela, enquanto se espreguiçava. Estava com mais energia do que eu considerava possível, eu por outro lado, só conseguia pensar em dormir.
— Eu levo você. — ofereci e me levantei.
A luz não voltara e eu suspeitava que teria que chamar um eletricista no dia seguinte. Entreguei um guarda-chuva para ela e peguei um para mim. Infelizmente quando o abri descobri que pelo menos seis hastes estavam quebradas e tortas de modo que mesmo aberto ele parecia fechado. Ela riu e eu fiz uma careta em resposta.
Acabei me contentando em tomar um pouco de chuva. Se dividíssemos corríamos o risco de nos encostarmos e eu estava procurando evitar isso.
— Você está acabado. — comentou.
— Obrigado, me sinto muito melhor agora. — debochei — Viu?! Sei ser engraçado. — me referi a minha tentativa de senso de humor e ganhei um sorriso seu.
— Pra onde você vai nesse natal? — quis saber.
— Eu não comemoro. — fui direto.
— Entendi. Eu também não, quer dizer, não o papai Noel. Lá em casa gostamos de ir para a pousada da minha avó. Nos sentamos pra comer, jogamos, rimos ou fazemos qualquer outra coisa. No Natal passado enchemos bexigas com neve artificial e jogamos uns nos outros. Esse ano é bem possível que a gente vá para a pousada da vovó novamente. — seus olhos brilhavam enquanto contava.
— Parece divertido. — comentei.
— E é! — ela hesitou e depois me estudou, como se os pontos estivessem sendo ligados em sua cabeça, aquela mesma expressão que todas as mulheres fazem quando interligam assuntos em sua mente. — Hã, Naitan?
— O que?
— Posso perguntar o que aconteceu?
— O que você quer dizer? — eu sabia bem aonde ela queria chegar.
— Você sorri poucas vezes e quando faz isso nem sempre parece realmente feliz.
— Tudo bem se eu disser apenas que estou bem?
— Não. Mas vou me contentar com isso por enquanto. — respondeu assim que chegamos em sua casa e ela me entregou o guarda-chuva — Foi uma ótima noite. Naitan, não costumo fazer isso, mas me sinto confortável em nossos longos silêncios e nossa total falta de assunto. — sorriu afetuosa — De qualquer forma, acho que... quero que saiba que... Olhe. Você pode contar comigo, está bem?
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Um Toque Celeste - Repostando
RomanceA vida tem mais cores do que vemos, há uma beleza oculta a ser revelada. O amor faz isso, revela o que há de bom em nós, traz beleza aos dias maus e encobre nossa multidão de pecados. Este livro é sobre amor, graça, reconciliação com o passado e a b...