A Dama Oculta - 1.

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   O tempo voltou a passar como o de costume, ninguem ousava perguntar ou questionar o que aconteceu antes ali, era como se todos simplesmente tivessem aceitado que muitos anjos não estavam mais ali,que haviam sido engolidos por uma luz forte e brilhante. Natanáel continuava a se questionar em segredo e em silencio, ele não se concentrava direito, precisava entender o que acontecia, seus irmãos não estavam em lugar algum e ninguem se preocupava em procura-los.  Suas asas aos poucos voltavam ao que era antes, conforme as visitas as virtudes, suas asas se mostravam mais fortes e prontas para um bom voo. Não demorou muito para que isso de fato acontecesse, Natanáel logo estava voando como sempre e tratou logo de retornar para suas tarefas.

   Precisava cuidar da biblioteca, ajudar a organizar a bagunça de seus jovens querubins curiosos e atrapalhados, aquilo mantinha sua cabeça ocupada e livre dos pensamentos complicados, era a deliciosa cura para um anjo que parecia quase corrompido. Cumpria tudo sem questionar, ele deu um jeito de reorganizar seu piloto automático de forma que pudesse continuar não se importando, criou mantras e frases de conforto para dizer a si mesmo que anjos não tem o que temer. Tudo estava prestes a se organizar.

   Tudo parecia estranhamente normal, com o tempo ele voltou as suas aulas para os querubins, voltou para seus livros e suas magias, dia após dia era assim, ele só precisava continuar seguindo seu piloto automático enquanto flutuava pelos lugares, seus irmãos anjos pareciam congelados por dentro, não se desviavam de seus caminhos e nem de seus propositos, ele era o unico perturbado ali dentro daquela situação, em cada treino dele ele ainda continuava a se preparar para a segunda parte daquele caos todos, caos esse que aos poucos ia sumindo de suas memorias, ele se preocupava e sentia algo estranho em seu peito, o que estava acontecendo ali?

   _Está me ouvindo?_ A voz de Rafael ecoou em sua mente e ele se virou oara tras olhando o irmão e concordando rapidamente _...Certo. Nosso pai te aguarda então.

   Não sabia o que o irmão havia lhe contado mas continuou mesmo assim, ambos se dirigiam devagar para a sala do trono, caminhavam lentamente por um corredor de vidro e o chão branco, passaram por grandes portas douradas e la estavam de volta no lugar onde parte da confusão de Samael e Miguel havia começado. O anjo loiro entrou sozinho se despedindo com um sorriso, seu irmão recuou e então as portas fecharam. Seu pai se encontrava no trono, sentado com aquele mesmo sorriso calmo e sereno em seu rosto, ele transbordava luz e calmaria e então o anjo se permitiu esquecer a angustia que mais tarde chamaria de paranoia.

   _O caos agora anda pela terra, preciso de seu melhor aluno_ O homem começou a dizer sem rodeios, Natanáel se ajoelhou na frente de seu pai

   _Amado pai, estou aqui pronto para lhe obedecer_ O anjo obediente se colocou diante do pai de forma humilde

   _Alguns de meus filhos estão perdidos, o barro do qual os moldei se encontra agora impuro, preciso que recomece o lugar_ A voz serena agora parecia um pouco mais seria

  _Teu desejo é minha finalidade. Mas meu pai, todos ali estão condenados?_ O anjo parecia desacreditado naquilo

   _Receio que sim...Porém, existe um homem e sua familia que sempre se mostraram obedientes_ O homem começou e então se levantou do trono _Ide e vais encontra-lo, saberás se ele é ou não um trigo no meio de tanto joio_ O homem sorriu e então saiu andando

   Sempre tão misterioso e enigmático, mas ao mesmo tempo seu amado pai era tão carinhoso e piedoso, Nath sabia exatamente a situação em que essa cidade se encontrava, as pessoas estavam inteiramente desviadas de seus caminhos e de seus propositos, era triste o quanto eles estavam perdidos, aquela nobre e pura raça moldada delicadamente de forma semelhante porém única, dava pena só de imaginar. Depois de alguns segundos o anjo loiro se levantou, sabia exatamente o anjo que poderia lhe acompanhar, um de seus melhores e mais dedicados pupilos, ainda era um pouco atrapalhada mas ainda sim a pequena se dedicava.

   De acordo com as instruções que lhe foram repassadas pelas Virtudes que lhe ajudavam a se fortalecer para estar no mundo daqueles que se chamavam de humanos, ele soube que deveria ir diretamente para o centro da cidade. Enquanto caminhava para fora do castelo pediu para um anjo perto de si encontrar Luna, enquanto isso ele terminava de se organizar, la no outro plano eles se passariam por dois viajantes, vindos de muito longe pelo deserto e que passariam a noite pelas ruas mesmo, iriam olhar toda a situação e por fim iriam colocar um fim em tudo aquilo.

   Rapidamente Luna apareceu, já se dizia pronta para sua primeira missão, Nath era um missionário, na verdade um dos melhores que por la existiam, geralmente ele ajudava mais no céu, seu maior receio era que ele tivesse sido chamado para resolver algo mais serio do que poderia imaginar...Seu pai dificilmente o convocava. Mas de qualquer forma, ele não iria decepcionar, cumpriria seu trabalho com êxito e perfeição.

   _Boa sorte_ Desejou Rafael de forma sorridente para os irmãos e então se afastou.

   _Não precisa se assustar, ir até esse outro plano não é algo doloroso ou de outro mundo_ Evandro que passava ali perto disse rindo de Luna que tinha uma cara de assustada enquanto Natanáel terminava de ajeitar as coisas para sua partida

   _Não estou assustada, apenas ansiosa para essa primeira vez_ O pequeno anjo desastrado riu e então segurou a mão de Nath

   _Voltamos em breve, espero que seja uma tarefa simples de realizar_ Disse Natanáel serio e então foi guiando a irmã para longe de la

   No céu não e como se existisse uma divisória exata e perfeita de uma porta para separar o mundo dos humanos do mundo abençoado pelos anjos, porém, existem nesse lar celeste, sete montanhas que separam em grupos as moradas dos anjos, em seis deles se dividem todos, com lugares bonitos para treinamentos, magias e também um lugar para o castelo de vidro. Já na ultima montanha fica um lugar para meditação e bem no topo dela existe uma árvore, semelhante a uma macieira mas que produz frutos de ouro puro, a casca dessa árvore no entanto é oca e bem no centro existe uma fenda que de tempos em tenpos acaba brilhando e por ela alguns anjos dizem que já quase conseguiram espiar o outro lado, quase conseguiram dizer com exatidão, o que acontecia no mundo dos homens, mas talvez isso seja apenas a imaginação de jovens querubins, pois a verdade é que dificilmente tal fenda brilhava, exceto naquele dia que era um momento especial, aquele dia marcaria para sempre o inicio de tempos realmente difíceis.

AzazelOnde histórias criam vida. Descubra agora