Sam, o Anjo.

155 36 40
                                    

Foi uma conversa incrível dentro do ônibus. O Yuki até que é um garoto legal. Descemos na mesma parada e caminhamos a pé por um tempo, passando por algumas esquinas e caminhos, até o Yuki dizer:

— Eu moro nesta casa. — Eu a observei por um tempo para memorizar o local enquanto ele dizia aquelas palavras.

— Sério? — Fiquei bem surpreso pelo fato de estar tão perto.

— Sim, por quê?

— Porque moramos perto — Apontei com o dedo indicador para a casa branca bem ao fim da rua e completei — Ali é onde moro, caso precise de algo só chamar.

— Realmente perto. Já está tarde, é melhor eu entrar senão minha família vai ficar preocupada. Até mais Sam e desculpa por qualquer incômodo — Ele estendeu a mão e depois de um aperto entrou em casa.

Desci o restante do caminho até minha casa e antes de entrar já ouvia a gritaria. Minha família sempre é problemática. Abri o portão respirando fundo já sabendo o que encontraria do outro lado, entrando na maldita casa fantasma.

— Aí está, a ovelha negra da família que acaba de chegar. — Aquela voz rouca era de meu pai e sabia o que iria acontecer enquanto ele segurava o cinto.

Depois de um tempo, minhas costas ardiam como nunca. Após daquela baita surra, apenas me dirigi ao meu quarto subindo as escadas e minha irmã mais velha entrou e disse:

— Você pode falar que era brincadeira irmão. — Seu tom era de desespero.

— Lory, não posso. Minha sexualidade não tem que ser vista dessa forma, se ele quiser me bater sinta-se a vontade. Preciso aguentar só por mais dois anos.

— Você realmente é forte. Obrigada por me defender — Ela me deu um leve beijo na testa e saiu de meu quarto deixando um lanche em cima da mesa com um bilhete. Eu deitei na cama e suspirei:

— Basta mentir... — Nunca faria isso. Minha família nunca aceitaria minha homossexualidade. Para eles somos como monstros que estão designados para ir a qualquer lugar que não seja o céu. E então me pus a dormir pensando na vida.

Achava que estava dormindo sem sonhos até começar a ver a mesma cena novamente, minha irmã se assumindo para a família e meu pai indo para cima dela. Então eu entrava em ação pulando na frente e apanhando por ela se assumindo também. Depois de meu pai me bater ainda queria bater nela, porém eu disse que eu iria apanhar por ela também.

A imagem se desfez e vi o primeiro garoto que um dia eu teria gostado. Daniel era seu nome. Se eu não o tivesse beijado... Aqueles boatos nunca teriam chegado em casa. Tudo se desfez e vi aquele acidente na escola com o Yuki, ele era um garoto legal, será que ele pararia de falar comigo se soubesse que sou gay? Provavelmente sim, melhor deixar quieto e então eu acordei:

- São 05h30min já... Que sonhos foram esses? É melhor eu ir me arrumar para ir à escola.

Levantei-me da cama e lanchei o que minha irmã tinha me colocado para comer ontem lendo o bilhete "meu anjo"; dei um leve sorriso de canto e me pus a banhar. A água quente tocava em meu corpo calmamente e fazia arder cada uma das marcas presentes nas costas. Ao acabar olhei no espelho as feridas e como elas estavam grandes. Minha perna ainda doía, pois quando fui levar o Yuki para a enfermaria acabei caindo, porém o protegendo.

Vesti o uniforme azul da escola e lavei o que tinha usado ontem. Arrumei meu material e coloquei o tênis preto com detalhes vermelhos, me fazendo lembrar do óculos de Yuki. Que droga, por que estou pensando tanto naquele garoto? Sem chance de eu gostar dele, eu o apenas salvei... Um anjo gay? Seria irônico demais para ser real. Tentei aliviar minha mente descendo as escadas e indo à cozinha, pegando algumas barras de cereais e saí correndo de casa trancando a porta. Enquanto comia uma, guardava outras duas na mochila e levava mais uma na mão. Parei de correr e segui caminhando de forma mais calma até chegar à parada e olhar o relógio.

— Sai de casa muito cedo, ainda são 6h... — Antes que eu acabasse de falar vejo que meu ônibus tinha chegado.

Entro no mesmo junto com outras pessoas que estavam nele. Entre as várias pessoas vi o garoto de óculos preto, com um corte na cabeça cujo qual estava tampado com uma gaze e uma fita. Passei do lado dele e acenei, o mesmo virou o olhar e continuou com o fone. Será que ele não tinha me visto? Achava que depois do que fiz pelo menos iríamos nos falar algumas vezes, mas devo estar enganado. Apenas virei de costas e procurei um lugar para se sentar, pois certamente aquela viagem iria ser longa, principalmente pela chuva que estava se aproximando.

Sofrer por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora