Capítulo 2.

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Ao chegar em Pandora, respirei fundo e comecei a caminhar até o alojamento, ao entrar, olhei para o lado e estava o Hunter, a Atena e o Perseu sentados em volta da mesa. A Atena chorava e eles dois estavam com os olhos vermelhos, que indicavam que também haviam chorado. Os olhei e falei:

— Olá...

Eles me olharam assustados, o Hunter correu em minha direção e me abraçou tão forte que acho que se eu fosse de porcelana eu teria quebrado. Eu o olhei e falei:

— O que houve?

Ele me olhou e falou:

— Você ainda não sabe?

O olhei e falei:

— Não sei o que? O que está acontecendo?

Ele me olhou e falou:

— Vá até a casa da sua mãe, ela dará as respostas.

Eu o olhava sem entender, deixei a mochila na cadeira e comecei a caminhar pela área de treinamento para ir até a casa dos meus pais. Bati na porta e ouvi uma voz trêmula falando:

— Entre.

Ao entrar, dei de cara com a Hera, ela me olhava enquanto suas lágrimas escorriam pelo rosto. Eu a abracei forte e falei:

— O que houve?

Ela sussurrou baixinho com a voz tremula em meu ouvido:

— Seu pai foi assassinado.

Eu a soltei, a olhei nos olhos sentindo as lágrimas acumuladas quererem escorrer e falei:

— Como assim? Ele está morto? Não, isso é mentira. Me diz que é mentira, por favor.

Ela me olhou, negou com a cabeça e falou:

— Eu sinto muito...

E de tanto sentir muito, acabei não sentindo mais nada. Por isso me tornei frio, morri por falência múltipla de sentimentos. Eu coloquei as mãos no rosto pedindo para que tudo aquilo fosse um pesadelo, para que aquelas dores não físicas acabassem. Respirei fundo e falei:

— Onde ele está?

Ela me olhou e falou:

— Ele está na enfermaria, sendo preparado para a cerimônia e para o velório.

A olhei e falei:

— Vou lá me despedir dele, não vou participar dessa cerimônia. Para que agradecer e orar para os deuses, se foram eles que tiraram a vida e permitiram a morte do meu pai? Vou indo.

Ela me olhou e falou:

— Filho, espera... deixaram isso aqui próximo ao corpo... Ninguém conseguiu abrir, mas estava endereçada a você.

Peguei o rolinho, tirei o selo, abri o papel, passei os dedos na folha e a seguinte mensagem apareceu:

"Você matou meu pai e eu matei o seu. Estamos quites agora.

Kerion."

Eu respirei fundo e gritei alto:

— Eu vou matar esse desgraçado, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida.

Minha mãe pegou o papel da minha mão, leu e começou a chorar novamente. Saí para a enfermaria, ao chegar na porta, meu pai estava lá, deitado, morto. Eu esperava que ele levantasse e me dissesse que era uma brincadeira de mau gosto, mas não era, era real. Ao me aproximar, olhei para o seu pescoço, que estava todo costurado, como se houvesse sido arrancado do corpo. Não contive algumas lágrimas que escorreram pelo meu rosto, ouvi uma voz feminina falando:

— Eu sinto muito, eu tentei não deixar tão marcado com os pontos, mas é impossível não ficar.

Limpei as lágrimas e quando eu virei, lá estava uma moça, com aparência de 18 ou 19 anos, magra, com pernas grossas e cintura fina, cabelos castanhos claros e longos e olhos pretos, eu nunca havia a visto antes. A olhei e falei:

— Ele teve a cabeça cortada, não é?

Ela abaixou o olhar e falou:

— Sim, tentei fazer parecer que só tinha tido o pescoço cortado, mas não ficou muito bom.

A olhei e falei:

— Se arrumar direito, ninguém vai reparar muito...

Ela se aproximou, pegou minha mão e falou:

— Eu sinto muito por isso, ele era uma ótima pessoa. E fez tanto pela nossa tribo, sempre será lembrado, assim como você.

Tirei minha mão sem ser grosseiro depois de alguns segundos. A olhei e falei:

— Obrigado. Mas, eu não te conheço, quem é você?

Ela deu um sorrisinho tímido, de canto e falou:

— Eu me chamo Aura... cheguei aqui a poucos meses. Eu cuido dos feridos e doentes e ajudo nos jardins nas horas vagas.

A olhei e falei:

— Desculpe pela indelicadeza, Aura.

Ela sorriu e falou:

— Não tem problema, Owen.

Olhei para o lado e havia um cesto de lixo, dentro dele havia uma bandeja de prata, a olhei e falei:

— Por que aquilo está no lixo?

Ela me olhou e falou:

— Digamos que... A cabeça do seu pai estava nela quando o encontramos...

Eu a olhei boquiaberto, peguei a bandeja e falei:

— Irei precisar dela para colocar a do assassino.

Ela me olhou e falou:

— Se precisar de ajuda para encontrá-lo, pode me dizer.

Concordei com a cabeça, a olhei e falei:

— Me dá um remédio para que eu durma até amanhã... estou com uma dor de cabeça dos infernos.

Mesmo sabendo que eu não sentia dores ela foi até o armário de medicamentos, pegou dois comprimidos, um pouco de água e falou:

— Tome, amanhã você acordará melhor.

E piscou o olho, tomei o remédio e a água, a olhei e falei:

— Obrigado, Aura.

Saí da enfermaria, fui para o alojamento, peguei minha mochila na cadeira, abri o quarto e ao entrar, senti o cheiro da Vênus. Me arrepiei inteiro, mordi o lábio, suspirei e respirei fundo. O Falco entrou voando e eu fechei a porta. Coloquei a bandeja em cima da mesinha, deitei na cama e adormeci.


Meu pé de cerejeira branca - Livro II.Onde histórias criam vida. Descubra agora