Capítulo 1 - Casamento

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Por um bom tempo vivi uma vida em que não me faltava nada e, por isso mesmo, não tinha a menor intenção de fazer qualquer mudança. Mas, aí o amor falou mais alto e eu me vi começando uma vida totalmente nova. Abri mão de uma carreira de sucesso para empreender na fazenda, que passou a ser também a residência da nova e numerosa família que formei com o Sr.B.

Quando interrompi minhas confissões no livro anterior eu estava eufórica. Estava apaixonada pelo meu amor da adolescência, aquele homem com o qual eu partilhava muitas coisas em comum: o sonho de viver na fazenda e dedicar-se à agroindústria sustentável, o interesse pela cultura popular e o trabalho voluntário e outros mais.

O fim do casamento do Sr.B. e a súbita partida de sua ex-esposa para o exterior apressou um processo que inevitavelmente aconteceria. E assim, decidimos assumir publicamente o nosso relacionamento. Eu, por minha vez, decidi que seria fiel ao meu amor.

Naquele tempo eu parecia uma mocinha às vésperas do casamento, com o coração na mão e cheia de expectativas. Eu já havia me casado uma vez, mas, a emoção que sentia agora era muito mais intensa. Não tivemos dúvidas, marcamos logo a cerimônia (que aconteceria na fazenda) e passamos a distribuir os convites. Convidamos todos os nossos amigos, muitos conhecidos, pessoas com as quais nos relacionávamos em nossas respectivas profissões, companheiros da igreja, enfim, quase toda a cidade foi convidada.

Queríamos que todos soubessem da nossa felicidade. O nosso desejo era marcar, de forma definitiva, o início daquela nova etapa das nossas vidas. Então, não economizamos nos preparativos para a festa. Obviamente, não foi uma festa de casamento convencional. É claro que teve vestido de noiva, teve o Sr. B. esplêndido em um terno despojado, teve juiz de paz e marcha nupcial. Mas, tanto a cerimônia quanto a festa tiveram as suas particularidades.

Numa manhã ensolarada recebemos centenas de convidados à beira do lago. Cheguei ao local da cerimônia em uma charrete acompanhada de todos os meus filhos, os de sangue e os de coração. Foram eles os responsáveis por me conduzir até o altar onde o Sr. B. me aguardava.

Quaisquer palavras que eu use aqui serão insuficientes para descrever a pessoa do Sr. B. naquela manhã. Compará-lo a um faraó em todo o seu esplendor ou a um imperador romano ou ainda ao astro maior do cinema internacional seria fazer pouco de sua figura.

O meu amor não tem um corpo sarado de academia, não frequenta salão de beleza, nem faz tratamentos estéticos. Mas, os anos de trabalho pesado na roça durante sua juventude resultaram em um corpo definido, que exala testosterona. O físico másculo aliado a uma postura cavalheiresca faz do Sr. B. um príncipe de conto de fadas. Ele é moreno, um pouco mais alto do que eu e observando-o ali no altar à minha espera me lembrei de quando éramos dois adolescentes apaixonados e inseguros.

Naquele tempo parecia que bastava crescermos e eu me formar na faculdade para que nos casássemos e fôssemos felizes para sempre. No entanto, o tempo mostrou que estávamos enganados. Quantas voltas deu o nosso destino! Conhecemos outras pessoas, vivemos outras histórias, mas, agora estávamos ali retomando aquela que era a nossa história. E da melhor forma possível, com nossa família e com os amigos, numa festa que era a nossa cara para comemorar a nossa união.

Além do casamento civil organizamos também uma cerimônia ecumênica, uma bênção a ser ministrada pelo padre da cidade, que era nosso amigo e por um pastor, amigo do padre. Foi tudo muito lindo, mas o que me emocionou mesmo foram os votos lidos pelo Sr. B. Ele fizera questão de escrever o texto que seria lido na cerimônia e que contaria nossa história. Mas, fez um mistério total sobre o conteúdo. Eu havia prometido a mim mesma não derramar uma única lágrima naquele dia, mas, foi impossível não inundar meu rosto ao ouvir palavras como essas:

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