Sombras

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   Talvez aquele fosse seu ultimo suspiro perdido, Natanaél se perdia em pensamentos, sentia uma leve dor na barriga que o desalinhava com as energias do restante do corpo. Aquela hora seus anjos descansavam, era a hora da retirada, a mais calma no céu, para isso o anjo se aproveitou para uma caminhada. 

   Natanaél estava ciente que sua passagem não era certa e que provavelmente o Senhor já sabia de sua partida, mas o importante era que nenhum dos outros anjos soubessem. O loiro repetia para si mesmo várias vezes que ele apenas iria olhar a menina e então voltar, coisa rápida e despercebida. O anjo subiu para a montanha de suas meditações, aquela cuja arvore especial possuía uma fenda, ele esperava que agora em tempos difíceis talvez ali o Senhor lhe permitisse ter um pequeno vislumbre do mundo humano, o anjo ainda tinha as asas machucada e uma delas quebrada, o que o obrigava a ter que caminhar de forma tranquila e fingir que estava apenas dando um passeio no fim do dia para esticar suas pernas. 

   Aos poucos o homem chegou até a árvore, seus frutos cor de outro brilhavam de um jeito deslumbrante e encantador e como ele havia previsto, a tal fenda no tronco da árvore também estava brilhando, o anjo sorriu de canto e se aproximou, mentalizava em seu coração o rosto da jovem que havia visto em sua última missão, a fenda aos poucos dava espaço para uma luz branca mais fraca, o homem se ajoelhou olhando por esta e pôde ver todo o caminho que a jovem havia percorrido depois de chegarem na pequena cidade, ela e a irmã haviam seguido caminhos mais difíceis e tortuosos, mas os de Maya machucavam algo no peito do anjo, ele suspirou pesadamente e afastou o olhar.

  _Por favor, me mostre onde encontra-la_Ele pediu baixinho e então voltou a encarar a fenda

  A árvore quase parecia responder e então se abriu ainda mais, ele viu a garota andando sozinha pela noite, um vento forte quase parecia a arrastar, Natanaél sentia o peito cada vez mais apertado e esticou as mãos para tentar toca-lá, sua vontade de ver ela era tão grande que aos poucos o anjo sentiu sua mão queimar e atravessar a fenda, a luz voltava a se tornar dourada e agora parecia engolir o anjo devagar, ela esquentava e o anjo mentalizava a garota, desejava tanto estar la e resgata-lá que aos poucos seu corpo foi passando e quando anjo voltou a abrir os olhos ele já estava em um lugar frio e escuro, a chuva forte caia sem piedade.

   Natanaél se levantou de onde estava ajoelhado e começou a caminhar, um pouco a frente viu que Maya vinha em sua direção, ela mantinha a cabeça baixa e o homem pensou em cada palavra que precisa dizer para a garota, foi então que ele viu dois homens se aproximarem dela, a menina não havia percebido, talvez o barulho da chuva forte a impedia de ouvir os passos cada vez mais próximos de si. Algo despertou no anjo, como um alerta, ele foi tomado por um súbito desespero e um imenso desejo de simplesmente a tirar dali, ele não podia ouvir os pensamentos dos homens mas de certa forma imaginava algo ruim, algo nele lhe mandou correr, Maya o viu e se assustou, com medo demais para saber que era ele a garota apenas entrou a direita em um beco ali mesmo e fugiu, o homem tentado a ir atrás dos outros dois que pararam assustados mas por fim algo em seu peito lhe dizia desesperadamente para correr atrás da menina. 

   Tomado pelo calor amável em seu peito o anjo já não sabia mais o que estava fazendo, a menina corria embaixo da chuva, atravessava obstáculos difíceis na esperança de se livrar do anjo e ele se perguntava porquê ela fazer isso, anos atrás ele havia sido identificado com tanta facilidade pelo pai dela mas agora ela fugia dele, não entendia isso.

      _Maya!!_Ele gritou desesperado, parou de correr e viu que ela havia feito o mesmo, o homem caiu de joelhos sentindo uma dor forte nas costas que quase o impedia de respirar, ele olhou as próprias mãos e as manchas vermelhas de antes já não pareciam mais manchas de tintas e sim que ele havia pintado propositalmente

AzazelOnde histórias criam vida. Descubra agora