Capítulo 2

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Ahhhh!
Que dor de cabeça. Está demasiada luz, esfrego os olhos e tento abrir. Ahh que dor de cabeça horrível! Quando finalmente os consigo abrir o suficiente, mal consigo ver com a quantidade de claridade do espaço. Vamos lá Pet tu consegues, tento abrir novamente, protegendo os olhos com a mão. Ok... Não sei onde estou... Não reconheço o quarto. Estou deitada numa cama no chão, levanto o lençol... e nua... e... Algo faz um barulhinho, como que um suspiro. Olho para o lado, está uma rapariga deitada a meu lado, também ela nua... Olho à minha volta e tudo está de pernas para o ar, há roupa espalhada por todo o lado, um vestido rosa no móvel, minhas calças no chão, até no candeeiro do tecto estão umas cuecas... Bem a noite passada deve ter sido divertida. Volto a olhar para a rapariga, como era o seu nome? D... D qualquer coisa... Diana? Acho que sim.
Levanto-me devagar, dou um tombo para a frente, ups parece que estou um pouquinho tonta.
Reparo que junto da cama estão dois copos e uma garrafa de vinho caídos no chão. Provavelmente é daquilo que estou assim. Bem como diz o ditado, noites alegres, manhãs tristes. Tento retirar o lençol da cama para me tapar. Depois de coberta, abro a porta do quarto e espreito para fora, a casa aparenta estar vazia. Tento ouvir algum barulho mas parece que somos só nós. Avanço e noto que a casa de banho é no fundo do corredor, vou até lá, mas quando abro a porta sai um gato disparado a correr, eu assusto-me! Puta merda eu odeio gatos! Não só tenho alergia como um trauma de infância. Bem, não medo mas digamos que não confio nesses animais peludos e traiçoeiros. Devo ter dito algo ontem à noite e a Diana prendeu-o aqui por minha causa.

Quando saio da casa de banho decido investigar um pouco pelo apartamento, gosto da decoração em tons laranja. Na sala vejo um poster de cortiça com várias fotografias. Identifico logo a Diana em várias, ela com um senhor mais velho, suponho que seja o pai, ela com o gato, ela e mais um grupo de raparigas, e ela mais... um rapaz a abraça-la. Hum... Procuro melhor e vejo outra fotografia com o mesmo rapaz desta vez com a paisagem do Big Ben atrás. Interessante.
Dou uma olhada pela sala e vejo mais uma vez numa moldura eles os dois como se fossem um casal. Vou até à cozinha, o estúpido gato branco com manchas pretas está em cima da mesa a me encarar, e reparo que por coincidência estão lá as minhas coisas, telemóvel, carteira, chaves de casa... Pego rápido com medo que o gato faça algo. Ele apenas pestanejou. Não importa com estes bichos peludos nunca se sabe, bebo um copo de água, estava a morrer de sede... Então volto para o quarto.

Ela continua a dormir, agora que observo-a bem, até que é bastante bonita, com um longo cabelo loiro agora solto e ondulado, umas longas pestanas e pele tão branquinha, tem um ar angelical a dormir. Sento-me e pouso as coisas na mesa-de-cabeceira mas faço mais barulho do que esperava.
Ela mexe-se e acorda, espreguiça-se e fica a olhar para mim.
- Desculpa não te queria acordar - digo.
Ela sorri - Bom dia - diz se levantado.
- Bom d... - ela me beija e quando dou por mim está sentada no meu colo. Bem... será que ainda está bêbada? Ou sou eu que ainda estou?

Fico a olha-la, ela simplesmente sorri.
- Dormiste bem? - pergunta metendo uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
Eu aceno que sim.
Ela sorri novamente, então beija-me a testa, o nariz e finalmente os lábios.
Um beijo de cortar a respiração, sinto a sua mão a segurar a minha nuca e ela inclina-se para frente e para trás. Ela está? Não... está? Isto é?... Instintivamente levo as minhas mãos até o seu rabo e apalpo, ela solta um pequeno gemido. Bem... já que insistes.
Pego-lhe ao colo e deito-a sob a cama, o seu olhar não disfarça, beijo-lhe o pescoço, dou umas leves dentadas, ela como resposta arranha as minhas costas. E quando vou começar a descer... Um telemóvel toca...
Olhamos para a mesa-de-cabeceira, é o dela. Ela olha-me constrangida, alcança o telemóvel e eu vejo de relance que é o tal rapaz das fotografias no ecrã. Ela olha para mim com cara de terror.
- Atende - digo me sentando.
Ela também se recompõe, fica uns segundos com o telemóvel a tocar na mão até que prepara a voz e pressiona o botão para atender:
- Estou...
Do outro lado uma voz masculina e bem-disposta responde.
- Então meu amor, estavas a dormir o sono dos deuses? Estou farto de enviar sms.
- Ah desculpa estava a dormir... - responde enquanto me dá um rápido olhar.
- Olha abre-me a porta.
- O quê! - Diana grita exaltada.
- Calma amor, estava aqui perto então decidi fazer uma visita...
- Estás à porta do prédio?
- Sim - ele ri-se - mas estás a dormir ainda ou quê? Vá amor abre a porta.
Desliga.

Diana fica um primeiro segundo a olhar para o telemóvel na sua mão, depois ficamos caladas por mais uns segundos nos olhando.

- Era... era... o... - ela começa.
- O teu namorado? - pergunto irónica.
Ela fica calada, vejo o seu olhar perdido para o telemóvel novamente.
- Meu noivo... - Sussurra. Lágrimas estão a se formar no canto dos seus olhos.
Uiii ainda bem que não sou ela...
A campainha toca freneticamente.
Então ela desperta - Tens que te ir embora! - levanta-se toda atarantada começando a pegar nas roupas espalhadas pelo quarto e metendo em cima da cama, tenta recompor a cama, abre a janela, olha para baixo e como um raio de luz, saí correndo porta fora.

Deve ter caído em si... Que se lembrasse que está noiva antes de me trazer para a sua casa...

Começo a me vestir, ela volta passado uns minutos vestindo um roupão de seda cor de coral. Bem gata por sinal. Fica encostada à porta a me observar.
- Desculpa - diz baixinho.
Eu olho-a, ofereço um sorriso e abano a cabeça.
- Está tudo bem - respondo enquanto acabo de vestir a tshirt.
Ela aproxima-se, noto que tem os olhos quase a irromper de lágrimas.
- Eu... eu devia ter-te dito logo quando me apercebi do teu plano de sedução... mas... não sei... tu...
- Shhhh - eu a abraço - não tem mal, está tudo bem a sério.
Os seus olhos fixam-se nos meus e depois na minha boca.
A campainha volta a tocar.

- Eu tenho que ir - digo.
- Sim - diz afastando-se.
Apanho as minhas coisas da mesa e calço-me num em dois movimentos, avanço para a sala.

O estúpido do gato está no sofá deitado em cima do meu casaco de cabedal, chego lá e tiro não me importando com o bicho, sacudo e visto enquanto a Diana passa para a cozinha com os copos e a garrafa de vinho. Ajeito o meu cabelo no espelho que está no hall de entrada, noto que o retrato do casal volta a estar em cima do móvel que está por baixo do espelho, desta vez não estão sozinhos mas acompanhados por um casal mais velho. Talvez sejam os sogros de Diana? Ao lado da moldura está um maço de cigarros, guardo-o no bolso e avanço até à porta. Mas a Diana vem a correr e agarra-me na mão antes que tivesse a oportunidade de sair.

Ficamos caladas. Do que está ela à espera?
- Adeus Diana - digo avançando e clicando no botão de chamar o elevador.
- Adeus Pet - responde a custo.
Desculpa miúda mas foi só uma noite... e eu não quero andar por aí a destruir lares...
Entro no elevador e clico no botão das portas fecharem mais depressa, não vá ela ter alguma ideia, a porta fecha-se. Suspiro, meto-me em cada uma...

Quando saio vejo o tal rapaz a entrar pela porta do prédio com um ramo de flores e um saco de papel na mão, suponho que seja comida?
- Bom dia - diz simpático ao passar por mim. Eu resumo-me a continuar mas...
- Desculpe! - Digo fazendo o rapaz parar e olhar para trás, olhar para mim - por acaso não tem isqueiro? - Pergunto sacando um cigarro do maço.
Ele procura nos bolsos e acende-mo um pouco intrigado com o maço que tenho na mão.
- Obrigada - exclamo.
- Ora essa - ele sorri simpáticamente - Boa marca - Diz apontando para o maço de cigarros que guardo no bolso.

Eu aceno com a cabeça.

Estamos ambos prestes a seguir caminho quando desta vez é ele que me aborda - Desculpe, posso lhe pedir uma opinião?

- Diga - solto uma nuvem de fumo.

- Acha que a minha noiva vai gostar? - E no fim levanta o ramo mostrando o lindo arranjo de rosas vermelhas.

Eu sorrio, tenho vontade de rir na cara dele, mas contenho-me.
- Acho que uma boa noite de bom sexo ia fazer a sua noiva muito mais feliz - respondo dando meia volta e saindo do prédio. Olho de relance e vejo-o parado a processar o que disse.
Homens sempre tão lentos...


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