PRÓLOGO DE A CADA PAGINA UM PASSO

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Sam corria pela casa como nunca. Será que eu era tão hiperativo quando pequeno? Bom, a boa notícia é que logo, logo, estaríamos viajando para a Califórnia. Meu inglês? Horrível. Mas meu coração no lugar certo. Elena ansiara por essa viagem há tempos e eu me mantivera firme até dois dias atrás, quando no meio da noite ela acordou chorando. Talvez seja a gravidez, mas na hora fiquei aterrorizado, seu cabelo bagunçado, sua cara amassada e inúmeros fios de coberta e cabelo colados em seu rosto por conta das lágrimas. Eu deveria achá-la bonita? Talvez, dizem que ficamos cegos de amor, mas a verdade era que ela parecia assustadora, quis rir, só não pude porque era algo realmente sério, ao menos para ela.

— O que foi, amor? — perguntei.

— Não fala comigo. — seu punho fechado foi contra meu braço num soco e depois seus braços se cruzaram.

— Meu Deus! O que eu te fiz? — Elena fungou um pouco e suspirou.

— Você me engravidou e agora eu pareço uma baleia gorda. O.k. Eu amo a June. Mas nesse momento eu te odeio. — fiquei em silêncio por um momento e ela continuou. — Você me engravidou e não cumpre nenhum desejo meu. Como eu posso ser uma boa mãe se você nunca me ouve?

— Mas é claro que eu te ouço.

— Claro que não!

— Amor, você está sendo injusta comigo. Eu sempre ouço você e claro que você é uma ótima mãe. Olha o Samuel. Nosso garotão firme e forte, June também será. — garanti terno esfregando seu ombro, mas ela o chacoalhou e se levantou segurando a barriga.

— Naitan Ross! Quer saber de uma coisa?! Vou comer uma daquelas porcarias que você vive comprando! Melhor a companhia delas do que a sua!

— Está falando das bolachas recheadas? — perguntei incerto.

— Pelo amor, Naitan! Claro que não! Eu estou falando da Califórnia! Ai meu Deus! Você não me entende mesmo! — e saiu do quarto pisando duro.

Aquela foi com certeza a discussão mais estranha que eu já tive. Nada do que Elena falara fizera algum pequeno sentido. Devagar desci as escadas quando já não ouvia mais barulho e encontrei Elena deitada no sofá com o pacote de bolachas sobre a barriga.

No dia seguinte descobri que na verdade Elena estivera sonâmbula o tempo todo, mas aterrorizado só de pensar na possibilidade de algum daqueles surtos de novo, agendei logo um voo, com nossas pouquíssimas economias. Mas o que eu poderia fazer? Era por um bem maior.

Bom, naquela manhã mesmo recebi um telefonema de meu pai. Ele disse que antes de irmos queria me enviar algo que achara no meio de suas quinquilharias, mas que era muito valioso. No dia seguinte o correio me entregou um diário antigo de meus bisavós paternos.

O que eu não sabia é que meu pai fora criado durante um bom pedaço de sua infância por eles, isso porque meus avós morreram de uma doença que se espalhou, deixando meu pai órfão. Assim, aquele diário era sobre eles, meus bisavós. Já fazia um tempo que eu sentia curiosidade de saber sobre o restante da minha família e enfim a resposta estava em minhas mãos. De acordo com meu pai aquelas palavras contariam mais do que ele mesmo poderia contar.

Foi então que depois de ler muitas páginas cheguei a mesma conclusão que Elena, havia mais alguém que devia lê-las e esse alguém era Lana. 

Um Toque Celeste - RepostandoOnde histórias criam vida. Descubra agora