O Retorno de Natanael

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O anjo chorava compulsivamente, fazia de suas lágrimas e de seus gemidos dolorosos um grandioso réquiem aos mortos, deixando seu corpo desfalecer na areia já que nem mesmo ele era capaz de salvar sua prórpia existencia do medo das facetas da morte. Seu coração humano batia e acelerava, gritando pelo fim daquela enorme agonia, sua mente retumbava em resposta aos gritos de Maya que ainda ecoavam em sua cabeça com força e ódio, sua mente implorava para que ele se levantasse, mas seu coração despedaçado se rendia a dor de perder sua amada cuja vida escapara entre o fogo tal como areia se esvai entre os dedos da mão que a aperta.

    _Ah...requiem aeternam (repouso eterno)_ A voz dele saia quase que como um arfar desesperado de dor e lágrimas por seu amor levado embora

A voz do anjo dizia baixinho, clamando pelo fim de sua existencia na esperança de que seu pai o ouvisse dessa vez, na esperança de ter sua amada nos braços outra vez, de ver seu sorriso brilhando como a luz da alvorada, ver seus olhos cintilando feito o mais belo rio que descia de forma valente para o desaguar no imenso mar. O anjo abriu os olhos devagar e viu que a luz do sol aos poucos ia embora, assim como Maya havia ido também. Seu corpo dolorido se deixava cair aos poucos, se entregando com força ao supiro de dor em seu peito, aos poucos seus olhos iam se fechando com um enorme pesar que ele não sabia de onde vinha, a não ser é claro, de seu coração partido e esmagado. 

Lentamente o anjo sentiu o peso em seu corpo ficar cada vez maior até ele se sentir tão cansado que relaxou os músculos, seu corpo pesado esticado ao chão, o escuro tomando conta de tudo, incluive de seu coração, quando ele finalmente cedeu e deixou seus olho pesarem e se fecharem, seu corpo quase parecia afundar no chão, talvez fosse isso que o anjo desejasse: Ser engolido pela terra de uma vez por todas. Seus olhos cansados de chorar e sua alma humana cansada de lutar, ele implorava mentalmente para tudo isso ser um grande pesadelo, sonhava poder acordar no inicio do dia em que tudo que via era a beleza de Maya se banhando na cachoeira, seu corpo brilhando com a luz do sol que tocava as águas, sua doce voz cantando feito pássaro e aos poucos lhe enchendo de felicidade, inundando seus dias com glória e doçura, seu sorriso ainda presenteava os sonhos do anjo. Aos poucos ele se sentia flutuando no nada, se sentia mergulhado num enorme vazio que não conseguia entender, era como se seu corpo estivesse levitando, sentia seu peso erguido por igual como se ele agora fosse uma leve pluma, seu corpo parecia não resistir a força que o levitava, apenas se entregava e se permitia subir, sem saber ao certo para onde seu corpo humano ia, ele apenas queria que sua alma imortal pudesse sumir de uma vez por todas e dar descanso ao seu peito ferido que ainda batia no ritmo dos gritos de dor e horror de Maya que antes cantava amor para seu coração.

Não sabia dizer por quanto tempo seu corpo e sua mente haviam flutuado, nem mesmo sabia se seu corpo ainda estava ali, pois ele não conseguia se mexer, se perguntava se seus pedidos para desaparecer haviam sido atendidos e ele agora experimentava a tão estimada morte que implorou aos céus, sua mente vagava pelo branco profundo do vazio, que o assustava mais do que lhe dava paz, Natanael tentava a todo custo se mexer e encontrar parte de seu corpo por ai, mas sem sucesso, era como travar uma nova briga com uma força maior do que ele, mas dessa vez, seu corpo mortal estava mais cansado do que nunca. Um aperto surgiu em sua garganta quando ele se lembrou do porquê seu corpo poderia estar mais cansado do que nunca, com força o anjo tentou afastar os gritos de Maya de sua cabeça, tentou afastar a culpa, seu peito agora começava a doer e ele temia ainda estar vivo.

O anjo aos poucos pôde ouvir vozes, sussurros preenchiam o vazio assustador ao seu redor, ele ainda não era capaz de compreender o que era dito e fazia força para se concentrar na origem do burburrinho, na esperança de saber como era estar a deriava da vida, se era possível ouvir o mundo das almas mortais ou se ele nunca poderia fazer a tranquila e acaletadora passagem assim como sua amada devia há muito ter feito. 

AzazelOnde histórias criam vida. Descubra agora