Dois

1.6K 399 115
                                    

Dois

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Dois

Naitan


               A luz se apagara repentinamente e apesar dos celulares, acabamos decidindo que era arriscado ficar sem nenhum meio de comunicação durante um apagão então achamos melhor não gastar toda a bateria usando como lanternas. Elena propôs procurar algumas velas que talvez estivessem em cima do guarda-roupa. Assim que percebi que ela estava prestes a pegar uma cadeira e como uma criança fazer o que não devia, principalmente no escuro, me ofereci para ajudá-la. Eu a acompanhei até o quarto enquanto Abbe conferia se toda a rua estava mesmo sem luz ou era apenas uma falta de sorte nossa.

               — Está dentro dessas caixas. — Elena indicou, apontando para cima do guarda-roupa.

              O quarto estava iluminado pela luz do luar que provinha da janela. As paredes pintadas novamente de azuis, mas que dessa vez não apenas se desbotavam, mas escureciam, clareavam e me lembravam das estações do ano. Peguei a caixa e a coloquei na cama.

              — É esta? — ela assentiu e riu para si mesma.

              — O que foi?

              — Acho que estou começando a caducar, como diz a minha avó.

              — Por que? — seu sorriso brilhou no escuro, até seus olhos cintilaram ainda mais enquanto ela demonstrava que tinha trazido a bandeja de tapiocas consigo para o quarto. Meu rosto se manteve numa expressão parecida com a de um meio sorriso, porém totalmente desajeitado. O fato de Elena possuir uma expressão tão sincero era contagiante e algo dentro de mim desejava retribuir, mas apenas ostentei uma cômica expressão enquanto fitava seu rosto iluminado apenas pela luz do luar.

              — Tem algo errado? — perguntou ela incerta.

              — Não. — garanti.

              — Você não para de encarar as paredes.

              — Gostei delas, foi você quem pintou, não é? — ela assentiu. — Não sou bom com pinturas, eu acho. Você parece bem ligada ao céu. Já pensou em estudar astronomia?

              — Acho que não, não é exatamente o céu, é o fato. — concluiu sem demora e não se deu o trabalho de explicar o que aquilo queria dizer. Deixou suas palavras pairarem no ar, peguei as velas e ela continuou andando como se já tivesse explicado o que queria dizer, como se fosse óbvio. Quando percebeu que eu me dissolvera num silêncio pensativo Elena decidiu explicar — O fato. A beleza de todas as coisas sem uma inspiração inicial. Creio que Deus se inspirou em si mesmo e isso torna ainda mais bonito.

              Deixei suas palavras se assentarem entre nós e me envolvi novamente em uma boa dose se silêncio. Na sala, Abbe e Eliot estavam sentados em um pequeno círculo no tapete em volta da comida.

Um Toque Celeste - RepostandoOnde histórias criam vida. Descubra agora