O Castigo

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   Ló voltou para casa com um olhar triste e preocupado, os futuros genros não acreditaram em sua palavra, acharam que ele estava bêbado ou apenas zombava atoa e então apenas riram dele, Ló tentou de todas as formas possíveis mas eles não quiseram sair e então o homem desistiu e voltou para casa. Contou o que aconteceu para a esposa e esta o tranquilizou dizendo que tudo se ajeitaria e que suas meninas eram novas, elas achariam bons rapazes no novo lugar em que construiriam sua casa.

   Depois da visita inesperada dos homens, Deus havia falado com Lucas e lhe dito para retirar a família de lá, disse que a hora se aproximava e então ao perceber que logo logo o sol iria se levantar, Lucas se pôs a apressar Ló e a família para arrumar todas as coisas que precisariam e partirem. Abe os ajudou e Lucas, preocupado, olhava várias vezes para o céu, verificando se ainda estava em tempo de tirar todos dali, temia que eles acabassem vendo algo da destruição. Viu que eles demoravam e então quando tudo pareceu minimamente pronto, Abe tomou Ló e Sara pela mão e assim Lucas fez com as filhas do casal puxando-os para fora, era preciso ir logo.

   _Rápido, para que vocês não pereçam no castigo da cidade_ Disse Abe preocupado e então eles se apressaram

   _Já vai amanhecer, vocês devem fugir para aquele monte e se salvarem_ Disse Lucas e então os puxou outra vez tentando faze-los correr

   _Mas meus senhores, aquele lugar é longe, perigoso o mal nos apanhar antes de chegarmos la!_ Disse Ló preocupado e então Lucas suspirou tentando pensar em algo rapidamente  _Ali perto antes da montanha tem uma cidade bem pequena, permita que eu e minha família fiquemos la!

   _Ló..._ O anjo olhou o céu e então suspirou, sentiu a presença de Deus lhe dizer algo e então franziu o cenho dizendo _Está bem, o Senhor atenderá teu pedido, aquela cidade não irá perecer no castigo. Apressa-te, escapa-te para lá, pois nada poderei fazer enquanto não tiveres ali chegado_ Disse o anjo preocupado e Ló sorriu segurando a mão da esposa com firmeza lhe passando coragem para começarem a correr

   _Por favor não se detenham até terem saído dessa planície e encontrado a cidade e NÃO olhem para trás_ Disse Abe com um olhar preocupado soltando a mão dos dois.

   _Maya_ Lucas segurou o rosto da garota em suas mãos, ela estava assustada e quase chorava _Confia no teu Deus, não pare de correr até pisarem na cidade, não olhe para trás até poder tocar a primeira pedra dentro daquela cidade!_ Ele disse sério e a garota assentiu rápido e assustada apenas concordando

   _Mas e vocês? Vão ficar aqui? Venham também e se salvem!_ Ela dizia preocupada e um tanto desesperada

   _Ficaremos bem, agora vá!_ Ele a soltou e então ela começou a andar, mas logo voltou e segurou com força a mão do anjo

   _Poderei te ver de novo?!_ Seus olhos se encheram de lágrima, houve um grande trovão no céu e o anjo a beijou na testa de forma delicada lhe deixando uma luz de calmaria dentro si para que ela pudesse seguir seu caminho sem medo

   _Vá Maya, vá!_ Ela começou a chorar e finalmente obedeceu, saiu correndo e logo acompanhou o passo da família que fugia para fora dali.

   Os dois anjos se olharam e então foram para a praça, para o inicio de tudo aquilo, as pessoas ainda não haviam percebido o caos maior, tudo o que se ouvia era sobre pessoas furiosas com os forasteiros, os dois anjos começaram a cumprir sua ordem, retiraram seus mantos grandes e deixando reluzir roupas brancas e finas ao corpo, não era possível ver asas, apenas um grande clarão branco emanando deles, o tempo imediatamente fechou e os dois anjos já podiam ouvir as pessoas gritando pela chuva que viria. Os trovões gritavam suas pragas mas os humanos nada entendiam, eles amaldiçoavam aquela terra e tudo que nela estivesse, dizia os castigos pelos atos podres e cruéis dos mortais, os condenando em nome da glória eterna.

   A chuva que caia era ácida, enxofre puro pingando do céu numa coloração vermelha e densa feito sangue, todos corriam apavorados, sentiam a pele queimar e procuravam abrigo num completo tormento em suas mentes tentando imaginar o que acontecia no céu para de uma hora a outra ele ter sido machucado e então machucar aqueles abaixo dele. Foi então que começou a chover fogo, várias e várias bolas de fogo desciam rápidas e certeiras atingindo casas, tendas e qualquer pessoa em seu caminho, causando dor e estrago por todo lugar, antes que alguém pensasse em sair correndo para a fora da cidade, os anjos juntaram as palmas das mãos e as afastaram lentamente cobrindo aquela terra com uma grande barreira invisível fazendo assim com que a destruição fosse apenas ali. Gritos e correria, sangue dos céus e dos pecadores, homens e mulheres gritavam e se escondiam mas o fogo atingia todos, lentamente consumindo as pessoas, labaredas laranja e vermelhas consumiam tudo em sua frente como uma grande avalanche, era quase como se enormes mãos e uma boca literalmente dessem fim ao lugar o engolindo e o empurrando goela abaixo para uma boca que queimava e transformava em pó, um pó tão fino que aos poucos se misturava com a areia e logo deixava de existir aos olhos humanos.

   Enquanto tudo ainda começava, Sara, a esposa de Ló, continuava seguindo junto da família até ouvir um barulho forte como o de uma explosão, aquilo não só assustou a mulher como também aguçou sua curiosidade, em um súbito de descuido ela olhou para trás desobedecendo assim o comando do anjo, imediatamente seu corpo se tornou todo sal, uma grande estatua de sal. A família ouviu seu ultimo suspirar solto em um estranho gemido de desespero, mas continuaram a correr e só pararam quando por fim chegaram a pequena cidade vizinha.

   A cidade de fogo queimava e seu fogo parecia impossível de ser apagado, nem mesmo todos os anjos do céu juntos, poderiam conter o castigo divino, já não se ouvia mais grito, ao longe o lugar onde acontecia a destruição era visto apenas como uma grande nuvem de fumaça grande como a de uma fornalha. Os dois anjos sentiam em seu peito que a vontade do Senhor estava finalmente feita, eles nada falaram, apenas voltaram a caminhar se misturando ao fogo que aos poucos ganhava uma cor azul e assim, tudo que um dia existiu ali era engolido pela terra como se nunca tivesse existido e assim toda a areia do chão parecia tão lisa e pura que nem mesmo um pedaço de uma roupa ou de um corpo, ficaria ali para contar a história da triste cidade afundada em pecado.

   E como num grande piscar de olhos, quase como adormecer, logo os anjos haviam sido levados de volta, ao abrir os olhos tudo estava com antes, o céu, seu reino, estava completamente em paz e igual, mas os dois anjos que voltaram porém, estavam mudados, Luna aprendeu uma lição valiosa e estava cada vez mais perto de se tornar um anjo tão importante e obediente como seu mentor, já Natanáel...Este havia sido afetado com mais força, pensava em tudo e pensava no mundo, sua mente estava revirada, mas antes de ele se dar o luxo de dizer qualquer coisa a respeito, apenas agradeceu a ajuda de Luna e se retirou sem dizer mais nada, sozinho em seus pensamentos ele estava mais perdido do que um pássaro em seu primeiro voo, em seu interior ele ainda possuía a audácia de perguntar se o castigo havia sido para os homens ou para ele mesmo...

   Em sua mente ele ainda se atrevia a pensar no suspiro da terra ao engolir toda uma cidade, com homens em carne e sangue, se perguntava o que acontecera com tantas almas ali perdidas e até mesmo tentava imaginar se poderia retornar a ver Maya, a garota de olhos assustados e lábios trêmulos, dos quatro ali ela era a unica que realmente havia lhe intrigado, algo que o anjo não podia explicar mas que o motivou a procurar seus aposentos para poder estudar, tinha novas anotações sobre os humanos e estava cheio de energia para atualiza-las.

AzazelOnde histórias criam vida. Descubra agora