Capítulo 4

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Entramos no restaurante japonês e o empregado conduz-nos a uma mesa, entrega-nos a ementa mas nós pedimos logo rodízio de sushi.

- Então com isto tudo ainda nem sei o teu nome... - ela diz.
- Petra mas podes-me tratar por Pet.

Ela acena com a cabeça.

O empregado aproxima-se e traz as bebidas.
O meu telemóvel toca entretanto, é outra vez a minha mãe, se há coisa que não quero fazer agora é ter que ouvir a minha mãe...

- Podes atender – ela exclama num tom preocupado.
- Não deixa estar eu falo depois – respondo guardando o telemóvel no bolso - Então que queres desabafar?
Ela dá um sorriso esforçado, e rapidamente tristeza volta ao seu rosto.
- Bem... Eu me chamo Luna, tenho 18 anos e... - Ela levanta o olhar para mim que a encaro séria, quando volta a falar a sua voz é mais firme e segura - Tenho um filho de 8 meses, o pai é aquele estúpido do metro - ela faz um gesto com a mão e enfatiza com ironia quando menciona o seu namorado- Nós estamos juntos há quase 1 ano e meio e por acidente eu engravidei quando ainda nem tínhamos 8 meses de namoro.
Eu me encosto na cadeira, não estava nada à espera daquilo...
- O Nuno, ele é muito impulsivo, tem seus defeitos mas sempre cuidou de mim e do bebé. Os meus pais nunca gostaram dele e no momento que souberam que eu estava grávida me expulsaram de casa - Ela suspirou intensamente, parece que lhe custa falar sobre o assunto - Desde então eu vivo na casa da minha sogra com o Nuno, eu fico a cuidar do bebé o dia todo e ele trabalha para nos sustentar. Eu sei que ele não devia falar assim comigo, mas talvez eu mereça...
- O quê!? - Eu interrompo abruptamente! - Não! Nenhuma mulher deve ser mal tratada e muito menos por um homem!
- Mas ele é o pai do meu filho, que posso eu fazer?

Fico a olhá-la, tento arranjar uma solução mas não me ocorre nada. O empregado chega e serve os pedidos. Agradecemos e ele vai embora.
- Ouve eu sei que é dificíl, mas não podes permitir que ele te faça mal, quer fisicamente quer psicologicamente - Digo segurando a sua mão.
- Ele nunca me bateu! - Ela responde.
- Não foi isso que eu disse, mas tens consciência que o que se passou no metro não foi bonito?
Luna volta a baixar a cabeça e por momentos o seu rosto fica escondido no seu cabelo loiro.
- Miúda, hoje arranjas-te uma nova amiga, podes contar comigo sim? - Digo apertando a sua mão, ela retribui e aperta também, ainda com mais força a minha. Volta a levantar o seu lindo rosto de sardas e sorri.
- Obrigada mais um vez - ela agradece, o seu olhar azulado é tão intenso, que por um momento fico envergonhada.
- Então Pet (ela profere a palavra Pet muito afincadamente e olha-me divertida) fala-me de ti – diz apoiando os cotovelos na mesa e sustendo o rosto nas mãos como uma menina de 6 anos.
- Bem não tenho muito de extraordinário a dizer... Tenho 22 anos, vivo com a minha melhor amiga e um estudante de erasmus, tenho uma loja de roupa com o meu melhor amigo de faculdade...
- Ena, a sério? Mas são vocês que fazem? - ela interrompe entusiasmada.
- Sim, somos ambos designers e como quando acabámos o curso não conseguíamos emprego decidimos criar o nosso negócio.
- Wow isso parece super fixe, criam a vossa própria marca e ver pessoas na rua com algo criado por vocês deve ser...
- Sim é super gratificante, dá aquele orgulho, vontade de gritar "Isso é meu!" E tem outras vantagens, eu sou a minha própria patroa, não tenho que arranjar desculpas ou problemas...
- E são só vocês os dois?
- Sim nós somos quem criamos, mas estamos um pouco com falta de malta... tínhamos uma rapariga como empregada mas emigrou...
(Ana uma rapariga bela e saudável que tanto me divertia na sala de produção...)

- Hum e têm muita aderência? - Ela pergunta, parece estar mesmo interessada, não vejo o porquê...
- Sim principalmente por parte de turistas.
- Parece ser fixe e assim fazes o que gostas – exclama – Eu fui para artes mas... acho que em Portugal é muito difícil fazer-se o quer que seja nessa área, estava a pensar ir para a Áustria, mas com a gravidez fui obrigada a deixar de lado os estudos.
- Hum ... - tento dizer enquanto meto um rolo de sushi na boca.
Ela olha para mim, para o garfo que tenho na mão e ri-se.
- Minha menina se queres almoçar comigo sushi vai ter que ser com pauzinhos!
- Ah não – eu faço uma cara triste e beiço, ela ri.
- É fácil eu ensino.
Levamos uns minutos a tentar, alguma comida cai sempre que tento levar à boca e rimos desmarcadamente.
- Olha – ela levanta-se e vem para trás de mim – Assim vês – pega na minha mão e com a sua faz da minha marioneta, manobra os meus dedos de modo a conseguir pegar direito e finalmente consigo comer sem deixar cair nada. Festejamos como se tivesse sido golo num jogo de futebol importante.
- Boa! – Chocamos as mãos.
A conversa volta a fluir, falamos sobre o pequeno Mateus, o seu filho, sobre as dificuldades, sobre a sua sogra ser uma bruxa e antipática.
Fico a pensar... hum... Pet pet pet sempre uma cabeça pensadora... Após alguns segundos uma ideia surge.

- Então mas isso resolve-se vens trabalhar para a minha loja! – Exclamo entusiasmada.
Ela quase que se engasga com a comida.
- O quê! Mas eu... - está atrapalhada, espantada com a minha oferta.
- Nada de desculpas nós estamos a necessitar de alguém para a loja e tu precisas por isso junta-se o útil ao agradável...

Ela sorri.
- Obrigada, nem acredito nisto!
- Sabes trabalhar com alguma plataforma de imagem?
- Sim dou uns toques mas nada de mais... O meu forte é pintura de tela não computorizada.
Eu sorrio.
- Bem-vinda Luna! – Exclamo divertida.
- Obrigada patroa Petra!- Ela responde divertida.
- Pet! – Corrijo. Não é que não goste do meu nome, mas é aquela alcunha que todo o mundo me conhece.
Boa vou ter uma gatinha a trabalhar comigo, melhor para mim.

Acabamos de comer, pago a conta e saímos do restaurante.

- Bem eu vou andando, não te empato mais – digo.

- Não digas isso, eu amei a tua companhia - Ela diz sorrindo. Bem assim já gosto de ver, o seu sorriso é lindo, os seus dentes são perfeitos, brancos e alinhados... Magnetizantes.

Eu sorrio e pego no telemóvel.
- Podes dar-me o teu número? – ela olha-me - Por causa do trabalho claro – Completo e ela sorri ainda mais.
- Claro, dá-me também o teu – diz pegando igualmente no seu telemóvel.

Trocamos de número. Escrevo "Gatinha Luna" como nome do contacto, sim está bem atribuído.
- Bem então depois falamos? – Pergunto.
- Sim claro – damos 2 beijos na face para despedir, porém de seguida ficamos paradas a olhar uma para a outra.
Ela ri de um modo nervoso.
- Então eu vou - Digo começando a me afastar - Dá os meus cumprimentos ao teu homem e diz lhe se não se comportar que vai se haver comigo.
Ela revira os olhos mas depois sorri.
- Sim sim... Vai lá, obrigada mais uma vez.
- Não tens de quê miúda - Aceno e caminho com as mãos nos bolsos do casaco, virando costas.

- Também gostei de te conhecer!– ela diz alto para poder alcançar a distância que vou, continua parada no mesmo sítio. Eu não volto a responder apenas sigo caminho apesar de ter ouvido. Eu também gatinha, eu também.


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Apenas ela, só ela...Onde histórias criam vida. Descubra agora